quarta-feira, 24 de março de 2004

Amansem o Felipe!!!



A pergunta é de meu amigo especialista em automobilismo Rodrigo Mattar. Felipe errou porque quer ser Felipe Mansell ou porque quer ser Nigel Massa?

O fundo de ironia e perspicácia da pergunta resvala na memória de uma audácia muitas vezes desmedida do Leão inglês, campeão mundial uma única vez em 1992 com um carro tão acertado pela Williams que não tinha como dar errado.

Mansell era um show à parte. Andava muito, mas muito rápido. E, não raro, se excedia. Gostava de ter máquinas velozes nas mãos. Velozes e potentes, nas quais podia depositar quinhões de sua fúria nada britânica. Por isso, se mordeu de raiva quando ficou trocentas voltas atrás de Senna, em 1992, no GP de Mônaco: era mais rápido, mas não podia - ou devia, àquela altura - desrespeitar a lei newtoniana. Assim como um ano antes em Suzuka, quando Senna foi tricampeão e o Leão foi chorar suas mágoas na brita.

Massa rodou quando lutou contra a zebra. Logo ela, que já foi dar o ar da graça no segundo grande prêmio da temporada. Na terra malasiana dos petrodólares, o destempero latino de Massa perdeu para a constância cerebral do finlandês Raikkonen. Massa não queria ser zebra de novo. Por isso, atacou demais uma delas. E, olha ela ali, deu zebra na cabeça!

Raikkonen vence porque guia uma ferrari com esilo "mclariano". Roda bem quando precisa, não faz questão de ser audacioso, mas também o é quando tem de ser. Enfim, faz tudo na conta do chá. E chá lembra Inglaterra. E na Inglaterra, voltamos à McLaren.

Digo isso para lembrar que o mundo da fórmula 1 parece não suportar algumas dicotomias. Só para não retroceder tanto no tempo, há pares que não nasceram para ser: Senna-Williams, Alonso-McLaren e, quem sabe prove o futuro (?), Raikkonen-Ferrari.

Por enquanto, a maré de azar alheia combina com um trabalho honesto dos italianos, que rendem a Raikkonen bons resultados. O problema vai ser quando a equipe do cavalo rampante precisar do gás extra do finlandês. Naquele momento em que ele precisar duelar reta a reta, curva a curva com os McLaren. Isso não esperem de Raikkonen. Basta lembrar que o próprio título do finlandês veio um pouco às custas da benevolência de Massa no GP Brasil, somado à trapalhada monumental de Lewis Hamilton, que deixou seu carro - e títulos - morrerem na curva do Lago.

Por um tempo, Felipe vai continuar sem entender por que leva tanta rasteira do destino, já não querendo ser confundido com outro brasileiro que ficou estigmatizado por não vencer nunca - tremenda injustiça, diga-se de passagem. Massa é justamente o oposto. Anda demais, ataca demais, desafia demais. E, às vezes, passa do ponto. Só que, num regulamento que distribui salomonicamente os pontos entre os oito primeiros, passar do ponto é pecado mortal. Fosse no tempo de Mansell, com um Ferrari acertado, Massa já poderia até ter nos dado a honra de mais um título. Por hora, vai brigar contra seus instintos, tendo à sombra outro alemão, este chamado Sebastian Vettel, que, dizem as más línguas, o sucederá em breve.

A conferir...