Diário de um vexamista
Depois do boquense, do são-paulino e dos atleticanos, acaba de se inaugurar uma nova categoria: os vexamistas!
Acabo de passar por uma pouco comum, ao ter de me conectar na Internet para ver o resultado do jogo de meu time no dia anterior. Logo eu, tão aficcionado por futebol e mais aficcionado ainda pelo Botafogo! Mas sabe que por um lado foi bom?
Pela primeira vez pude ler uma manchete virtual que me contasse 100% do que eu não sabia. Ontem tive um compromisso inadiável e não pude ver o jogo. Cheguei em casa tarde e fui dormir. Ao navegar pela Grande Rede, então, me deparo com a foto do Juninho cabisbaixo e a legenda: "Zagueiro é a imagem da decepção após vexame". Entre as chamadas, uma garante a demissão do técnico Cuca, não aceita pelo dirigente que se diz envergonhado.
De quanto foi a goleada? Qual o saldo do tango mal dançado em Buenos Aires? Quatro a zero? Não, deve ser pouco. De alma sofredora prevenida, pensei em algo como sete, oito a zero.
Que nada, 4 a 2! Eis o "retrato" do vexame inaceitável. Aí pensei que alguma coisa estava errada. Poderia ser a legenda, que tratou uma eliminação natural como uma catástrofe incalculável. Mas ela não deixava de ser solidária à declaração do dirigente. Será que o cego sou eu mesmo? Pode ser, mais deixa ser que este espaço seja o divã virtual (separado e sem o n no final, por favor!).
Quer dizer que perder para uma das duas maiores forças da Argentina ainda por cima NA ARGENTINA por 4 a 2 é um vexame? Tá certo... Imagina que haviam se esquecido do vexame da tenebrosa Hungria em 1938, quando foi arrasada impiedosamente pelas forças de Mussolini por 4 a 2 ou o próprio Brasil de Didi e Nilton Santos, que se curvou de joelhos à hungriazinha de Puskas e Yashin, num vexame incalculável pelo mesmo placar, em 1954. Por falar em argentinos, e para ser mais contemporâneo, o que dizer então da vergonhosa derrota do Vasco para o lanuzinho semana passada por 2 a 0. Com um pouco de vergonha na cara, nem teriam entrado em campo anteontem. Mas vá lá, o regulamento mandava...
Por isso, era obrigação que o Botafogo saísse triunfante com uma vitória incontestável da Argentina. O 1 a 0 no Brasil tinha sido um mero disfarce, afinal a diferença de esquadrões era abissal. Veja que o time alvinegro até deixou ser vencido pelo fraquíssimo Fluminense para dar aquele ar de sansão moribundo...
A desfaçatez foi tamanha que, por 94 dos 95 minutos de jogo, o Botafogo esteve com a vaga na mão, em mais uma demonstração da genuína Raça Gloriosa, demonstrada tão bem no domingo contra aquele Fluminense. Mas levou um gol aos 47 do segundo! Um gol do riverplatezinho na argentinazinha.
Pensando bem, foi um vexame! Perder para um time que tem um cara chamado Ortega... Ortega não, orteguinha. Ou orteguito, como os próprios argentinos gostam de dizer curvando-se à sua vexaminosa inferioridade. Mas vá saber onde estavam com a cabeça os deuses do futebol...
Senão, como explicar as falhas de Max, o paredão alvinegro, Barbosa redivivo sempre a carregar sua cruz pelos erros que não cometeu? Ou a improvável derrocada de uma zaga absoluta. Aliás, alguém se lembra da última vez que essa muralha deixou passar quatro gols de um argentino? (Digo, de um TIME argentino).
Por isso mesmo, me rendo à minha miopia. Os dirigentes desse glorioso e vencedor clube têm razão. Como a FIFA ainda não descobriu o Botafogo para torná-lo sócio-vitalício do Mundial de Clubes e a Conmebol o deixou 11 anos sem uma partida estrangeira oficial?
A culpa é do Cuca, que transformou um time que não ganha quase nada em um time que quase ganha tudo...