sábado, 13 de novembro de 2004

O preço da dignidade

Vinte anos se passaram desde que um acordo de 13 supostos cavalheiros proclamou o Flamengo campeão brasileiro de 87. O tempo exato para que outra equipe igualasse o feito rubro-negro, também conquistasse seu quinto título e transformasse em isopor uma conquista inquestionável até então.

Honestidade e lealdade não são exatamente palavras caras ao mundo do futebol. Não é preciso ir muito longe para se constatar isso. Quando o Brasil perdeu a Copa de 98, se prometeu uma devassa nas contas da CBF, uma caça às bruxas do mundo da bola como nunca se havia visto antes. Pois não foi preciso mais do que um ano para que o surto de moralidade se transformasse em pizza, quando os dirigentes perceberam que o relatório de Aldo Rebelo e Silvio Torres podia acabar sobrando para muita 'gente boa'.

Um ano depois, o Botafogo foi surrado no Morumbi pelo São Paulo - 6 a 1 - e, não satisfeito com o destino que o rebaixaria, arquitetou uma manobra nos porões do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, anulando o resultado daquela partida e garantindo assim sua permanência na primeira divisão. No mesmo ano, o Fluminense assegurava em campo o acesso à Série B, campeonato que o tricolor carioca jamais disputaria, ao ser levado diretamente à divisão de elite do futebol brasileiro.

As histórias de viradas de mesa são incontáveis no único país pentacampeão mundial e deveriam ser suficientes para ensinar às agremiações a não confiarem umas nas outras. Por 20 anos, o Flamengo acreditou que seu título de um campeonato não-oficial, chancelado apenas por eles, clubes, jamais seria posto em xeque. 2007 está aí para provar que os rubro-negros estavam errados.

Na verdade, estavam certos, afinal, mais do que no mundo real, no futebol brasileiro o planeta é dos espertos. Esperteza que garantiu às entidades contratos eficientes com as TVs e patrocinadores no ano de 1987 assim que perceberam o óbvio: poderiam lucrar mais sem a chancela da CBF. Mas, ao contrário do que ocorreria na Inglaterra cinco anos depois, Ricardo Teixeira sabia que os clubes não seriam leais o bastante para se auto-sustentarem. A mentalidade dos dirigentes tupiniquins não suporta perder no curto prazo para ganhar adiante. Por isso, no ano seguinte, todos fingiram que nada havia acontecido e tocaram o Brasileirão com o aval da CBF e o mesmo batismo infeliz: Copa União.

O Flamengo é o boi-de-piranha dessa história toda. Paga a falta de coragem dos 13 clubes mais importantes do país, que não romperam no tempo devido com a entidade controladora do futebol brasileiro. Agora, não adianta chorar a festa alheia. Dissimuladamente - o que em nada surpreende a ética da bola brasilis -, o tricolor paulista se auto-proclama único pentacampeão brasileiro, enquanto a Gávea se afoga num ressentimento de quem entre os grandes é o primeiro, mas preferiu o caminho das alianças de momento e do lucro fácil.

Assim, a tal taça de bolinhas só vai existir na imaginação dos rubro-negros, que terão para sempre contra si a a indiferença conveniente de seus parceiros e frieza dos números. Os mesmos números que apóiam o ilícito - porém leal - jogo do bicho. Por lá, diz-se que vale o escrito. E, como típica jogadora, que sabe de cor e salteado essa máxima, a diretoria do Flamengo não precisa enganar uma nação de apaixonados com falsas esperanças de dignidade histórica.

terça-feira, 9 de novembro de 2004

Dilemas tricolores

São Paulo e Fluminense estão classificados para a Libertadores da América 2008 e podem assistir de camarote à briga pelas três vagas restantes para o torneio continental. Mas a tabela permite que os tricolores façam mais do que isso e Muricy Ramalho já disse: vai com o time tilular para a "decisão" contra o Grêmio, no Morumbi. Decisão? Exatamente.

Para o técnico são-paulino, vencer o time gaúcho no próximo fim-de-semana é eliminar um futuro concorrente ao título de melhor das Américas. Rogério Ceni faz coro e afirma o que não se pode dar sopa a um time "copeiro", acostumado a torneios de tiro curto, ou o destino do clube mais bem-estruturado do país pode ser uma nova eliminação frente ao tricolor dos pampas.



Com o Fluminense, o raciocínio é o mesmo. Vai a São Paulo na próxima rodada com a chance clara e manifesta de complicar de vez a vida do Palmeiras. O Palestra Itália vai virar uma panela de pressão, porque o sempre quente sangue italiano não vai tolerar novo insucesso após derrotas inesperadas para Juventude e Sport. Na última rodada, as vezes de estraga-prazeres será contra o Santos, na Vila Belmiro. Como a tabela não é lá muito amena para o Peixe - pega Flamengo no Rio e Paraná em Curitiba -, periga o tricolor carioca deixar na baixada santista um gosto muito amargo de decepção.

Curioso como o futebol apronta para os eternos rivais. Prejudicar o Grêmio, para o campeão São Paulo, é ajudar Palmeiras e Santos a chegar à competição continental. Do mesmo modo, atrapalhar a vida de palestrinos e santistas, pode significar para o Flu entregar a vaga ao Flamengo. E por falar em inimigos venais, o que dizer dos colorados, que, se vencerem Palmeiras e Cruzeiro, justamente pavimentam o caminho do Grêmio para o principal torneio das Américas.

É, no mínimo, curioso que, por caprichos dos deuses da bola, equipes sem pretensão aparente dêem um tempero especial à reta final do Brasileirão. Anfitriões com entrada vip que poderão se gabar de dizer que, no finzinho das contas, escolheram a dedo quem os acompanharia na seleta festa da Libertadores da América.

terça-feira, 2 de novembro de 2004

Vendo asterisco 87 - único dono


Talvez pela obviedade anunciada, o pentacampeonato brasileiro do São Paulo está rendendo menos do que a discussão da exclusividade desses cinco títulos. A razão é simples: um dos canecos nacionais levantados pelo Flamengo não teve a chancela da CBF. Portanto, oficialmente, o tricolor do Morumbi pode se auto-proclamar único pentacampeão da história.

Pior do que ver os são-paulinos não enxergarem o óbvio (o Fla foi o legítimo campeão nacional de 87, já que venceu o campeonato disputado entre as melhores equipes do país), é perceber o desespero dos flamenguistas desfiando um rosário de argumentos em prol de suas cinco conquistas. Soa como uma briga infantil para saber quem tem o melhor brinquedo.

Sport e Guarani venceram um dos módulos daquele campeonato, organizado parte pela CBF, parte pelo Clube dos 13. Depois de 5 rodadas disputadas da Copa União - o torneio dos times de elite -, a entidade máxima do futebol brasileiro decidiu arbitrariamente mudar as regras do jogo e determinar que os finalistas enfrentassem os dois primeiros do "campeonato dos pobres" organizado por ela. E quem disse que os clubes concordaram? Simplesmente tocaram o campeonato organizado por eles próprios e proclamaram, em consenso, o Flamengo campeão de 1987. Insatisfeita, a CBF outorgou o Sport campeão e deu-lhe o direito de disputar a Taça Libertadores do ano seguinte.

Curioso que esse assunto foi sepultado pela própria entidade. Embora não reconhecendo o título rubro-negro, ela permitiu que o torneio de 1988 fosse também organizado pelos grandes clubes, inclusive com o mesmo nome: Copa União. E para qualquer um que acompanhou ou disputou aquele campeonato - inclusive adversários viscerais do Fla como Eurico Miranda, presidente do Vasco - o título foi incontestável. Uma passada rápida na súmula do jogo decisivo não deixa dúvidas: se enfrentaram duas das maiores equipes do futebol brasileiro na ocasião. De um lado Zico, Leandro, Jorginho, Bebeto, Andrade, Zinho e Renato Gaúcho. Do outro, jogadores como Taffarel e Paulo Roberto. Um espetáculo para 91.034 pagantes. É gente demais para ser enganada junta e de corpo presente.

Do mesmo modo, o Uruguai se proclama tetracampeão mundial, já que venceu as Olimpíadas de 24 e 28, quando ainda não existia Copa do Mundo. Argumento semelhante invoca o Fluminense, que reivindica o título de Campeão Brasileiro de 1970 e o Palmeiras, que ganhou um torneio internacional em 1951, em uma época que não existia Mundial Interclubes. As reivindicações são legítimas em boa parte dos casos. Se as equipes foram popularmente aclamadas como tais na época, não reconhecê-las assim é um ato de, no mínimo, descaso histórico. Surpreende é ver a mesma imprensa que cobriu os acontecimentos da época jogar querosene em fogo de palha. Pra que se esforçar tanto para ressucitar argumentos quando os fatos falam por si?

Talvez o que mais incomode os flamenguistas seja ver o título de 87 sempre pontuado por um asterisco, a apontar algo por esclarecer naquela conquista. Em um assunto polêmico e indigesto que jamais se esgotará em poucos parágrafos ou um punhado de minutos, os rubro-negros precisam ter a maturidade de se calar na certeza de que os fatos jogam a favor. É a chave para sepultar esse tipo de discussão que não deveria ir além das portas dos botequins.

segunda-feira, 25 de outubro de 2004

Matou o carro e foi pra boate


A reação dos candidatos ao título de campeão mundial após o GP Brasil de Fórmula 1 não deixa dúvidas: foi muito fácil para o homem lá de cima decidir de quem seria o troféu de 2007.

Fernando Alonso mostrou assombrosa frieza ao lamentar a perda do título em Interlagos. Parecia que não estava lá se importando tanto e, antes que alguém venha justificar a atitude na experiência de um bicampeão, a resposta eufórica de seus compatriotas em Oviedo mata a charada: o espanhol gargalhou por dentro de ver o campeonato escorrer entre os dedos do companheiro (?) Hamilton.

Pois Lewis, que desperdiçou o título com 7 pontos de vantagem sobre o adversário campeão e 4 sobre o desafeto Alonso, esse sim já deve estar numa crise sem tamanho, certo? Que nada. Depois de ele próprio confessar com absoluta tranqüilidade e as imagens confirmarem que apertara acidentalmente o botão de ponto morto de seu McLaren, foi filmado em uma boate de São Paulo. Na festa (?) oferecida pela equipe inglesa, devia estar contente por curtir as brasileiras e saborear o fracasso de Alonso - se eu não pude, ao menos o bicampeão não conseguiu...

Enquanto isso, bem longe dali, o improvável campeão Raikkonen confessa: é tanta felicidade que quase dói. E não podia ser diferente. Depois de amargar dois vice-campeonatos e ameaçar seriamente o reinado de Rubens Barrichello como o piloto mais azarado da Fórmula 1, Kimi recebeu, com juros e correção, o título que seu passado clamava.

Se Ron Dennis viu o título de sua equipe se transformar em pizza numa interminável sucessão de confusões entre seus subordinados - incluindo as estrelas da companhia -, a Ferrari parece ter aprendido a jogar em equipe sem constranger pilotos, espectadores nem jornalistas. Deixou que Massa e Raikkonen duelassem ao longo da temporada e, com precisão e lealdade britânicas, estabeleceu a prioridade ao finlandês.

A lição, aprendida pela Williams de Mansell e Piquet na década de 80 - quando entregaram um título líquido e certo de mão beijada para Prost -, tem sabor amargo apenas para Ron. Com lágrimas nos olhos, o único personagem realmente desapontado nessa história toda percebe que, justamente na Fórmula 1 das super-máquinas, não pode mais ter dois primeiros pilotos num mesmo time.

sábado, 23 de outubro de 2004

Há vagas

O Brasileirão chega à reta final. Daqui para frente, serão 6 rodadas com cara de decisão, sempre com jogos entre times de estados diferentes. Cada uma das 20 equipes vai jogar 3 vezes em casa e 3 fora. O título, todos já sabem, tem dono: o São Paulo. Isso não significa que muita coisa não estará em jogo. Vamos conferir:

Título
São Paulo
Não é impossível que o São Paulo já comemore seu título na semana que vem. Basta que o Cruzeiro não vença em casa o Atlético Paranaense e que o Vasco, em casa e de técnico novo, derrote o vice-líder Palmeiras. Bom, essa é a primeira parte, talvez a menos difícil. O problema é o próprio São Paulo superar o Sport, ameaçado de rebaixamento e lutando pela Sul-Americana, na Ilha do Retiro lotada. Se isso não for possível, a festa fica para o Morumbi, contra o América de Natal, já rebaixado. Os jogadores preferem assim e a vontade deles - e de milhões de são-paulinos - deve se cumprir daqui a duas semanas.

Libertadores
Fluminense
Campeão da Copa do Brasil, garantiu vaga e vai assistir de camarote à briga pelas primeiras posições e contra o rebaixamento. Pode ser o fiel da balança ao tirar pontos dessas equipes.

Palmeiras
Só perde a vaga se vacilar em casa. Precisa somar 8 pontos em 18 disputados, ir aos 62 e comemorar. Dos pretendentes às 3 vagas restantes, está em melhor situação. Basta vencer o já rebaixado Juventude, o classificado para a Libertadores Fluminense e o Atlético Mineiro - até a última rodada provavelmente livre do rebaixamento -, tudo no Parque Antárctica. Se quiser triunfar fora, vai precisar bater Vasco, Sport ou Internacional.

Cruzeiro
Desde que derrotou o Vasco, no dia 23 de setembro, não sabe o que é sair vitorioso. São 2 pontos em 15 disputados, um mês sem conhecer uma vitória sequer e, convenhamos, não tem hora pior para uma queda de rendimento do que as rodadas decisivas. Mesmo se analisarmos a tabela friamente, a tarefa celeste não é das mais fáceis: Precisa somar 9 pontos (3 vitórias) nos 6 jogos restantes. Enfrenta em casa Atlético Paranaense e América de Natal. Até aí, tudo bem. O problema são os 3 pontinhos que faltarão. Tem de ganhar do Flamengo - que não pode se dar ao luxo de perder mais pontos - e, se quiser buscar fora de casa, precisará passar por Botafogo, Internacional ou Sport.

Santos
Precisa somar 10 pontos (3 vitórias e 1 empate) em 18 disputados. Se mantiver o desempenho excelente em casa (não perde desde 28 de julho), passa por Goiás, Atlético Mineiro e Fluminense. Para arrumar o pontinho que falta, a receita é derrotar fora de casa o até lá rebaixado Paraná, porque se depender de vencer Flamengo ou Náutico, a coisa pode complicar...

Grêmio
Faltam 11 pontos (3 vitórias e 2 empates) para brigar novamente na principal competição das Américas. Tem uma tarefa muito dura para tirar o Flamengo do encalço e confirmar a vaga. Primeiro, porque, mesmo em casa, enfrenta duas equipes desesperadas para não cair: Corinthians e Náutico. Mesmo que vença o Figueira no Olímpico e o América em Natal, vai precisar buscar pontos importantes fora. E logo contra quem? Atlético Paranaense, que ainda não perdeu em casa no segundo turno, e São Paulo - nem precisa dizer.

Flamengo
A tradição de "time de chegada" é conhecida de outros carnavais, mas não vai ser fácil dobrar a lógica e conquistar 13 pontos em 18 disputados (72,2% de aproveitamento, sendo que o São Paulo tem 71,2%), ou seja, fazer campanha de time campeão. Serão 3 jogos em casa sem chance para derrota: Corinthians, Santos e Atlético Paranaense, além do rebaixado América em Natal. Difícil será tirar ponto do Cruzeiro, no Mineirão, ou do Náutico, nos Aflitos. Mas todo esse cálculo pode ir para o ralo se a perda de mando de campo se cumprir para os rubro-negros, após um copo ter sido atirado em campo na partida contra o Grêmio.

Rebaixamento
Internacional
Precisa apenas de 4 pontos em 18 disputados para não ser rebaixado. Chances não faltarão para o Inter cumprir esse objetivo inglório, embora os adversários sejam duros. Palmeiras e Cruzeiro podem complicar no Beira Rio, mas, diante do Sport, os 3 pontos devem vir sem tanta dificuldade. Fora de casa, pode roubar mais um pontinho do praticamente rebaixado Paraná, do Vasco ou do desesperado Goiás.

Vasco da Gama

Apenas 5 pontos separam o Vasco da permanência da primeira divisão. A tabela favorece os cruzmaltinos, que, embora enfrentem o motivado Palmeiras e o ameaçado Internacional em São Januário, podem se garantir vencendo o desinteressado Figueirense em Floripa e o quase rebaixado Paraná em Sâo Januário. Se não somar esses pontos, vai precisar tirar coelhos da cartola contra o desesperado Corinthians no Pacaembu ou o igualmente ameaçado Goiás, no Serra Dourada.

Atlético Mineiro
Dentre os ameaçados de rebaixamento, é o que tem a tabela mais a favor. Também precisando de 5 pontos em 18 disputados, pega o quase rebaixado Paraná e o moribundo Juventude do Mineirão. Vencer os dois jogos garante o Galo. Outra chance em casa será contra o Goiás. Se tropeçar em Minas, pode arrancar pontos do despertensioso Fluminense no Maracanã, para não ter de vencer Santos ou Palmeiras também fora de casa.

Náutico
A reação impressionante do segundo turno deixou o Timbu em pé de igualdade com os rivais na briga contra o rebaixamento. Só que agora começa um novo campeonato para os pernambucanos. Eles precisam de 5 pontos (1 vitória e 2 empates), que podem vir contra América de Natal, Santos ou Flamengo em casa. Se não der, podem tentar se salvar fora contra Grêmio, Fluminense ou Figueirense, ou seja, terão a tabela a seu favor. Difícil vai ser controlar a ansiedade.

Sport
A equipe pernambucana precisa apenas de 5 pontos em 6 jogos para chegar aos 48 e escapar do rebaixamento, mas a tabela é inglória com os rubro-negros. Enfrentam Sâo Paulo, Palmeiras e Cruzeiro em casa, todos com muito em jogo na competição. Fora, enfrenta o Atlético Paranaense, que ainda não perdeu em casa no segundo turno, e o Internacional, que dificilmente deixa pontos escapar no Beira Rio. Vencer apenas o rebaixado Juventude, em Caxias do Sul, na última rodada, pode não ser suficiente.

Goiás
Mesmo com 41 pontos e precisando de 7 para se salvar, a equipe goiana tem um trunfo: o número de vitórias. Como empatou pouco no campeonato, levará vantagem sobre um concorrente que terminar com o mesmo número de pontos do que ele. Mas a tarefa não será fácil. Vai precisar encontrar 2 vitórias e 1 empate contra Vasco e Internacional em casa ou Santos, Paraná e Atlético Mineiro fora. A partida contra o Corinthians, no Serra Dourada, é decisiva. Se vencer, praticamente elimina o concorrente direto e se garante na primeira.

Corinthians
Tem uma situação muito delicada, pois não depende apenas de si próprio. Tem de vencer 3 jogos e empatar 1 nos 6 que faltam, desde que não perca para o Goiás fora de casa. Além desta partida, vai precisar buscar pontos contra os despretensiosos Figueirense, Atlético Paranaense e Vasco, tudo em casa. Outra opção será vencer Flamengo ou Grêmio, fora.

Paraná
Tem de somar 14 pontos em 18, ou seja, cada jogo é uma decisão para os paranistas. Em casa, enfrenta Inter, Goiás e Santos. Fora, encara Atlético Mineiro, Botafogo e Vasco. Dificilmente escapa da degola.

Juventude
Só um milagre associado a improváveis combinações de resultados livram os gaúchos do rebaixamento. Para começar, precisa vencer os 6 jogos restantes: Botafogo, São Paulo e Sport, em casa, e Palmeiras, Atlético Mineiro e Fluminense fora.

América de Natal
Embora já esteja rebaixado, pode ser o estraga-prazeres se tirar pontos de quem luta pela Libertadores ou para fugir do rebaixamento. Jogar sem responsabilidade pode ser um ponto a favor do time potiguar.

Sul-americana
Figueirense
Precisa de 8 pontos em 18 para chegar aos 53 e garantir vaga na competição. Fluminense, Vasco e Náutico são os adversários em casa. Se não fizer a obrigação em Floripa, poderá buscar pontos contra Cornthians, Grêmio ou Botafogo. Dificilmente fica de fora.

Botafogo

Situação idêntica à do Figueira. Em casa, enfrenta Cruzeiro, Paraná e Figueirense. Fora, pega Juventude, América de Natal e Figueirense. A julgar o péssimo segundo turno da equipe, pode deixar escapar até mesmo essa vaga na Sul-Americana.

Atlético Paranaense
Assim como Botafogo e Figueirense, precisa de 8 pontos. Joga em casa contra Grêmio, Sport e Sâo Paulo. Fora, encara Cruzeiro, Corinthians e Flamengo. A tabela não ajuda, mas, se mantiver o ótimo desempenho na Arena da Baixada no segundo turno, deverá ficar com uma vaga. Os outros times na competição serão dois dos cinco que fracassarem na briga pela Libertadores e duas ou três equipes que hoje estão ameaçadas de rebaixamento, além do virtual campeão Sâo Paulo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2004

Goleada da democracia


Não foi apenas a seleção brasileira que ganhou um presente dos mais de 80 mil torcedores presentes ao Maracanã para Brasil 5x0 Equador. O futebol maduro, responsável e, acima de tudo, democrático, agradece a uma torcida tão plural em seus manifestos. Por isso Pelé, rei com a bola nos pés, mas simples mortal com palavras na boca, escorregou ao criticar o comportamento dos brasileiros no maior estádio do país.

Vaia nasceu para criticar, jamais para ser criticada. As vozes uníssonas que tão cedo repreenderam o futebol enfadonho da seleção de Dunga clamavam o valor de cada centavo investido naquele espetáculo. Uma seleção que, em campo, não conseguia ser brilhante o suficiente para justificar todo o prestígio que a cerca não era capaz de superar o bloqueio imposto pelos equatorianos. Isso quando eram jogados apenas 20 minutos do primeiro tempo. Bastou para os atletas brasileiros despertarem do transe provocado pela própria torcida, ao proporcionar um espetáculo paralisante, jamais visto in loco por 10 dos 11 jogadores.

Foi instintivo. Infantil mesmo. E ninguém conseguiu disfarçar. As lágrimas nos olhos de Júlio César durante o hino nacional, as pernas pesadas de Ronaldinho a errar passes óbvios, o olhar tenso de Dunga, a alegria menina de Robinho e Kaká, sabedores do dever cumprido - antes tarde do que nunca. Cada qual ao seu modo expressou sua pequenez diante da história do maior do mundo. Com a torcida não foi diferente.

Como lembrou no intervalo Fernanda Montenegro, presente à histórica partida em que mais de 100 mil vozes vaiaram uníssonas a entrada de Julinho Botelho no lugar de Garrincha, isso lá pelos anos 60. Pois Julinho, único personagem de quem hoje Fernanda se recorda, fez questão de dizer que ele sim tinha razão, ao ter sido escolhido. O tempo mostrou quem estava certo.

O tempo da superproteção institucional ao astros da seleção foi sepultado com o quinto lugar na Copa da Alemanha. Agora, os poderes são divididos. Dunga comanda, mas não manda. Jorginho auxilia, mas não expõe ninguém a esmo. Quem treina bem joga e quem vai mal em seu clube assiste de casa.

Nada mais saudável então do que o intempestivo termômetro do torcedor. Sempre disposto a vaiar muito quando as coisas vão mal e aplaudir de pé o bom espetáculo, ele é o fiel da balança dessa estrutura horizontal de honestidade de princípios sobre a qual nossa seleção desfila às portas da Copa de 2010. A caminho da África do Sul, torcedores e jogadores celebram em um só coro o fim do apartheid multi-estrelar na seleção brasileira de futebol. E se orgulham de serem brasileiros com muito amor e muita crítica - como apraz a qualquer bom casamento.

domingo, 3 de outubro de 2004

Um sonho ao alcance













Diria o pessimista que sonhar com uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada no Brasil é perda de tempo. Realizar ambos os eventos em um intervalo de dois anos, então, seria possibilidade quase nula até para o mais fantasioso otimista. Mas com base em fatos, e boas justificativas, o Brasil se vê, hoje, com boas chances de receber a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

O caderno de encargos para a realização da Copa já foi entregue à Fifa. O país segue no pleito como candidato único. Consistente, o projeto brasileiro conta com as garantias governamentais firmadas pelo presidente Lula, além de estar voltado para a captação de recursos financeiros do setor privado – diferentemente do projeto do Pan, que foi quase todo bancado pelos cofres públicos.

No dia 30 de outubro, a Fifa confirma ou não o Brasil como sede da Copa-2014. As chances de ouvir o “sim” da entidade são do tamanho do sonho de receber novamente, depois da Copa de 50, o evento maior do futebol. Enquanto a Copa parece uma conquista mais palpável, o objetivo de sediar uma Olimpíada está um pouco mais distante. Ainda assim, a ambição do Comitê Olímpico Brasileiro é realista e, sobretudo, realizável.

Há um longo caminho a ser percorrido até a data em que o COI anunciará a cidade-sede das Olimpíadas de 2016, em outubro de 2009. Sediar um evento olímpico requer estrutura e planejamento muito mais consistentes que a organização de um Pan-Americano.

A postulação do Rio de Janeiro à sede olímpica surge em um momento favorável. O sucesso do Pan, e o ganho em infra-estrutura esportiva proporcionado pelo evento, credenciam a cidade como forte candidata a receber os Jogos Olímpicos em 2016. Os governos federal, estadual e municipal também já deram garantias e apoio à candidatura do Rio. Sem contar esses fatores positivos a favor da cidade, o próprio COI já admitiu o desejo em levar uma Olimpíada até a América do Sul.

Para isso, a entidade afirma que a América do Sul precisa “atrair” os Jogos. Cada vez mais consolidada como uma cidade global, especializada em receber grandes eventos, o Rio de Janeiro tem tudo para concretizar essa atração.

A história, ainda, faz questão de contradizer quem não acredita na possibilidade de o Brasil sediar dois megaeventos em um curto espaço de tempo – 2014 e 2016. Em 1970, o México recebeu a Copa do Mundo, sendo que, dois anos antes, havia recebido também os Jogos Olímpicos.

Mas o Brasil pode trilhar o mesmo caminho percorrido pelos Estados Unidos na década de 90. Em 1994, os norte-americanos sediaram a Copa e, dois anos mais tarde, a cidade de Atlanta foi sede da Olimpíada. Em 1987, os Estados Unidos haviam organizado os Jogos Pan-Americanos, na cidade de Indianápolis. Após sete e nove anos, respectivamente, o país recebeu a Copa de 94 e as Olimpíadas-96. Coincidentemente, essas são as mesmas distâncias de tempo que separam o Pan do Rio de Janeiro, realizado este ano, da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Não dá para comparar as condições financeiras e estruturais de Estados Unidos e Brasil. No entanto, até 2014, o país tem tempo suficiente para traçar planejamentos sólidos e menos dependentes do dinheiro público para receber dois megaeventos esportivos. Ocasião e história conspiram a favor do Brasil. Portanto, daqui pra frente, sonhar alto faz parte das regras do jogo.

[Só como base de comparação: www.chicago2016.org, este é o site oficial da candidatura de Chicago, que, ao lado do Rio de Janeiro, já desponta como favorita para sediar as Olimpíadas 2016. Em uma rápida passagem pelo site, dá pra ver que a cidade tem pouquíssimas instalações prontas. Quase tudo não passa de projeções. E o projeto, a princípio, é bem parecido com o modelo aplicado no Rio para o Pan. A briga promete ser boa entre as duas cidades.]

terça-feira, 28 de setembro de 2004

Diário de um vexamista


Depois do boquense, do são-paulino e dos atleticanos, acaba de se inaugurar uma nova categoria: os vexamistas!

Acabo de passar por uma pouco comum, ao ter de me conectar na Internet para ver o resultado do jogo de meu time no dia anterior. Logo eu, tão aficcionado por futebol e mais aficcionado ainda pelo Botafogo! Mas sabe que por um lado foi bom?

Pela primeira vez pude ler uma manchete virtual que me contasse 100% do que eu não sabia. Ontem tive um compromisso inadiável e não pude ver o jogo. Cheguei em casa tarde e fui dormir. Ao navegar pela Grande Rede, então, me deparo com a foto do Juninho cabisbaixo e a legenda: "Zagueiro é a imagem da decepção após vexame". Entre as chamadas, uma garante a demissão do técnico Cuca, não aceita pelo dirigente que se diz envergonhado.

De quanto foi a goleada? Qual o saldo do tango mal dançado em Buenos Aires? Quatro a zero? Não, deve ser pouco. De alma sofredora prevenida, pensei em algo como sete, oito a zero.

Que nada, 4 a 2! Eis o "retrato" do vexame inaceitável. Aí pensei que alguma coisa estava errada. Poderia ser a legenda, que tratou uma eliminação natural como uma catástrofe incalculável. Mas ela não deixava de ser solidária à declaração do dirigente. Será que o cego sou eu mesmo? Pode ser, mais deixa ser que este espaço seja o divã virtual (separado e sem o n no final, por favor!).

Quer dizer que perder para uma das duas maiores forças da Argentina ainda por cima NA ARGENTINA por 4 a 2 é um vexame? Tá certo... Imagina que haviam se esquecido do vexame da tenebrosa Hungria em 1938, quando foi arrasada impiedosamente pelas forças de Mussolini por 4 a 2 ou o próprio Brasil de Didi e Nilton Santos, que se curvou de joelhos à hungriazinha de Puskas e Yashin, num vexame incalculável pelo mesmo placar, em 1954. Por falar em argentinos, e para ser mais contemporâneo, o que dizer então da vergonhosa derrota do Vasco para o lanuzinho semana passada por 2 a 0. Com um pouco de vergonha na cara, nem teriam entrado em campo anteontem. Mas vá lá, o regulamento mandava...

Por isso, era obrigação que o Botafogo saísse triunfante com uma vitória incontestável da Argentina. O 1 a 0 no Brasil tinha sido um mero disfarce, afinal a diferença de esquadrões era abissal. Veja que o time alvinegro até deixou ser vencido pelo fraquíssimo Fluminense para dar aquele ar de sansão moribundo...

A desfaçatez foi tamanha que, por 94 dos 95 minutos de jogo, o Botafogo esteve com a vaga na mão, em mais uma demonstração da genuína Raça Gloriosa, demonstrada tão bem no domingo contra aquele Fluminense. Mas levou um gol aos 47 do segundo! Um gol do riverplatezinho na argentinazinha.

Pensando bem, foi um vexame! Perder para um time que tem um cara chamado Ortega... Ortega não, orteguinha. Ou orteguito, como os próprios argentinos gostam de dizer curvando-se à sua vexaminosa inferioridade. Mas vá saber onde estavam com a cabeça os deuses do futebol...

Senão, como explicar as falhas de Max, o paredão alvinegro, Barbosa redivivo sempre a carregar sua cruz pelos erros que não cometeu? Ou a improvável derrocada de uma zaga absoluta. Aliás, alguém se lembra da última vez que essa muralha deixou passar quatro gols de um argentino? (Digo, de um TIME argentino).

Por isso mesmo, me rendo à minha miopia. Os dirigentes desse glorioso e vencedor clube têm razão. Como a FIFA ainda não descobriu o Botafogo para torná-lo sócio-vitalício do Mundial de Clubes e a Conmebol o deixou 11 anos sem uma partida estrangeira oficial?

A culpa é do Cuca, que transformou um time que não ganha quase nada em um time que quase ganha tudo...

segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Cidade maravilhosamente tricolor


Com o mesmo número de jogos que o vice-líder Cruzeiro e nove pontos à frente do time mineiro, o São Paulo chega ao último terço do campeonato brasileiro com a mão na taça. Só perde para si mesmo e ainda assim se fizer muita força. Fase maravilhosa com a bênção do Redentor, de braços abertos para o clube mais bem estrutuado e planejado do país.

É na cidade fundada por Mem de Sá que residem as maiores glórias tricolores na temporada. Primeiro, com a vitória sobre o então vice-líder Botafogo, no fim do primeiro turno. Se alguém tinha dúvidas de que o título de 2007 estava muito bem encaminhado para o tricolor, a prova dos nove foi dada ali, diante de 50 mil torcedores do rival. E quando a vantagem já estava consolidada, foi a vez de desbancar o Vasco, invicto há um ano em seu estádio e com o melhor aproveitamento em casa entre os 20 participantes do Brasileirão.

O terceiro triunfo são-paulino em terras fluminenses veio nesta quarta sem que a equipe precisasse derramar uma gota de suor. Não é difícil imaginar que a vitória cruzeirense diante do Flamengo e uma derrota para o Santos no fim-de-semana poderia derrubar a confortável vantagem de nove pontos, construída com tanto cuidado e planejamento. Os 3 a 1 rubro-negros foram o presente de natal antecipado que todo tricolor gostaria de ter recebido. Agora é ter paciência para esperar os jogos que restam.

Entra jogador, sai jogador e o São Paulo não muda a maneira de jogar. Defesa sólida e ataque cada vez mais produtivo são a certeza de que Muricy Ramalho tem o time nas mãos. O tricolor é a prova daquela máxima: técnico ganha e perde jogo. Por isso, não é exagero jogar a culpa neles quando um time vai mal, afinal, quando o trabalho é bem feito, os jogadores viram mais uma peça dentro da engrenagem da equipe. Por que então na Europa os técnicos não viram bodes-expiatórios?

É que lá eles estão submetidos a uma rigorosa e austera estrutura dentro dos clubes. São eles próprios parte da engrenagem, composta também por torcedores-sócios, diretores técnicos e jogadores com prazos de validade contratual decentes. No Brasil, falar nesse tipo de organização é cair numa utopia impensável até mesmo em terras são-paulinas. Então fica combinado que a promiscuidade beira-campo é inevitável, emblemática e educativa, como que a dar a medida da desorganização de nossa administração esportiva. Os técnicos recebem para arrumarem times e não dores-de-cabeça para dirigentes amadores de fala fácil. Pagam o pato pelos insucessos de um futebol efêmero.

Chega a soar irônico que uma das cidades com o futebol mais carente de organização da série A consagre o clube mais estruturado do país. Em um lugar onde a regularidade tricolor soa irritantemente sem-graça, fica o exemplo para que os cariocas recuperem a glória perdida em algum lugar do passado e que hoje passa à frente de suas janelas.

sexta-feira, 6 de agosto de 2004

Sabe aquela do padre?

Se o campeonato brasileiro de futebol é uma maratona de 38 rodadas, a acusação de doping contra Dodô foi o padre irlandês que atrapalhou a corrida surpreendente do líder.

A competição chega a seu momento crucial, quando os chamados "coelhos" dão espaço para os atletas de alto nível que realmente têm chances de faturar o prêmio maior. Para quem não sabe, o coelho é aquele corredor que dá todo o gás no início da prova para tentar puxar o ritmo dos grandes atletas. Como nenhum ser humano consegue manter o ritmo frenético de um "coelho", este se retira da prova fatigado, ou então se contenta em apenas terminar a corrida, isso lá no pelotão intermediário.

O Botafogo fez um grande campeonato carioca e uma boa Copa do Brasil, embora não tenha vencido nenhuma das duas competições. Até aí nada demais, afinal o Flamengo cansou de ser campeão estadual do Rio de Janeiro e fazer feio nos campeonatos brasileiros. O próprio Flu, que venceu a Copa do Brasil neste ano tem um time bastante limitado e que ocupa as posições medianas da tabela. O que surpreende no alvinegro é o bom futebol e a eficiência: liderou durante mais de dez rodadas, algumas delas com cinco pontos de vantagem para o segundo colocado.

Quando a lua-de-mel com a atorcida parecia ter chegado ao ápice, o glorioso sofreu um duro golpe. Assim, da noite para o dia, surgiu a notícia de que seu principal jogador, Dodô, havia sido pego no antidoping. Pronto. O padre derrubou o líder e a casa botafoguense caiu.

Recordo-me das declarações de Vanderlei Cordeiro de Lima após o bronze em Atenas afirmando que não sabia se venceria aquela prova caso não tivesse sido atrapalhado. Mais do que humildade, ele mostrou realismo na análise. Primeiro porque sabia que não era favorito e que havia pelo menos cinco corredores com mais condições técnicas de vencer aquela prova, a começar pelo italiano que levou o ouro. Depois porque, mesmo antes de ser agarrado pelo padre irlandês, Vanderlei já via sua vantagem ser reduzida para os primeiros colocados.

Ocorreu o mesmo com o Botafogo.

Em termos de pontos, a vantagem alvinegra era boa. A questão é que o São Paulo começou meio devagar mesmo, ainda se recuperando dos traumas das eliminações na Taça Libertadores da América e no Campeonato Paulista. Já dava sinais de que entraria na briga quando a bomba do doping explodiu. Possivelmente não teria chegado tão rapidamente, mas nem o mais otimista dos alvinegros acreditava que ficaria tanto tempo na liderança sem ser incomodado. O São Paulo tem mais dinheiro, mais estrutura, mais elenco e, por isso, mais fôlego para setir menos o peso dessa maratona. Até os portões de General Severiano sabem isso de cor.

Nos cinco jogos sem Dodô, o Botafogo venceu dois, perdeu dois e empatou um. Em suma, não fez uma campanha tão ruim. O que impressiona é o aproveitamento até a décima rodada, momento em que a notícia catastrófica chegou a General Severiano. Eram sete vitórias e quatro empates (o Bota havia jogado 11 partidas devido à antecipação do confronto com o Vasco, pela rodada 12). Estava com cara de "coelho" e pinta de coelho. Ou cavalo-paraguaio, como gostam de dizer no meio futebolístico.

Pois Dodô foi absolvido e voltou a jogar. Retornou à pista justamente quando o Botafogo perdia toda a vantagem que tinha para os são-paulinos e tinha de passar o bastão da liderança pela primeira vez na competição.

Provavelmente a euforia que resvala numa certa soberba impeça os botafoguenses de uma análise fria como a que fez Vanderlei Cordeiro de Lima após ganhar o bronze nas Olimpíadas de Atenas. Eles podem até praguejar contra o tribunal que condenou seu artilheiro em primeira instância tal e qual o padre que se intrometeu na corrida dourada de nosso maratonista. Fato é que nem o mais otimista dos alvinegros acreditaria no fim de 2006 que estaria brigando pelo título e com chances reais de chegar entre os quatro primeiros para garantir vaga na Taça Libertadores da América. Nada mal uma medalha e um pódio para quem há pouco tempo se mostrava satisfeito em não flertar com a segunda divisão.

sexta-feira, 4 de junho de 2004

Com que cidade eu vou?

Postei sobre a influência política nos 21 projetos das 22 cidades candidatas a sede da Copa do Mundo em 2014. A seguir, você fica sabendo quem são elas e quais as chances de cada uma, com base no projeto apresentado e nos atributos... você sabe, políticos.

Rio de Janeiro (Maracanã) *****

Não que seja o melhor estádio do Brasil, mas conta com o aval político da CBF e o peso histórico de ter sido palco de uma decisão de copa, em 1950. Basta saber se vai abrir ou encerrar a competição.


São Paulo (Morumbi) *****

Candidatura apresentada logo que a CBF abriu para as cidades, briga com o Rio para ver quem abre e quem fecha a competição. Muita coisa precisa ser feita em termos de acesso e conforto dos torcedores, mas tem o aval político.


Curitiba (Arena da Baixada) ****
Nome certo na Copa, estádio moderno, adaptado às exigências da Fifa, conforto para o torcedor, opções de estacionamento e acesso. Precisa apenas aumentar sua capacidade. Deve sediar uma quarta-de-final, uma oitava-de-final ou a disputa do terceiro lugar.


Brasília (Mané Garrincha) ****

Candidatura não só avalizada como elogiada pela CBF. Brasília rima com política. Fazer uma copa no Brasil sem jogos na capital é idéia fora de cogitação. Candidata a receber uma quarta-de-final, uma oitava-de-final ou a decisão do terceiro lugar.





Belo Horizonte (Mineirão) ****

Peso político, proximidade do eixo RJ-SP credenciam o Gigante da Pampulha a receber jogos decisivos, como uma semifinal, uma quarta-de-final ou a disputa do terceiro lugar. Ainda precisa passar por algumas reformas para atingir o nível exigido pela Fifa.


Porto Alegre (Beira-Rio) ****

Passou recentemente por reformas e tem o peso político a seu favor. O problema é que tem duas candidaturas de peso entre os vizinhos e está distante do "centro", como eles gostam de se referir ao eixo RJ-SP. Se escolhida, deve sediar um dos grupos e pode abocanhar uma das oitavas-de-final.


Florianópolis (Orlando Scarpelli) ***

Leva vantagem por se tratar de um projeto particular do Figueirense que independe da candidatura da cidade, em si. Por isso, é forte candidata. Em tese, porque briga contra a competência curitibana da Arena da Baixada e o peso histórico-político de Porto Alegre. Candidata a uma quarta-de-final ou oitava-de-final.


Recife/Olinda (a ser construído) ***

Centro simpático à CBF, já articulou a construção de um quarto estádio na cidade, este perto da fronteira com Olinda. Dificilmente deixa de ser sede da Copa, mas, provavelmente, não fica com jogos decisivos. Oitava-de-final ou quarta-de-final a vista.


Salvador (Fonte Nova) ***

Candidatura eminentemente política. O estádio da Fonte Nova é ultrapassado e vai precisar de uma boa recauchutagem para sediar jogos em 2014. Mas nada que a caneta do Governo Federal e o apoio da CBF não resolvam... Pode sediar uma quarta-de-final ou oitava-de-final.


Belém (Mangueirão) ***

Também não deve ficar de fora na divisão dos quinhões. Por ficar na grande Belém, tem o acesso facilitado e a possibilidade de uma reforma sem dor de cabeça para a cidade. Ainda precisa melhorar o sistema viário, mas deve receber uma forcinha política da CBF, que não esconde o desejo de ter um estádio na região amazônica. Pode sediar uma oitava-de-final ou quarta-de-final.


Fortaleza (Castelão) ***
Peso político e simpatia da torcida local são trunfos importantes que já trouxeram vários jogos da seleção para a capital cearense. Porém, dessa vez, vai ter que brigar contra concorrentes fortes politicamente no nordeste, como Bahia e Pernambuco. O estádio vai precisar passar por profundas reformas. Se vencer, periga receber um jogo de oitavas-de-final ou até mesmo uma das quartas-de-final.


Manaus (Vivaldão) ***
Deve vencer a disputa interna do norte junto com Belém. Uma candidatura ajuda a outra, pois são centros aparentemente ermos, porém relativamente próximos entre si. O Vivaldão é recente e, desde que reformado na década passada, se tornou um elefante branco que precisa receber jogos da seleção para justificar o investimento feito à época. Uma copa cai como uma luva nesse sentido.


Goiânia (Serra Dourada) ***
O estádio precisa passar por reformas profundas. Conta com a força política e a tradição de receber sempre jogos amistosos e eliminatórias. Tem a simpatia da CBF e pode chegar a sediar uma oitava-de-final.


Rio Branco (Arena da Floresta) **
Candidatura aparentemente modesta, a capital do Acre vem com um projeto ambicioso e de pedigree. É assinado pelo mesmo projetista da Arena da Baixada, em Curitiba. Se tiver peso político para sair do papel e vencer o isolamento geográfico, pinta como candidato a sediar jogos da primeira fase e, quem sabe, abocanhar uma oitava-de-final.


Campo Grande (Morenão) **
Empolgação não falta à cidade, que enviou representante à última Euro, em Portugal. O objetivo foi conferir as instalações de lá e as adaptar no Morenão. O problema é que falta peso político à cidade e sobram concorrentes, a começar por Brasília e Goiânia. Se passar, pode lamber os beiços em ser sede da fase de grupos.


Cuiabá (Verdão) **
Os planos para o remodelamento do José Frageli, o Verdão, são ambiciosos. Se a cidade conseguir apoio para o projeto, sai como uma candidata forte. Caso contrário, vai perder espaço para as relativamente vizinhas Goiânia e Campo Grande. Pode sediar até uma oitava-de-final. E deve agradecer se isso acontecer...


Teresina (Albertão) *
Candidatura enfraquecida pelos concorrentes Recife/Olinda, Fortaleza e Salvador. Ainda precisa brigar com João Pessoa para provar que é uma sede possível. As obras previstas estão orçadas em mais de 50 milhões de reais e, como sabemos que esses orçamentos sempre mentem para baixo, vai ser difícil arranjar argumento político para o Governo Federal meter a mão no bolso.


Maceió (Rei Pelé)*
Idem a Teresina, com a diferença que costuma sediar mais jogos da seleção em amistosos e eliminatórias. O custo das reformas necessárias só se justifica com um bom apadrinhamento político na terra de Fernando Collor.


Natal (Machadão)*
O estádio precisava ser reformado para receber jogos da série A do brasileirão. Se já foi um custo para tudo ficar pronto, imagina em uma Copa...


João Pessoa (Almeidão) *


Vai fazer número, pois não tem condições técnicas nem políticas de brigar com os vizinhos. O estádio está completamente ultrapassado.


Campinas (a ser construído(?)) *Brigar contra a capital é tarefa inglória para Campinas. Cheira candidatura política. Quer dizer, para promover os políticos de lá...

Copas fora

Não que o Brasil merecesse sediar uma Copa do Mundo, mas, seguindo o rodízio de confederacões determinado pela Fifa, o Brasil não encontra concorrentes sul-americanos. Logo, sera mesmo sede da Copa 2014.

Cumprindo, então, o cronograma estabelecido internamente pela entidade máxima do futebol brasileiro, essa semana marcou o encerramento do prazo para as cidades brasileiras apresentarem sua candidatura. E lá vamos nós com 22 possíveis futuros palcos do principal evento do futebol mundial. No fim, apenas 10 restarão.

Por incrível que isso possa parecer, nem bem o Brasil lançara sua candidatura e seu principal estádio fora sumariamente excluído pela CBF. O Maracanã estava ultrapassado e inadequado às exigencias da Fifa? Nada disso. Política mesmo. A CBF, com sede no Rio, não via com carinho a torcida local desde que a seleção venceu a Bolívia por 5 a 0, no Maracanã, no longínquo ano 2000. Goleou debaixo de vaias, embora Romário tenha sido exceção.

Ali, ficou límpido para a Confederação Brasileira de Futebol – como, alias, nunca foi novidade – que jogar no Rio é encarar uma torcida exigente ao extremo. Crítica e bairrista mesmo. Mande um carioca escalar sua seleção ideal sem enxertar pelo menos cinco jogadores formados ou atuantes no futebol da Cidade Maravilhosa.

Mas não é que, como num passe de mágica, troca o commando na Superintendência de Esportes do Estado do Rio e o Maracanã é afagado não só com a possibilidade de ser uma das sedes, mas, com apoio explícito de Ricardo Teixeira, vira a menina-dos-olhos da CBF? Em um ano, o estádio recupera o prestígio perdido, a torcida deixa de ser um empecilho e o estádio se vê irresistivelmente impelido a sediar jogos das eliminatórias para a Copa. Novamente, o “maior do mundo” é seríssimo candidato à grande final. Competência administrativa? Política mesmo.

São Paulo se apressou em mostrar o Morumbi como provável sede. Esse é barbada. Recentemente reformado, deve passar por novas obras antes de ouvir o sim da generosa Confederação Brasileira de Futebol. A Federação Paulista de Futebol se cansa de dar alegrias à CBF, assinando tudo que é cheque em branco quanto às grandes decisões tomadas pela entidades. Competência? Nem tanto. Política mesmo.

Não fica difícil “escolhermos” nossos outros estádios preferidos. Um deles é o Mineirão, estádio ainda muito longe dos padrões exigidos pela Fifa, mas que conta com o aval do destemido presidente da CBF. Se tem uma Federação amiga e que não dá a menor dor de cabeça ao alto commando do futebol brasileiro é a FMF, na figura de seu presidente e dos irmãos Perrela, presidentes eternos do Cruzeiro. Portanto, mineiros, fiquem tranqüilos: o Gigante da Pampulha está apto a receber jogos da Copa.

O mesmo raciocínio se aplica ao Beira-Rio, do Internacional de Porto Alegre. Fábio Koff, gaúcho antes de gremista ou colorado, tem sido durante muito tempo os braços direito e esquerdo da CBF nos Pampas. Centro tradicional de contestação a qualquer movimento do “centro”, Porto Alegre não tem oposto uma vírgula às decisões da Confederação Brasileira de Futebol nos últimos 20 anos.

Os oito restantes entram mesmo pelo mérito geográfico – mas pode chamar de coronelismo. Espalhar os quinhões nos quarto cantos do país sempre foi obssessão do presidente da entidade máxima do futebol brasileiro. Se a Arena da Baixada, em Curitiba, é candidata incontestável pela sua infra-estrutura, o mesmo não se pode dizer, por exemplo, dos estádios do nordeste. E quem se importa com isso por lá? O Governo de Pernambuco, por exemplo, se apressou em encomendar uma daquelas maquetes de empreiteira para mostrar que tem condições de construir um dos complexos mais modernos do país até 2014. Isso porque já há três estádios só em Recife…

E podem esperar porque pelo menos dez das vinte candidaturas não têm seus palcos aprontados. Mas quem disse que eles não serão? Possivelmente, todos ficarão lustrosos, nem que seja para sediar jogos isolados da seleção e entrar na fila de candidatos desesperados. Tudo com o aval da CBF, com o dinheiro do contribuinte e, assim como no Pan, na base da euforia nacional que esconde os superfaturamentos de obras, as licitações sem transparência, os problemas de infra-estrutura maquiados, e por aí vai.

Ainda falta bastante para a Copa da CBF, mas, passar os olhos pelas audaciosas candidaturas de nossas cidades - e a forma como elas são magicamente avalizadas pela entidade máxima do futebol brasileiro - pode se revelar um bom exercício crítico. Assim, quem sabe, não deixamos nosso precioso dinheiro ir pelo ralo do banheiro para parar numa copa qualquer.
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Candidatas e chances (indicadas pelas estrelas)

Rio de Janeiro (Maracanã) *****
Não que seja o melhor estádio do Brasil, mas conta com o aval político da CBF e o peso histórico de ter sido palco de uma decisão de copa, em 1950. Basta saber se vai abrir ou encerrar a competição.

São Paulo (Morumbi) *****
Candidatura apresentada logo que a CBF abriu para as cidades, briga com o Rio para ver quem abre e quem fecha a competição. Muita coisa precisa ser feita em termos de acesso e conforto dos torcedores, mas tem o aval político.

Curitiba (Arena da Baixada) *****
Nome certo na Copa, estádio moderno, adaptado às exigências da Fifa, conforto para o torcedor, opções de estacionamento e acesso. Precisa apenas aumentar sua capacidade. Deve sediar uma quarta-de-final, uma oitava-de-final ou a disputa do terceiro lugar.

Brasília (Mané Garrincha) *****
Candidatura não só avalizada como elogiada pela CBF. Brasília rima com política. Fazer uma copa no Brasil sem jogos na capital é idéia fora de cogitação. Candidata a receber uma quarta-de-final, uma oitava-de-final ou a decisão do terceiro lugar.

Belo Horizonte (Mineirão) ****
Peso político, proximidade do eixo RJ-SP credenciam o Gigante da Pampulha a receber jogos decisivos, como uma semifinal, uma quarta-de-final ou a disputa do terceiro lugar. Ainda precisa passar por algumas reformas para atingir o nível exigido pela Fifa.

Porto Alegre (Beira-Rio) ****
Passou recentemente por reformas e tem o peso político a seu favor. O problema é que tem duas candidaturas de peso entre os vizinhos e está distante do "centro", como eles gostam de se referir ao eixo RJ-SP. Se escolhida, deve sediar um dos grupos e pode abocanhar uma das oitavas-de-final.

Florianópolis (Orlando Scarpelli) ****
Leva vantagem por se tratar de um projeto particular do Figueirense que independe da candidatura da cidade, em si. Por isso, é forte candidata. Em tese, porque briga contra a competência curitibana da Arena da Baixada e o peso histórico-político de Porto Alegre. Candidata a uma quarta-de-final ou oitava-de-final.

Recife/Olinda (a ser construído) ****
Centro simpático à CBF, já articulou a construção de um quarto estádio na cidade, este perto da fronteira com Olinda. Dificilmente deixa de ser sede da Copa, mas, provavelmente, não fica com jogos decisivos. Oitava-de-final ou quarta-de-final a vista.

Salvador (Fonte Nova) ****
Candidatura eminentemente política. O estádio da Fonte Nova é ultrapassado e vai precisar de uma boa recauchutagem para sediar jogos em 2014. Mas nada que a caneta do Governo Federal e o apoio da CBF não resolvam... Pode sediar uma quarta-de-final ou oitava-de-final.

Belém (Mangueirão) ****
Também não deve ficar de fora na divisão dos quinhões. Por ficar na grande Belém, tem o acesso facilitado e a possibilidade de uma reforma sem dor de cabeça para a cidade. Ainda precisa melhorar o sistema viário, mas deve receber uma forcinha política da CBF, que não esconde o desejo de ter um estádio na região amazônica. Pode sediar uma oitava-de-final ou quarta-de-final.

Fortaleza (Castelão) ***
Peso político e simpatia da torcida local são trunfos importantes que já trouxeram vários jogos da seleção para a capital cearense. Porém, dessa vez, vai ter que brigar contra concorrentes fortes politicamente no nordeste, como Bahia e Pernambuco. O estádio vai precisar passar por profundas reformas. Se vencer, periga receber um jogo de oitavas-de-final ou até mesmo uma das quartas-de-final.

Manaus (Vivaldão) ***
Deve vencer a disputa interna do norte junto com Belém. Uma candidatura ajuda a outra, pois são centros aparentemente ermos, porém relativamente próximos entre si. O Vivaldão é recente e, desde que reformado na década passada, se tornou um elefante branco que precisa receber jogos da seleção para justificar o investimento feito à época. Uma copa cai como uma luva nesse sentido.

Goiânia (Serra Dourada) ***
O estádio precisa passar por reformas profundas. Não tem cadeiras na maior parte dele, por exemplo. Conta com a força política e a tradição de receber sempre jogos amistosos e eliminatórias. Tem a simpatia da CBF e pode chegar a sediar uma oitava-de-final.

Rio Branco (Arena da Floresta) **
Candidatura aparentemente modesta, a capital do Acre vem com um projeto ambicioso e de pedigree. É assinado pelo mesmo projetista da Arena da Baixada, em Curitiba. Se tiver peso político para sair do papel e vencer o isolamento geográfico, pinta como candidato a sediar jogos da primeira fase e, quem sabe, abocanhar uma oitava-de-final.

Campo Grande (Morenão) **
Empolgação não falta à cidade, que enviou representante à última Euro, em Portugal. O objetivo foi conferir as instalações de lá e as adaptar no Morenão. O problema é que falta peso político à cidade e sobram concorrentes, a começar por Brasília e Goiânia. Se passar, pode lamber os beiços em ser sede da fase de grupos.

Cuiabá (Verdão) **
Os planos para o remodelamento do José Frageli, o Verdão, são ambiciosos. Se a cidade conseguir apoio para o projeto, sai como uma candidata forte. Caso contrário, vai perder espaço para as relativamente vizinhas Goiânia e Campo Grande. Pode sediar até uma oitava-de-final. E deve agradecer se isso acontecer...
Teresina (Albertão) *
Candidatura enfraquecida pelos concorrentes Recife/Olinda, Fortaleza e Salvador. Ainda precisa brigar com João Pessoa para provar que é uma sede possível. As obras previstas estão orçadas em mais de 50 milhões de reais e, como sabemos que esses orçamentos sempre mentem para baixo, vai ser difícil arranjar argumento político para o Governo Federal meter a mão no bolso.

Maceió (Almeidão) *
Idem a Teresina, com a diferença que costuma sediar mais jogos da seleção em amistosos e eliminatórias. O custo das reformas necessárias só se justifica com um bom apadrinhamento político na terra de Fernando Collor.
Natal (Machadão) *
O estádio precisava ser reformado para receber jogos da série A do brasileirão. Se já foi um custo para tudo ficar pronto, imagina em uma Copa...
João Pessoa (Almeidão) *
Vai fazer número, pois não tem condições técnicas nem políticas de brigar com os vizinhos. O estádio está completamente ultrapassado.
Campinas (a ser construído(?)) *
Brigar contra a capital é tarefa inglória para Campinas. Cheira candidatura política. Quer dizer, para promover os políticos de lá...

quarta-feira, 24 de março de 2004

Amansem o Felipe!!!



A pergunta é de meu amigo especialista em automobilismo Rodrigo Mattar. Felipe errou porque quer ser Felipe Mansell ou porque quer ser Nigel Massa?

O fundo de ironia e perspicácia da pergunta resvala na memória de uma audácia muitas vezes desmedida do Leão inglês, campeão mundial uma única vez em 1992 com um carro tão acertado pela Williams que não tinha como dar errado.

Mansell era um show à parte. Andava muito, mas muito rápido. E, não raro, se excedia. Gostava de ter máquinas velozes nas mãos. Velozes e potentes, nas quais podia depositar quinhões de sua fúria nada britânica. Por isso, se mordeu de raiva quando ficou trocentas voltas atrás de Senna, em 1992, no GP de Mônaco: era mais rápido, mas não podia - ou devia, àquela altura - desrespeitar a lei newtoniana. Assim como um ano antes em Suzuka, quando Senna foi tricampeão e o Leão foi chorar suas mágoas na brita.

Massa rodou quando lutou contra a zebra. Logo ela, que já foi dar o ar da graça no segundo grande prêmio da temporada. Na terra malasiana dos petrodólares, o destempero latino de Massa perdeu para a constância cerebral do finlandês Raikkonen. Massa não queria ser zebra de novo. Por isso, atacou demais uma delas. E, olha ela ali, deu zebra na cabeça!

Raikkonen vence porque guia uma ferrari com esilo "mclariano". Roda bem quando precisa, não faz questão de ser audacioso, mas também o é quando tem de ser. Enfim, faz tudo na conta do chá. E chá lembra Inglaterra. E na Inglaterra, voltamos à McLaren.

Digo isso para lembrar que o mundo da fórmula 1 parece não suportar algumas dicotomias. Só para não retroceder tanto no tempo, há pares que não nasceram para ser: Senna-Williams, Alonso-McLaren e, quem sabe prove o futuro (?), Raikkonen-Ferrari.

Por enquanto, a maré de azar alheia combina com um trabalho honesto dos italianos, que rendem a Raikkonen bons resultados. O problema vai ser quando a equipe do cavalo rampante precisar do gás extra do finlandês. Naquele momento em que ele precisar duelar reta a reta, curva a curva com os McLaren. Isso não esperem de Raikkonen. Basta lembrar que o próprio título do finlandês veio um pouco às custas da benevolência de Massa no GP Brasil, somado à trapalhada monumental de Lewis Hamilton, que deixou seu carro - e títulos - morrerem na curva do Lago.

Por um tempo, Felipe vai continuar sem entender por que leva tanta rasteira do destino, já não querendo ser confundido com outro brasileiro que ficou estigmatizado por não vencer nunca - tremenda injustiça, diga-se de passagem. Massa é justamente o oposto. Anda demais, ataca demais, desafia demais. E, às vezes, passa do ponto. Só que, num regulamento que distribui salomonicamente os pontos entre os oito primeiros, passar do ponto é pecado mortal. Fosse no tempo de Mansell, com um Ferrari acertado, Massa já poderia até ter nos dado a honra de mais um título. Por hora, vai brigar contra seus instintos, tendo à sombra outro alemão, este chamado Sebastian Vettel, que, dizem as más línguas, o sucederá em breve.

A conferir...

terça-feira, 24 de fevereiro de 2004

Risos e lágrimas de história


Flamengo campeão. Quem venceu comemore. Quem perdeu se contente...

Botafoguenses se lamentarão pelo pênalti que decidiu a final da Taça Guanabara. Fato por fato, até podem ter razão. A falta foi duvidosa, a expulsão de Zé Carlos equivocada (talvez fosse mais justo eliminar o goleiro Castilho do jogo) e, no 10 contra 9, os rubro-negros tiveram o jogo nas mãos para fazer mais um gol e levantar a taça.

Futebol não é feito pra ser justo, mas para apaixonar. Se tudo fosse honesto no planeta bola, não precisaria de juiz, torcer seria em vão e venceria sempre o melhor. Não houve melhor nem pior nessa final. Houve o elemento humano, sempre a desequilibrar e tornar esse jogo maravilhoso.

Léo Moura desequilibrou, como sempre. Foi dele o passe decisivo para Diego Tardelli, que concluiu com simplicidade e maestria. Não é fácil sair atrás do placar em um jogo decisivo e encontrar forças para reagir. O juiz desequilibrou. Não importa. Com ou sem ele, uma coisa é certa: nos dois jogos mata-mata, contra Vasco e Botafogo, o Flamengo teve a maturidade de um campeão.

Fim de jogo, me intriga o complexo de perseguição alvinegro, que, psicologicamente, traduz uma recusa em se perceber inferior. O Botafogo é inferior ao Flamengo em tudo o que é mensurável, numérico: em torcida, em títulos, em arbitragens pró, em mídia pró, entre outros. O Botafogo é grande, mas infinitamente menor em torcida do que o rubro-negro. Para cada 10 torcedores no Rio, 6 são flamenguistas, 2 vascaínos, 1 botafoguense e 1 tricolor. É o que dizem as duas últimas pesquisas feitas por Ibope e Datafolha.

Quer dizer, há mais empresários flamenguistas, mais comerciantes flamenguistas, mais motoristas, mais catadores de papel, mais homossexuais, mais heterossexuais, mais jornalistas, mais juízes. Juízes? Sim, ou alguém tem a ilusão de que juízes não têm time?

O que o Botafogo não é menor nem maior do que ninguém é no imaginário popular, nos cânticos, na transcendência de um simples 11 contra 11. É nisso que reivindica - e ganha - sua grandeza e sua tradição. Por isso, proclama a frase mais fiel a seus torcedores possível: "ninguém cala esse nosso amor", que podia muito bem dizer "sou alvinegro apesar de tudo e graças a Deus".


Acontece que, quando há um lance duvidoso lá pela metade do segundo tempo e ele pode beneficiar o Flamengo, é natural que seja marcado a favor do Flamengo. Natural não quer dizer certo, mas, como todo time maior (não confundir com grande, que o Rio tem quatro), em grande parte das vezes penderá para ele o benefício da dúvida. O árbitro tem pouco tempo para decidir e sabe que tem duas escolhas: não marcar um pênalti que as câmeras podem revelar ser ou marcar um pênalti que as imagens mostrarem não ser. Sabe que, se optar por não marcar um pênalti que for de fato, pode ser crucificado pela opinião pública, pela federação, enfim, por tanta gente influente e com poder de voto e veto que pode adiar o sonho de alavancar a carreira.

Botafoguenses questionam uma possível omissão conveniente da mídia nesses momentos. Ora, o certo mesmo seria fazer como o Hélio Fernandes Filho, da Tribuna da Imprensa, que estampou na capa a indignação com o erro capital na final do ano passado (quando o bandeira marcou impedimento inexistente em Dodô e expulsou o atacante). Agora, eu questiono: quantos cidadãos de bem comprarão a tribuna da imparcialidade? Eles amanhã vão preferir comprar um jornal escrito "Campeão", "Time de Tradição" ou simplesmente "Créu", ou um que diga: "campeão sim, mas...?". Não adianta, um jornal, uma televisão, um rádio são meios de comunicação de massa e para as massas. Não podem falar uma linguagem diferente da maioria. Que não se confunda isso com mentir. Simplesmente a discussão do pênalti e das expulsões tende a ocupar um espaço menor do que talvez merecesse por justiça.


Porque futebol é paixão e multidão. Se fosse o contrário, os jornais até questionariam com mais veemência o lance capital. Não há nada de anormal nisso. Jornalista não é robô. Além de torcer, sabe que, mesmo querendo ser imparcial, deve levar em conta seu público. Se, daqueles 10 torcedores cariocas, 6 acordassem de mau-humor, sabendo que perderam uma final sem merecer, isso sim seria relevante. Isso sim seria notícia. Falar de imparcialidade absoluta nesse universo é ser hipócrita e ignorar o acontecimento esportivo.


Se a história é a eterna procissão dos vencedores, a notícia esportiva é a romaria dos fiéis torcedores. Para eles e por eles são feitas as manchetes. Como sempre, carregadas de emoções e parcialidades, um pouquinho mais ou menos envernizadas. É assim desde que bola é bola, doa a quem doer.

domingo, 15 de fevereiro de 2004

A estátua que congela a história


Romário faz o milésimo em São Januário e lá estão os holofotes no Reino da Cruz de Malta. Começa a perder a corrida para o tempo e chegam as redes salvadoras de Miranda I a oferecer ao baixinho o cargo de técnico como consolação. Justas homenagens, embora resvalem em um paternalismo conveniente. O príncipe não está só.

Em pouco tempo a história reestabelecerá a verdade dos fatos, pois não glorifica déspotas nem consagra mitos de cera. Miranda I é bem menos do que pensa, mas um dia, como mortal que pretende não ser, perderá a corrida para o tempo. Esse ninguém poderá salvar.

O que a história nem sempre faz é justiça com a omissão. Por isso, a estátua de Romário em São Januário é o pecado capital da administração de Miranda I. Ela mostra o que convém para esconder o que não interessa.

Não que Romário não merecesse uma homenagem à altura de seus feitos - e entenda-se altura meramente no sentido figurado -, mas nos poucos alqueires que se abrem atrás de um gol de São Januário há a fila que história nenhuma pode negligenciar.

De forma curiosa, a torcida faz questão de reestabelecer a justiça religiosamente. A ode ao Expresso da Vitória se mistura nas arquibancadas ao grito singelo; "Roberto, Roberto". Inusitado que o nome do maior ídolo da história do clube surja como sinônimo de protesto. No Reino da Cruz de Malta, democracia é artigo de luxo. E Roberto era democracia.


O palco preferido do 10 era a República do Maracanã. Lá as cadeiras desconheceram brasões e vozes puderam entoar uníssionas a pluralidade de um futebol que encantava. E Roberto era astro. Não a serviço de Miranda I, mas de vascaínos e, principalmente, amantes do futebol-arte. Definitivamente, o Reino da Cruz de Malta era pequeno para sua grandeza.


Como a Gávea é pequena para Zico. Como General Severiano foi pequeno para Garrincha e Laranjeiras para Rivelino. O problema é questionar isso num regime que faz questão de apartar o grande palco de seu público. Se há alguma camisa a ser imortalizada, com justiça aos números e à história, a 10 antes da 11. E se uma só estátua coubesse naquele pedaço de terra, certamente ela teria o 10 nas costas.


Camisa que nem o Santos de Pelé e nem o Botafogo do 7 Garrincha fizeram menção de imortalizar. Sabem que grandes gestos não se retribuem materialmente, pois que são feitos de imagens e memória. Mas vá dizer isso a Miranda I.


Ele pensa que é dono do Reino, mas está de passagem. Em breve, será goleado pela história e, queiram os deuses do futebol, terá suas injustiças despóticas varridas pelo tempo para escanteio.


Um gol de placa que a nação vascaína saberá comemorar como fazia nos tempos de Roberto.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2004

Cornetadas carnavalescas


Depois de postar sobre futebol e fiosofia, ponho a prova o caráter eclético desse blog com uma breve análise do desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro. Sempre fui um entusiasta dos desfiles. Costumo ficar acordado até cedo para acompanhar todas as escolas. De qualquer modo, uma operação de risco extremo, já que o texto é postado a pouco mais de uma hora da abertura dos envelopes, ou seja, será necessariamente desmentido pelo resultado da apuração.

Então, vamos às cornetadas carnavalescas.

São Clemente - Um desfile leve, irreverente e de grande competência. A escola sofre com um problema crônico de preconceito dos jurados, pela sua tradição menor do que as rivais e por isso pena com avaliações muito rigorosas. O enredo foi bem desenvolvido, o samba fácil, a harmonia razoável e um bom conjunto. Como não chegou a ser magnífica, briga para permanecer.

Porto da Pedra - Um bom samba e tema de fácil desenvolvimento, mas pecou pela falta de empolgação dos componentes e pode ser penalizada em harmonia. Os carros também ficaram aquém do nível de acabamento e sofisticação do grupo especial, assim como as fantasias. Briga para não cair.

Salgueiro - Como sempre, desfile empolgante, com um tema de fácil desenvolvimento, bateria impecável e samba na boca dos componentes. Precisa se acertar na evolução, pois, há anos, alterna momentos mais parada na avenida com outros de aceleração. Candidata a voltar no sábado, para o desfile das campeãs.

Portela - Um desfile competente para resgatar a auto-estima da escola de Madureira. Boa harmonia e ótimo conjunto. Vai brigar para voltar às campeãs, embora em alegorias e fantasias esteja ainda um pouco aquém da grandiosidade de algumas adversárias e de sua própria história.

Mangueira - Desfile mediano, prejudicado pela chuva, que molhou as fantasias e murchou as plumas dos componentes. O samba e o enredo não empolgaram na avenida como prometiam. Fica no lucro se voltar no sábado.

Viradouro - Alegorias impecáveis, como sempre, fantasias criativas, embora pesadas em alguns casos, como na ala das baianas. A escola não sambou de maneira fluida e perdeu a espontaneidade. Muito mais passou como numa parada militar, com excesso de coreografias. Por isso, pode perder pontos em harmonia e evolução. Paulo Barros é um excelente carnavalesco, mas acaba "encaixotando" os componentes dentro de sua proposta. Deve voltar no sábado.

Mocidade - Um desfile bonito, surpreendente e à altura das tradições da escola de Padre Miguel. A bateria veio impecável, empurrou o samba para cima (a linha melódica era complexa e questionada por muitos da comunidade) e proporcionou uma harmonia perfeita à escola. As alegorias estavam bonitas, assim como as fantasias. Ótima comissão de frente. Candidata a voltar no sábado.

Unidos da Tijuca - Desfile correto, enredo claro e de fácil vizualização. Embora não tenha contagiado a torcida, empolgou os componentes, que querem deixar de lado a fama de vice e voltar a conquistar um título após 72 anos.

Imperatriz Leopoldinense - Depois de vagar por enredos de qualidade duvidosa, a Imperatriz apostou no que sabe fazer de melhor: contar história (com h). Rosa Magalhães mostrou por que é uma das melhores carnavalescas do país com fantasias muito bem concebidas e acabadas e carros alegóricos muito luxuosos. O senão da escola vai para a harmonia - a primeira metade da escola passou sem empolgação - e o conjunto pecou com essa heterogeneidade do desfile.

Vila Isabel - Bom gosto foi a marca registrada do desfile, que desenvolveu bem o enredo sobre os trabalhadores. Fantasias com bom acabamento e ótimo conjunto. É visível a maturidade da escola da Zona Norte desde que retornou ao grupo Especial em 2005. Sua briga para estar entre as primeiras e retornar no sábado está comprometida pelo último carro, que demorou a conseguir entrar e causou um buraco no fim do desfile.

Grande Rio - Um tema desconhecido, mas desenvolvido e explicado com competência pelo carnavalesco. Desfile correto, boas alegorias, fantasias e comissão de frente ótimas e bom trabalho de harmonia. Briga para voltar no sábado, entre as campeãs.

Beija Flor - Em condições normais, briga pelo título com ampla vantagem. Perfeita em todos os quesitos, fez um desfile num nível acima das demais. Grandiosa nas alegorias e fantasias, porém leve e harmoniosa. Conjunto impecável e samba-enredo envolvente, puxado com extrema competência por Neguinho. Parabéns para ele, para o carnavalesco Laíla e para a bateria perfeita de Mestre Paulinho.

Para quem tem dificuldade de visualizar os itens julgados, vai um pequeno guia dos quesitos dos jurados.


Dez itens são avaliados em um desfile. São eles:

Enredo - A maneira como uma história é contada na avenida ao longo das alas e alegorias. Os eruditos do carnaval gostam de chamar "leitura do samba/tema" pela escola. Durante muito tempo confundi tema com enredo. Um exemplo: a Viradouro veio cantando o "arrepio" em suas mais variadas formas. Um tema difícil, mas que nada tem a ver com o enredo ter sido bem ou mal-desenvolvido. Da mesma maneira, falar da mania de colecionar não garante por si só à Tijuca o sucesso no desenvolvimento do enredo.

Samba-enredo - Melodia e letra compõem um samba. Na melodia, observa-se a coerência harmônica do samba, algo como saber se os acordes musicais andam numa seqüência lógica - isso quase sempre acontece. Além disso, o puxador precisa levar os 80 minutos na avenida sem desafinar nem interpretar uma mesma estrofe de maneira muito diferente. O excesso de puxadores pode contribuir para a desafinação, assim como o desentrosamento com a cadência da bateria. A outra parte da avaliação corresponde à letra. Os versos devem realmente rimar (isso parece óbvio, mas às vezes são vistas rimas de mau-gosto) e terem uma métrica confortável para serem acompanhados pela melodia.

Harmonia - É a pulsação da escola, de dentro para fora. Se vai contagiar o público ou não, isso é outra conversa, mas os componentes devem necessariamente cantar o samba todo de cor, sem erros e em conjunto. Os jurados precisam ouvir a escola uníssona abraçar a melodia e a letra, além, é claro, sambar. Parece também óbvio, mas vale lembrar que muitos gringos e pessoas que não têm gingado participam do carnaval. Elas precisam vir nas alas misturadas com membros da comunidade e foliões antigos da escola. Assim, um puxa o outro e o desfile fica harmônico. Muitas escolas vendem fantasias de uma mesma ala para quem não é da comunidade. O resultado é que ela passa "reta", sem cantar o samba nem vibrar com o desfile.

Bateria - O coração da escola, como todo coração que se preze, deve pulsar forte, mas compassado. Por isso, não dá para alterar o andamento demais ao longo do desfile (começar rápido e depois diminuir e vice-versa). A afinação dos instrumentos também é observada pelos jurados. Como perceber isso? O som sai mais "seco" ou dá muito eco? É possível identificar com clareza cada instrumento ou os sons se fundem de maneira não-harmônica? Ter uma ótima bateria não é tão difícil. Complicado é passar com 10 em todos os jurados.

Evolução - A escola tem 1h20 para cruzar o sambódromo sem correr nem se "arrastar". Para que isso aconteça, as alas têm diretores de harmonia - isso mesmo, harmonia e não evolução - rs - para acelerarem ou retardarem a escola. O ideal é que eles nem precisem entrar tanto em ação. Esse "milagre" costuma acontecer quando a harmonia da escola funciona (os componentes se engajam no samba e fluem naturalmente) e, é claro, haja parcimônia na criação de alas e fantasias (a escola pode ficar muito grande e ter de acelerar). Não pode haver buracos entre as alas nem dentro delas. Esse é um dos quesitos de mais fácil identificação para o público comum. Facilmente se identifica que uma escola "com buracos" vai perder pontos.

Fantasia - As roupas dos componentes precisam ter um bom acabamento - material, pintura e ornamentações -, além de terem cores harmoniosas com as da escola, do enredo e das alegorias. É um quesito mais perceptível quando chove e as plumas murcham. Dá a impressão de que as fantasias estão pobres. Na verdade, a análise é mais minuciosa e complexa e, não raro, é o que acaba decidindo o título para uma das escolas.

Alegorias e adereços - Os carros-alegóricos devem contar o enredo de maneira clara, seus destaques precisam interagir com as formas e desenhos da alegoria. O carro não deve ser necessariamente grande, mas precisa ter acabamento impecável - pintura, desenho, esculturas, elementos cênicos, posição e função dos destaques. Um carro é um palco ambulante que precisa ser sustentado até o fim do desfile de maneira íntegra (não pode cair pedaço, queimar luzes, deixar destaque em perigo, pegar fogo, etc.).

Mestre-sala e porta-bandeira - As escolas geralmente têm dois casais. A porta-bandeira guarda o símbolo maior da escola e precisa bailar com graciosidade e alegria sem jamais deixar a bandeira dobrar, cair ou sofrer qualquer tipo de avaria que dependa dela. O mestre-sala deve cortejá-la mostrando alegria, desenvoltura e samba no pé, além de ajudar a porta-bandeira a manter a bandeira esticada e visível para os jurados. A fantasia deles também é julgada por esse quesito.

Comissão de frente - Deve apresentar a escola de maneira criativa, elegante e harmoniosa. É um dos quesitos mais subjetivos e comparativos. Por isso, não raro é quem acaba decidindo um desfile. Em 2008, pelo sorteio da Liga das Escolas de Samba, vai ser, de fato, quem vai decidir, já que será o último quesito a ter suas notas lidas e o primeiro critério de desempate.

Conjunto - A escola impressionou? Esteve harmoniosa como um todo? As cores das alas combinaram? Houve coesão entre as partes da escola? Uma análise global, subjetiva e difícil de ser feita.