domingo, 29 de abril de 2007

De goleiro vale dois

Lei de atração, só pode ser. Quando os homens de luva resolvem errar, parece que combinam. Senão, como explicar as falhas grosseiras desse fim-de-semana, pelos estaduais do Brasil?
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O vencedor da Palma de Lata é Fábio, do Cruzeiro. Final do Mineiro, 3 a 0 Atlético, eis que seus companheiros erram a saída de bola. Como desgraça pouca é bobagem, lá vai o meia atleticano sozinho com a redonda. Ele chuta e... cadê o Fábio? Fábio caminha pacificamente como se cruzasse a Lagoa da Pampulha num domingo de sol.
Digamos, então, que ele errou por pouco. Já era tarde em BH e, mesmo estando no bairro da Pampulha, a lagoa fica do lado de fora. Dentro ficam as bolas. Uma do terceiro gol, que o goleiro estava indo buscar. A outra do jogo, que um gandula se apressou em repor - talvez querendo adiantar a vida da equipe celeste. Sem saber que a partida havia recomeçado, o pacato cidadão nem dá bola para o jogo e leva um gol histórico. Nunca um goleiro desprezou tanto seu ofício. Fosse um engenheiro, derrubava o prédio; fosse um advogado, perdia a causa; fosse um médico, costurava o paciente com o bisturi dentro. Como é goleiro, só leva vaia.

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André, do Juventude, errou a direção da bola. Enquanto ele ia, a gorducha atrevida voltava. Tomou um balão inapelável da incompetência e nem teve como se defender. Cobertura amarga, gol do Grêmio, que, naquele momento, fazia 2 a 1 em Caxias do Sul. Para o bem da biografia de André, o jogo terminou empatado.

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Empate também no Maracanã, no primeiro jogo da decisão carioca entre Flamengo e Botafogo. Diante de Renato, do Rubro-negro, o goleiro Júlio César cai diante do último drible. Sem alternativa, passa a perna no jogador e ganha o olho da rua. Sorte (ou azar?) de Max, que recebe de mão beijada a chance de ser titular naquele jogo e no próximo, já que o companheiro cumpriria suspensão. E o que Max faz? Leva o gol, ameaça tomar dois frangos e, não satisfeito, entrega a bola nos pés do atacante Souza, que decreta o empate: 2 a 2. Definitivamente, o treinador de goleiros alvinegro vai precisar tomar calmantes para dormir.

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No totó (pebolim ou fla-flu, depende da região), dizem que gol de goleiro vale dois. Pois no fim-de-semana que começa a decidir os estaduais pelo Brasil, os supostos guarda-metas resolveram reivindicar sua importância. Com mãos bobas, provaram por a+b que, diferentemente de outras posições e profissões, com goleiro é assim: falhou um, pagam todos. E o demitido é o técnico...

terça-feira, 24 de abril de 2007

O Henry é bacalhau

Daria um bom enredo para o carnaval 2008. Henry acaba de receber um kit oficial do Vasco da Gama, em Londres. Semana passada, o brasileiro Denílson revelou que o carrasco do Brasil na Copa do Mundo se encantou com os gritos da torcida cruzmaltina. Não pára de repeti-la nos vestiários do todo-poderoso Arsenal.

Imagina a cena: Henry se prepara para enfrentar o Manchester United pelo campeonato inglês. Organização impecável, torcida ordeira, arrecadação invejável. Tudo perfeito, mas nada, absolutamente nada supera na mente do francês os ecos de... Vasco! Vasco!

Ponto para o futebol carioca. Simples, folclórico e cativante. Terra fértil onde, em se plantando, tudo dá bola. Por aqui (ou lá), Obina é melhor que Eto'o, Túlio é Maravilha, Renato reina de barriga e, pasmem!, o Henry é Bacalhau!

Honestamente, que outro pedaço no planeta bola pode oferecer tanto por tão pouco fora das quatro linhas? Parece que os braços do redentor da Guanabara são mesmo generosos com os reis do espetáculo. Arquibancadas criativas, coloridas, redes balançando o tempo todo.

Infelizmente, no Rio tudo o que tange à paixão nacional sobra. Se a alegria é abundante, a violência também; se o folclore é rico, a desorganização idem. Muita gente para mandar, bagunça demais.

Mesmo assim ainda encanta gente como Thierry. No fundo, no fundo, o francês gostaria é de ver os frios aplausos britânicos trocados pelo grito de: Ih! É o Henry!

Do outro lado do mundo, nós, amantes do espetáculo, seguimos sonhando com um futebol um pouco, mas só um pouquinho mesmo, mais parecido com o inglês em termos de organização. O Midas do futebol, que transforma jogadores machucados e aposentados em craques, constrói e destrói mitos como uma criança faz com seus brinquedos merecia mais carinho de seus gestores.

Mas aí seria pedir demais.

sábado, 21 de abril de 2007

Fome de bola

Nada melhor para um atleta do que se sentir atleta. Parece óbvio, mas nem sempre as coisas são tão exatas no mundo da bola.

Ronaldo jogou a Copa visivelmente acima do peso. Isso não é novidade. O que surpreende é ver a nova silhueta do Fenômeno e perceber o quanto isso contribui para ele voltar a ser o melhor centroavante do mundo.

Estar bem de cabeça influi diretamente no desempenho de Ronaldo nos campos. Quem não se lembra do furacão Cicarelli? Durante os poucos meses em que estiveram juntos durante o ano de 2005, o Fenômeno emagreceu, voltou a jogar bem e, só para variar, calou a boca dos seus críticos de plantão.

Os amigos que acompanham esse blog sabem que não costumo postar fotos, digamos, reais aqui. Além da questão do direito de imagem, acho que não casa bem com a proposta. Mas vou me permitir abrir uma exceção. Melhor, três. Reparem como Ronaldo está agora e como estava durante a Copa. Melhor, comparem como está agora com sua forma quando tinha 18 anos, jogando pelo PSV da Holanda. De qual Ronaldo está mais próximo o Fenômeno?


Melhor do que constatar a melhora física é perceber o ânimo do jogador. Já havia ficado caricata a forma como ele falava nas entrevistas, sempre para dentro, como se resmungasse de dar uma resposta. Agora mudou. Em italiano fluente, fala em desafio, superação de marcas e voltar ao posto de melhor do mundo. E querem saber de uma? Ele já merece retomar o posto perdido na Seleção Brasileira. Com 30 anos, sobra em campo. Vigor, disposição e categoria que põem os hoje selecionáveis por Dunga no chinelo. Prova disso? Vejam a atuação do Fenômeno neste sábado, contra o Cagliari, pelo campeonato italiano. Dois gols decisivos para a vitória 'rossonera', um deles de peito, esbanjando categoria.

Se Romário é o rei da área, Ronaldo é mestre do tempo. Sabe como ninguém a melhor hora de chutar, como enganar o goleiro esperando aquele décimo de segundo ou passar o zagueiro para trás trocando a passada. Se lembram daquele gol contra a Turquia nas semifinais da Copa 2002?

Para deixar todos nós com água na boca, lá vai a grande atuação de Ronaldo contra o Cagliari, na vitória milanesa por 3 a 1. Partida de gala do Fenômeno, que rendeu elogios até de Emilio Butragueño, ex-jogador da seleção espanhola e diretor esportivo do Real Madrid. Ele afirmou, com propriedade: Ronaldo faz a diferença.
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segunda-feira, 16 de abril de 2007

O crime compensa

Gatunos!

ROUBO – ARTIGO 157, § 2º, INCISO I, DO CÓDIGO PENAL – ARMA DE FOGO NÃO APREENDIDA – PRESUNÇÃO DE POTENCIALIDADE OFENSIVA JURIS TANTUM, CABENDO À DEFESA SUA NEGATIVA – DEPOIMENTOS TESTEMUNHAIS E DECLARAÇÕES DA VÍTIMA ANUNCIANDO O USO DA ARMA DE FOGO POR PARTE DO AGENTE – SUFICIÊNCIA. Em bom e claro português: o safado pegar na cara dura seus pertences na sua frente, sem direito a defesa imediata. E por falar em defesa...


O Botafogo foi roubado em pleno Maracanã, diante de sua própria torcida! O larápio não veste preto nem tem apito na boca, mas sabe tirar como ninguém um doce de criança. Rafael Savério Gatti. Gatti, em italiano, se traduz em 'gatos'. Em bom português da Região dos Lagos dá no mesmo. Ágil, atento, perspicaz e com uma boa dose de sorte, o jovem goleiro, de 22 anos, saiu do anonimato para reinvindicar suas sete vidas. Fechou o gol do Cabofriense e garantiu o empate por 2 a 2 no primeiro jogo da final da Taça Rio. Mesmo a torcida alvinegra, sempre desconfiada e supersticiosa, não esperava por uma atuação dessas. Como um raio não cai duas vezes no mesmo lugar... (bom, em se tratando de Botafogo, pode até ser que caiam não dois, mas duzentos!)


Em Goiás, Fabrício Carvalho, da equipe homônima do estado, usou o polegar direito para deixar o Esmeraldino em vantagem nas semifinais do Goiano contra o Vila Nova. (Des)Honestamente: pegou mal, Fabrício! Polegar para baixo pra você. O juiz errou, mas o verdadeiro ladrão vestiu verde e branco neste domingo.

No sul, o Caxias roubou a vantagem do Grêmio. Três a zero inapeláveis puseram por terra a melhor campanha do Gauchão. Paciência, agora o Tricolor vai ter de devolver a goleada para se classificar.

Em São Paulo, a larápia Federação Paulista de Futebol conseguiu meter a mão em três de uma vez só. Santos, São Caetano e Bragantino foram impedidos de jogar as semifinais em seus estádios. Melhor para o São Paulo, que decide uma das semi diante de sua torcida, no próximo domingo, no Morumbi.

O Corinthians, por sua vez, não conseguiu roubar do tempo uma semanazinha. Seria o bastante para o Inter cair fora da Libertadores, Abel Braga pedir o boné e ir para o Timão. Restou outro gaúcho: Paulo César Carpegiani.

Minas Gerais viu dois roubos apenas. O Atlético, que financiou o Democrata de Governador Valadares, que chegou às semifinais, que abriu mão de jogar em casa para enfrentar o Galo no campo adversário, que deu vantagem ao time da capital, que venceu por dois a um, que, convenhamos, foi uma vergonha! Fica a pergunta: precisa disso, Clube Atlético Mineiro, campeão Brasileiro e trinta e tantas vezes campeão mineiro? Que papelão!

Felipe Massa venceu com méritos no Bahrein, mas foi Lewis Hamilton quem roubou a cena. O jovem e distinto inglês correu com precisão britânica e cavalheirismo de outro planeta. Chegou em segundo, aplaudiu Massa ainda na pista - ah, eles são rivais de equipe - e ainda por cima lidera o campeonato, dividindo a façanha com Alonso e Raikkonen. Mas o simpático Lewis não parece dar muita bola para esse negócio de ter que dividir os méritos. Sangue negro nas veias deste cidadão de bem. Tapa de luva de piloto na cara dos racistas apressadinhos!

Para não roubar muito seu tempo, fico por aqui. Abaixo, as provas dos crimes, com seus respectivos ladrões. Quem reconhecê-los na rua chame a polícia! Pensando bem, melhor não chamar. Sabe-se lá o que vão fazer...

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Réu: Gatti
Profissão: Goleiro do Cabofriense
Roubo: Tirou a vitória do Botafogo.
Arma do crime: Duas luvas, dois olhos arregalados e vários gritos de gol presos.
Pena: Reclusão de 7 dias da torcida e time alvinegros, que vão pensar num modo de mudar a história. Algema neles!

Réu: Fabrício Carvalho
Profissão: Atacante do Goiás
Roubo: Gol do Goiás, quatro portas, primeiro dono: Diego Armando Maradona, tratar com o gatuno da camisa alviverde.
Arma do crime: Polegar direito.
Pena: Jogar a próxima partida e ficar zombando da cara do juiz otário, que ainda vai pegar um gancho da Comissão de Arbitragem.
(Acho que errei a mão...)

Réu: Sociedade Esportiva e Recreativa Caxias do Sul
Profissão: Time de futebol
Roubo: Vantagem do Grêmio
Armas do crime: Juninho, Everton e Thiago Machado
Pena: Jogar tranqüilo o segundo jogo da semifinal, podendo perder até por 2 a 0. Será que o crime compensa?

Réu: Federação Paulista de Futebol
Profissão: melhor deixar pra lá...
Roubo: Três mandos de campo nas semifinais do Paulistão 2007.
Armas do crime: Canetas.
Pena: Quem disse que tiveram pena de alguém?
(acho que errei de jogo...)

Réu: Clube Atlético Mineiro
Profissão: Time de futebol
Roubo: Equipe inteira do Democrata (?) de Governador (?) Valadares
Arma do crime: Canetas.
Pena: Jogar pelo empate no mesmo campo da primeira partida, quando atuou como visitante. Simples, né?(eu fico com a pureza da resposta das crianças)

Réu: Lewis Hamilton
Profissão: Piloto de Fórmula 1
Roubo: Roubou a cena.
Armas do crime: Pé direito impiedoso e mão direita generosa.
Pena: Ganhar a simpatia do 'circo' da F1, liderar o campeonato, impressionar, voar baixo... (esse não tem salvação)(acho que agora acertei, alright? ;)

domingo, 8 de abril de 2007

O mundo dá voltas em Rubens

Sei, sei. Foi de propósito. É possível que eu tenha arrancado risadas do amigo. Acho que parece inevitável falar de Barrichello no Brasil sem ser cômico ou trágico, mas juro que vou tentar.

Em 1993, mais um brasileiro chega à principal categoria do automobilismo mundial, e juramos estar diante de uma promessa. Enquanto Senna faz uma de suas exibições de gala, desta vez em Donnington Park, Rubens aproveita a chuva para se destacar. Guia de forma audaciosa, chega a aparecer em segundo e, a quatro voltas do fim, quando se prepara para dividir o pódio com Ayrton... tem problemas com o sistema de abastecimento de seu carro e abandona a corrida.

No ano seguinte, Barrichello passa reto na 'variante baixa', uma curva relativamente fácil do circuito de Ímola. Seu carro se choca contra a barreira de pneus, vira e ele deixa o autódromo desacordado. Desperta atordoado, felizmente com ferimentos leves. No hospital, é consolado pelo seu amigo e grande ídolo Ayrton Senna e, impedido de correr naquele fim-de-semana, vê da televisão a maior tragédia do automobilismo brasileiro.

Grande Prêmio da Áustria de 2002, dia das mães, última volta. E lá vai Cléber Machado narrar a vitória merecida de Rubinho: 'A mãe do Barrichello, Dona Ideli, feliz da vida, vendo o filho ganhar a segunda (corrida na carreira) / Vai ter música da vitória? / A Ferrari vai atrapalhar nosso domingo? / Vem Barrichello. / Encosta o Schumacher. / Hoje não! / Hoje não! / Hoje sim... / Hoje sim? / É inacreditável / Não há a menor necessidade de a Ferrari fazer isso.'

Pois fez. E se cansou de fazer, às vezes de forma mais clara, em outros casos com manobras mais sutis. Assim, Rubinho viu de seu cockpit Schumacher faturar cinco títulos mundiais. Entre curvas e retas da Austrália ao Japão, se alternou entre o fiel escudeiro Sancho Pança e o Cavaleiro da Triste Figura, até se arremessar em 2006 contra a Ferrari para tentar a sorte na Honda.

O desafio parecia tentador: largar o papel de segundo piloto e vestir a capa de super-herói em uma equipe promissora. A Honda inaugurava seu vôo solo na Fórmula 1, embora houvesse vencido quando forneceu motores para outras. Então, não seria exagero dizer que Rubens tinha a cara da equipe, cansada de ser trampolim para o sucesso alheio.

Justamente quando ele imagina que as lentes brasileiras se voltariam para sua aventura nipônica, elas permanecem no carro vermelho. Felipe mal chega e é recebido pelos italianos com sorriso de orelha a orelha. Enquanto isso, Rubinho arrasta sua Honda a duras penas até o fim de uma corrida.

Quando se sai bem, Barrichello é superado pelo novo companheiro de equipe. Enquanto isso, Massa conquista a simpatia de ferraristas e brasileiros. Carismático, audacioso, inteligente. Não faltam adjetivos a quem consegue, de primeira, o que Rubens tentou a vida inteira com homérico insucesso: vencer o Grande Prêmio do Brasil. Pior: com um macacão verde e amarelo feito exatamente para o pupilo que, acredite, Rubinho! Acaba de ganhar de presente a aposentadoria de Schumacher. Hoje não! Hoje sim...

Se Massa roda, excesso de audácia. Se quebra, só acontece com os grandes campeões. Se vence, é o novo Senna. Rubinho continua no diminutivo. Larga mal, tem de se explicar; larga bem, ih... já vi esse filme antes. Quando foi mesmo a última vitória dele?

Chegamos então a 2007. Apelidado carinhosamente de 'meu mundinho', o novo Honda mostra a Terra da perspectiva de um satélite. Finalmente, o piloto que passou 13 azarados anos levando volta do destino, ganha um planeta só dele.

A bordo do Honda ecológico, Rubens conduz sua luta contra as injustiças do mundo, mas não consegue fazer sua Terra completar as voltas que o regulamento determinam. Fossem moinhos de vento, estariam aos pés de Rubens. Como não são, passam sorrateiramente por ele. Cada ultrapassagem que leva o faz lembrar que o tempo não pára. E arrasta com ele as ilusões de uma história promissora, tragicamente abortada nas expectativas de um 1º de maio. Dia do trabalho. Dia em que perdemos Ayrton. E Rubens ganhou um fardo que não o deixa trabalhar.

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Abaixo, você confere a última volta e o pódio do GP da Áustria de 2002, com narração de Cléber Machado e comentários de Reginaldo Leme, pela Rede Globo.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Os vira-latas e o gênio da 11

Existe uma teoria bastante interessante sobre a supremacia brasileira no futebol mundial. Ela dá conta de que só somos os donos da bola porque perdemos a final mais ganha de todas as Copas.

De fato, o Mundial de 50 foi esculpido sob medida para o país-sede. Enchemos os estádios, goleamos os adversários, até saímos na frente dos uruguaios na final. Mas dizem que não estávamos preparados para sair aclamados como vencedores.

Humilhada pelo ego inflado brasileiro, a Celeste Olímpica buscou uma virada improvável que silenciou 200 mil vozes no Maracanã. Não que os uruguaios tivessem feito uma exibição de gala naquele 16 de julho de 1950, mas o desdém que sofreram antes da partida os transformou subitamente em guerreiros. Encaravam cada dividida com a volúpia de um faminto diante do prato de comida. Assim protagonizaram a maior tragédia do esporte nacional.

Oito anos depois, caminhávamos para a Suécia em busca do título perdido, e o sábio Nélson Rodrigues diagnosticava, com precisão: “...somos, em geral, franzinos, mirrados, fraquinhos, de uma pobreza de músculos lastimável. (...) fisicamente falando, uma verdadeira miséria. Moles, bambos, murchos, tristes - uma lástima! Pálpebras caídas, beiços caídos, braços caídos, um caimento generalizado que faz de nós um ser desengonçado, bisonho, indolente, com ar de quem repete, desenxabido e encolhido, a frase pulha que se tornou popular: Me deixa”

Pois foi assim que trataram o Botafogo no domingo e o Gama na quarta. Que eram simples coadjuvantes do milésimo gol de Romário, tudo bem. O problema é não ter sido sequer levantada a possibilidade de essas equipes evitarem a fatalidade posta. Não só conseguiram isso, como roubaram o papel principal de vitoriosos.

Logo após a conquista do primeiro Mundial pelo Brasil, em 1958, o mesmo Nelson Rodrigues decretava o fim do 'complexo de vira-lata':

"Já ninguém mais tem vergonha da sua condição nacional. E as moças na rua, as datilógrafas, as comerciárias, as colegiais, andam pelas calçadas com um charme de Joana d’Arc. O povo já não se julga mais um vira-latas. (...) A partir do título mundial, começamos a achar que a nossa tristeza é uma piada fracassada. Afirmava-se também que éramos feios. Mentira! (...) Na pior das hipóteses, somos uns ex-buchos."

Como diria aquele comercial, ser o patinho feio não tem preço. Calar um estádio, desmentir a unanimidade burra é feito que nenhum troféu paga. Ou há coisa melhor do que correr livre pela imensidão das vozes constrangidas e dizer de peito aberto: eu já sabia - ainda que nós mesmos lá no fundo duvidassemos de nossa capacidade?

O Vasco também é vítima da grandeza de Romário. O elenco inteiro cruzmaltino não chega aos pés da imponência do milésimo gol. Aliás, poderiam juntar todos os gols dos outros jogadores que não chegariam à marca de 500. Hoje não seria exagero dizer que um Romário não vale meio Vasco.

Aí está o divã cruzmaltino: se joga em função de Romário, o time vira um falso Golias, pronto a despertar a ira dos ultrajados Davis. Se cai na real e não dá bola para o Baixinho, deixa evidente suas limitações técnicas e se transforma em presa fácil.

De qualquer modo, é bom os comandados de Renato abrirem o olho. Romário está a um capítulo de dar as costas para o Vasco e aposentar de vez a camisa 11, deixando milhões de corações órfãos de uma nau sem rumo.

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Abaixo, os melhores momentos de Vasco 1 x 2 Gama/DF, no Maracanã, pela segunda fase da Copa do Brasil 2007. As imagens são do canal a cabo Sportv e a narração de Milton Leite, com comentários de Paulo César Vasconcelos.


Agora, o que aconteceu de melhor em Botafogo 2 x 0 Vasco, pela quarta rodada da Taça Rio 2007. As imagens são do canal de TV a cabo Sportv, com narração de Roby Porto e os comentários de Alex Escobar.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Presente de Natal

Está decidido: o Vasco enfrenta o Gama nesta quarta-feira no Maracanã. Era para ser mais um jogo sem graça pela Copa do Brasil, mas quem mandou Romário não fazer o milésimo contra o Botafogo? Sobrou para Juninho, da equipe Candanga. Justo ele, que jurava ter evitado o constrangimento de ser coadjuvante da festa do Baixinho - no jogo em Brasília, que terminou 2 a 2, Romário poderia fazer dois e chegar ao milésimo. O pobre goleiro jurava ter escapado dessa...

Decepção em Brasília, alegria em Natal. Vejam só. Como o jogo do Vasco está marcado para o mesmo dia de Fluminense x América, o jeito foi improvisar uma rodada dupla. As duas equipes se enfrentam às 19h15 e, logo depois, assistem de camarote a Vasco x Gama. Isso tudo sem o risco de entrar para a história como o time do milésimo do Romário... Quer motivo maior para os jogadores potiguares comemorarem?

Pois eles existem. Deus anda sendo muito generoso com um clube que tem o diabólico Dragão como mascote. Basta dizer que o América é um dos quatro times na primeira divisão em 2007. A insólita proeza se deu num ensolarado mineirão de novembro, diante de 70 mil atleticanos que abarrotaram o Gigante da Pampulha, celebrando o título da segundona. Festa completa, Beth Carvalho cantou, a torcida festejou até dizer chega. Inclusive tinha o jogo, que só valia para cumprir tabela. Isso para o Galo, porque para o sparring rubro de Natal valia a quarta e última vaga para a série A.

Bastava um empate para o Mecão, mas, com 15 do segundo tempo, o empolgado e invicto Atlético sapecou o segundo. Pouca gente prestou atenção quando, a apenas 10 minutos do fim, Max empatou o jogo 'amistoso' para o América. Era a alegria que faltava para os constrangidos visitantes: classificação e um belo horizonte pela frente.

Voltando à Copa do Brasil. Não é exagero dizer que os potiguares vêm ao Rio a passeio, afinal perderam o primeiro jogo em casa para o Flu por 2 a 1. Nada mal para o simpático Dragão presenciar um momento único na história do futebol. Justamente um xará do clube que levou o primeiro dos 999 gols do baixinho: o América do Rio.

Coisas do futebol.