sexta-feira, 4 de junho de 2004

Com que cidade eu vou?

Postei sobre a influência política nos 21 projetos das 22 cidades candidatas a sede da Copa do Mundo em 2014. A seguir, você fica sabendo quem são elas e quais as chances de cada uma, com base no projeto apresentado e nos atributos... você sabe, políticos.

Rio de Janeiro (Maracanã) *****

Não que seja o melhor estádio do Brasil, mas conta com o aval político da CBF e o peso histórico de ter sido palco de uma decisão de copa, em 1950. Basta saber se vai abrir ou encerrar a competição.


São Paulo (Morumbi) *****

Candidatura apresentada logo que a CBF abriu para as cidades, briga com o Rio para ver quem abre e quem fecha a competição. Muita coisa precisa ser feita em termos de acesso e conforto dos torcedores, mas tem o aval político.


Curitiba (Arena da Baixada) ****
Nome certo na Copa, estádio moderno, adaptado às exigências da Fifa, conforto para o torcedor, opções de estacionamento e acesso. Precisa apenas aumentar sua capacidade. Deve sediar uma quarta-de-final, uma oitava-de-final ou a disputa do terceiro lugar.


Brasília (Mané Garrincha) ****

Candidatura não só avalizada como elogiada pela CBF. Brasília rima com política. Fazer uma copa no Brasil sem jogos na capital é idéia fora de cogitação. Candidata a receber uma quarta-de-final, uma oitava-de-final ou a decisão do terceiro lugar.





Belo Horizonte (Mineirão) ****

Peso político, proximidade do eixo RJ-SP credenciam o Gigante da Pampulha a receber jogos decisivos, como uma semifinal, uma quarta-de-final ou a disputa do terceiro lugar. Ainda precisa passar por algumas reformas para atingir o nível exigido pela Fifa.


Porto Alegre (Beira-Rio) ****

Passou recentemente por reformas e tem o peso político a seu favor. O problema é que tem duas candidaturas de peso entre os vizinhos e está distante do "centro", como eles gostam de se referir ao eixo RJ-SP. Se escolhida, deve sediar um dos grupos e pode abocanhar uma das oitavas-de-final.


Florianópolis (Orlando Scarpelli) ***

Leva vantagem por se tratar de um projeto particular do Figueirense que independe da candidatura da cidade, em si. Por isso, é forte candidata. Em tese, porque briga contra a competência curitibana da Arena da Baixada e o peso histórico-político de Porto Alegre. Candidata a uma quarta-de-final ou oitava-de-final.


Recife/Olinda (a ser construído) ***

Centro simpático à CBF, já articulou a construção de um quarto estádio na cidade, este perto da fronteira com Olinda. Dificilmente deixa de ser sede da Copa, mas, provavelmente, não fica com jogos decisivos. Oitava-de-final ou quarta-de-final a vista.


Salvador (Fonte Nova) ***

Candidatura eminentemente política. O estádio da Fonte Nova é ultrapassado e vai precisar de uma boa recauchutagem para sediar jogos em 2014. Mas nada que a caneta do Governo Federal e o apoio da CBF não resolvam... Pode sediar uma quarta-de-final ou oitava-de-final.


Belém (Mangueirão) ***

Também não deve ficar de fora na divisão dos quinhões. Por ficar na grande Belém, tem o acesso facilitado e a possibilidade de uma reforma sem dor de cabeça para a cidade. Ainda precisa melhorar o sistema viário, mas deve receber uma forcinha política da CBF, que não esconde o desejo de ter um estádio na região amazônica. Pode sediar uma oitava-de-final ou quarta-de-final.


Fortaleza (Castelão) ***
Peso político e simpatia da torcida local são trunfos importantes que já trouxeram vários jogos da seleção para a capital cearense. Porém, dessa vez, vai ter que brigar contra concorrentes fortes politicamente no nordeste, como Bahia e Pernambuco. O estádio vai precisar passar por profundas reformas. Se vencer, periga receber um jogo de oitavas-de-final ou até mesmo uma das quartas-de-final.


Manaus (Vivaldão) ***
Deve vencer a disputa interna do norte junto com Belém. Uma candidatura ajuda a outra, pois são centros aparentemente ermos, porém relativamente próximos entre si. O Vivaldão é recente e, desde que reformado na década passada, se tornou um elefante branco que precisa receber jogos da seleção para justificar o investimento feito à época. Uma copa cai como uma luva nesse sentido.


Goiânia (Serra Dourada) ***
O estádio precisa passar por reformas profundas. Conta com a força política e a tradição de receber sempre jogos amistosos e eliminatórias. Tem a simpatia da CBF e pode chegar a sediar uma oitava-de-final.


Rio Branco (Arena da Floresta) **
Candidatura aparentemente modesta, a capital do Acre vem com um projeto ambicioso e de pedigree. É assinado pelo mesmo projetista da Arena da Baixada, em Curitiba. Se tiver peso político para sair do papel e vencer o isolamento geográfico, pinta como candidato a sediar jogos da primeira fase e, quem sabe, abocanhar uma oitava-de-final.


Campo Grande (Morenão) **
Empolgação não falta à cidade, que enviou representante à última Euro, em Portugal. O objetivo foi conferir as instalações de lá e as adaptar no Morenão. O problema é que falta peso político à cidade e sobram concorrentes, a começar por Brasília e Goiânia. Se passar, pode lamber os beiços em ser sede da fase de grupos.


Cuiabá (Verdão) **
Os planos para o remodelamento do José Frageli, o Verdão, são ambiciosos. Se a cidade conseguir apoio para o projeto, sai como uma candidata forte. Caso contrário, vai perder espaço para as relativamente vizinhas Goiânia e Campo Grande. Pode sediar até uma oitava-de-final. E deve agradecer se isso acontecer...


Teresina (Albertão) *
Candidatura enfraquecida pelos concorrentes Recife/Olinda, Fortaleza e Salvador. Ainda precisa brigar com João Pessoa para provar que é uma sede possível. As obras previstas estão orçadas em mais de 50 milhões de reais e, como sabemos que esses orçamentos sempre mentem para baixo, vai ser difícil arranjar argumento político para o Governo Federal meter a mão no bolso.


Maceió (Rei Pelé)*
Idem a Teresina, com a diferença que costuma sediar mais jogos da seleção em amistosos e eliminatórias. O custo das reformas necessárias só se justifica com um bom apadrinhamento político na terra de Fernando Collor.


Natal (Machadão)*
O estádio precisava ser reformado para receber jogos da série A do brasileirão. Se já foi um custo para tudo ficar pronto, imagina em uma Copa...


João Pessoa (Almeidão) *


Vai fazer número, pois não tem condições técnicas nem políticas de brigar com os vizinhos. O estádio está completamente ultrapassado.


Campinas (a ser construído(?)) *Brigar contra a capital é tarefa inglória para Campinas. Cheira candidatura política. Quer dizer, para promover os políticos de lá...

Copas fora

Não que o Brasil merecesse sediar uma Copa do Mundo, mas, seguindo o rodízio de confederacões determinado pela Fifa, o Brasil não encontra concorrentes sul-americanos. Logo, sera mesmo sede da Copa 2014.

Cumprindo, então, o cronograma estabelecido internamente pela entidade máxima do futebol brasileiro, essa semana marcou o encerramento do prazo para as cidades brasileiras apresentarem sua candidatura. E lá vamos nós com 22 possíveis futuros palcos do principal evento do futebol mundial. No fim, apenas 10 restarão.

Por incrível que isso possa parecer, nem bem o Brasil lançara sua candidatura e seu principal estádio fora sumariamente excluído pela CBF. O Maracanã estava ultrapassado e inadequado às exigencias da Fifa? Nada disso. Política mesmo. A CBF, com sede no Rio, não via com carinho a torcida local desde que a seleção venceu a Bolívia por 5 a 0, no Maracanã, no longínquo ano 2000. Goleou debaixo de vaias, embora Romário tenha sido exceção.

Ali, ficou límpido para a Confederação Brasileira de Futebol – como, alias, nunca foi novidade – que jogar no Rio é encarar uma torcida exigente ao extremo. Crítica e bairrista mesmo. Mande um carioca escalar sua seleção ideal sem enxertar pelo menos cinco jogadores formados ou atuantes no futebol da Cidade Maravilhosa.

Mas não é que, como num passe de mágica, troca o commando na Superintendência de Esportes do Estado do Rio e o Maracanã é afagado não só com a possibilidade de ser uma das sedes, mas, com apoio explícito de Ricardo Teixeira, vira a menina-dos-olhos da CBF? Em um ano, o estádio recupera o prestígio perdido, a torcida deixa de ser um empecilho e o estádio se vê irresistivelmente impelido a sediar jogos das eliminatórias para a Copa. Novamente, o “maior do mundo” é seríssimo candidato à grande final. Competência administrativa? Política mesmo.

São Paulo se apressou em mostrar o Morumbi como provável sede. Esse é barbada. Recentemente reformado, deve passar por novas obras antes de ouvir o sim da generosa Confederação Brasileira de Futebol. A Federação Paulista de Futebol se cansa de dar alegrias à CBF, assinando tudo que é cheque em branco quanto às grandes decisões tomadas pela entidades. Competência? Nem tanto. Política mesmo.

Não fica difícil “escolhermos” nossos outros estádios preferidos. Um deles é o Mineirão, estádio ainda muito longe dos padrões exigidos pela Fifa, mas que conta com o aval do destemido presidente da CBF. Se tem uma Federação amiga e que não dá a menor dor de cabeça ao alto commando do futebol brasileiro é a FMF, na figura de seu presidente e dos irmãos Perrela, presidentes eternos do Cruzeiro. Portanto, mineiros, fiquem tranqüilos: o Gigante da Pampulha está apto a receber jogos da Copa.

O mesmo raciocínio se aplica ao Beira-Rio, do Internacional de Porto Alegre. Fábio Koff, gaúcho antes de gremista ou colorado, tem sido durante muito tempo os braços direito e esquerdo da CBF nos Pampas. Centro tradicional de contestação a qualquer movimento do “centro”, Porto Alegre não tem oposto uma vírgula às decisões da Confederação Brasileira de Futebol nos últimos 20 anos.

Os oito restantes entram mesmo pelo mérito geográfico – mas pode chamar de coronelismo. Espalhar os quinhões nos quarto cantos do país sempre foi obssessão do presidente da entidade máxima do futebol brasileiro. Se a Arena da Baixada, em Curitiba, é candidata incontestável pela sua infra-estrutura, o mesmo não se pode dizer, por exemplo, dos estádios do nordeste. E quem se importa com isso por lá? O Governo de Pernambuco, por exemplo, se apressou em encomendar uma daquelas maquetes de empreiteira para mostrar que tem condições de construir um dos complexos mais modernos do país até 2014. Isso porque já há três estádios só em Recife…

E podem esperar porque pelo menos dez das vinte candidaturas não têm seus palcos aprontados. Mas quem disse que eles não serão? Possivelmente, todos ficarão lustrosos, nem que seja para sediar jogos isolados da seleção e entrar na fila de candidatos desesperados. Tudo com o aval da CBF, com o dinheiro do contribuinte e, assim como no Pan, na base da euforia nacional que esconde os superfaturamentos de obras, as licitações sem transparência, os problemas de infra-estrutura maquiados, e por aí vai.

Ainda falta bastante para a Copa da CBF, mas, passar os olhos pelas audaciosas candidaturas de nossas cidades - e a forma como elas são magicamente avalizadas pela entidade máxima do futebol brasileiro - pode se revelar um bom exercício crítico. Assim, quem sabe, não deixamos nosso precioso dinheiro ir pelo ralo do banheiro para parar numa copa qualquer.
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Candidatas e chances (indicadas pelas estrelas)

Rio de Janeiro (Maracanã) *****
Não que seja o melhor estádio do Brasil, mas conta com o aval político da CBF e o peso histórico de ter sido palco de uma decisão de copa, em 1950. Basta saber se vai abrir ou encerrar a competição.

São Paulo (Morumbi) *****
Candidatura apresentada logo que a CBF abriu para as cidades, briga com o Rio para ver quem abre e quem fecha a competição. Muita coisa precisa ser feita em termos de acesso e conforto dos torcedores, mas tem o aval político.

Curitiba (Arena da Baixada) *****
Nome certo na Copa, estádio moderno, adaptado às exigências da Fifa, conforto para o torcedor, opções de estacionamento e acesso. Precisa apenas aumentar sua capacidade. Deve sediar uma quarta-de-final, uma oitava-de-final ou a disputa do terceiro lugar.

Brasília (Mané Garrincha) *****
Candidatura não só avalizada como elogiada pela CBF. Brasília rima com política. Fazer uma copa no Brasil sem jogos na capital é idéia fora de cogitação. Candidata a receber uma quarta-de-final, uma oitava-de-final ou a decisão do terceiro lugar.

Belo Horizonte (Mineirão) ****
Peso político, proximidade do eixo RJ-SP credenciam o Gigante da Pampulha a receber jogos decisivos, como uma semifinal, uma quarta-de-final ou a disputa do terceiro lugar. Ainda precisa passar por algumas reformas para atingir o nível exigido pela Fifa.

Porto Alegre (Beira-Rio) ****
Passou recentemente por reformas e tem o peso político a seu favor. O problema é que tem duas candidaturas de peso entre os vizinhos e está distante do "centro", como eles gostam de se referir ao eixo RJ-SP. Se escolhida, deve sediar um dos grupos e pode abocanhar uma das oitavas-de-final.

Florianópolis (Orlando Scarpelli) ****
Leva vantagem por se tratar de um projeto particular do Figueirense que independe da candidatura da cidade, em si. Por isso, é forte candidata. Em tese, porque briga contra a competência curitibana da Arena da Baixada e o peso histórico-político de Porto Alegre. Candidata a uma quarta-de-final ou oitava-de-final.

Recife/Olinda (a ser construído) ****
Centro simpático à CBF, já articulou a construção de um quarto estádio na cidade, este perto da fronteira com Olinda. Dificilmente deixa de ser sede da Copa, mas, provavelmente, não fica com jogos decisivos. Oitava-de-final ou quarta-de-final a vista.

Salvador (Fonte Nova) ****
Candidatura eminentemente política. O estádio da Fonte Nova é ultrapassado e vai precisar de uma boa recauchutagem para sediar jogos em 2014. Mas nada que a caneta do Governo Federal e o apoio da CBF não resolvam... Pode sediar uma quarta-de-final ou oitava-de-final.

Belém (Mangueirão) ****
Também não deve ficar de fora na divisão dos quinhões. Por ficar na grande Belém, tem o acesso facilitado e a possibilidade de uma reforma sem dor de cabeça para a cidade. Ainda precisa melhorar o sistema viário, mas deve receber uma forcinha política da CBF, que não esconde o desejo de ter um estádio na região amazônica. Pode sediar uma oitava-de-final ou quarta-de-final.

Fortaleza (Castelão) ***
Peso político e simpatia da torcida local são trunfos importantes que já trouxeram vários jogos da seleção para a capital cearense. Porém, dessa vez, vai ter que brigar contra concorrentes fortes politicamente no nordeste, como Bahia e Pernambuco. O estádio vai precisar passar por profundas reformas. Se vencer, periga receber um jogo de oitavas-de-final ou até mesmo uma das quartas-de-final.

Manaus (Vivaldão) ***
Deve vencer a disputa interna do norte junto com Belém. Uma candidatura ajuda a outra, pois são centros aparentemente ermos, porém relativamente próximos entre si. O Vivaldão é recente e, desde que reformado na década passada, se tornou um elefante branco que precisa receber jogos da seleção para justificar o investimento feito à época. Uma copa cai como uma luva nesse sentido.

Goiânia (Serra Dourada) ***
O estádio precisa passar por reformas profundas. Não tem cadeiras na maior parte dele, por exemplo. Conta com a força política e a tradição de receber sempre jogos amistosos e eliminatórias. Tem a simpatia da CBF e pode chegar a sediar uma oitava-de-final.

Rio Branco (Arena da Floresta) **
Candidatura aparentemente modesta, a capital do Acre vem com um projeto ambicioso e de pedigree. É assinado pelo mesmo projetista da Arena da Baixada, em Curitiba. Se tiver peso político para sair do papel e vencer o isolamento geográfico, pinta como candidato a sediar jogos da primeira fase e, quem sabe, abocanhar uma oitava-de-final.

Campo Grande (Morenão) **
Empolgação não falta à cidade, que enviou representante à última Euro, em Portugal. O objetivo foi conferir as instalações de lá e as adaptar no Morenão. O problema é que falta peso político à cidade e sobram concorrentes, a começar por Brasília e Goiânia. Se passar, pode lamber os beiços em ser sede da fase de grupos.

Cuiabá (Verdão) **
Os planos para o remodelamento do José Frageli, o Verdão, são ambiciosos. Se a cidade conseguir apoio para o projeto, sai como uma candidata forte. Caso contrário, vai perder espaço para as relativamente vizinhas Goiânia e Campo Grande. Pode sediar até uma oitava-de-final. E deve agradecer se isso acontecer...
Teresina (Albertão) *
Candidatura enfraquecida pelos concorrentes Recife/Olinda, Fortaleza e Salvador. Ainda precisa brigar com João Pessoa para provar que é uma sede possível. As obras previstas estão orçadas em mais de 50 milhões de reais e, como sabemos que esses orçamentos sempre mentem para baixo, vai ser difícil arranjar argumento político para o Governo Federal meter a mão no bolso.

Maceió (Almeidão) *
Idem a Teresina, com a diferença que costuma sediar mais jogos da seleção em amistosos e eliminatórias. O custo das reformas necessárias só se justifica com um bom apadrinhamento político na terra de Fernando Collor.
Natal (Machadão) *
O estádio precisava ser reformado para receber jogos da série A do brasileirão. Se já foi um custo para tudo ficar pronto, imagina em uma Copa...
João Pessoa (Almeidão) *
Vai fazer número, pois não tem condições técnicas nem políticas de brigar com os vizinhos. O estádio está completamente ultrapassado.
Campinas (a ser construído(?)) *
Brigar contra a capital é tarefa inglória para Campinas. Cheira candidatura política. Quer dizer, para promover os políticos de lá...