sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Doce caminho



Felizes dos que sabem quem são e para onde vão. Para eles, nunca há morte. Apenas recomeço.

Quem caminha a passos lentos como se pisasse um jardim de rosas sem lhes  ferir uma pétala sabe que dor não se cultiva.

Quem sorri a um mendigo como sorri a um príncipe sabe que sofrimento é purificação.

Quem aprendeu a não ter inimigos sequer terá a última como ameaça. 

Almas assim não se libertam. Já estão livres por essência. Estar aqui ou lá para elas é indiferente.

Pobre de nós que precisamos desses pingos de luz e lamentamos quando alguns deles se apagam.

Na verdade não se apagam. Mas estamos prontos para enxergá-los além?

Quem é essa doçura de alma que cura a maldade do mundo com sua simples presença?

Quem é Deus? Olhe para esses cabelos brancos e comece a descobri-lo em sua pureza. 

Ela não reclama.

Ela sorri sempre.

E se basta em sua pureza.

Esboço de infinito.

Por isso permanece

A rogar por um mundo melhor.

sábado, 28 de abril de 2012

Cativar para libertar


Quem não sonha ou já sonhou ter um filho? Eu quero muito ter um, se Deus assim me permitir. Mas confesso não fazer questão de que seja biologicamente meu.


Não podemos resolver a questão da desigualdade social e racial do mundo, mas temos a oportunidade de, em pequenos gestos, reconhecer no outro a extensão de nós mesmos. Uma delas é pela adoção.

A criação e o desenvolvimento de um filho são puramente culturais. Dependem muito mais do carinho dos pais e das influências do meio em que estão inseridos do que de razões biológicas. Os determinantes genéticos, a bem da verdade, servem basicamente para duas coisas: definir doenças potenciais e características físicas.

Se adoto uma criança sã - até mesmo especial, o que de maneira alguma invalida sua capacidade de se desenvolver na sociedade dita "normal" - a única coisa que teria a lamentar seria o fato de o filho adotivo não ser parecido comigo. Mas, honestamente, isso é motivo para alguém se lamentar?

Só em um mundo que privilegia as aparências. Quantos filhos ditos "de sangue" - expressão que só mostra ignorância e visão limitada do ser humano - não são completamente diversos dos pais? E aí não me refiro aos olhos da mesma cor ou à pele do mesmo tom, muito menos se os cabelos são lisos ou cacheados. Muitos filhos de sangue são diariamente largados no próprio lar por pais que não fazem a menor questão de dispensar o amor que lhes seria devido. Se são sangue do meu sangue, devem pensar, herdarão os bons costumes. E os vêem muitas vezes se tornarem adultos sem o menor cuidado em mediar suas relações sociais em bases éticas. 

Por isso, antes um filho adotivo com caráter, visão humana, cidadão de bem e amoroso. Aliás, costumam receber mais cuidado e atenção de seus pais de coração e não por acaso se tornam também pessoas mais humildes, carinhosas, compreensivas, enfim, especiais mesmo. Milton Nascimento é uma delas. Dono de um olhar terno e uma voz que toca a alma profundamente, metade da alma e do sorriso de Milton resolveriam 90% das questões de nosso mundo superficial, competitivo e corrosivo.

Se um dia tiver dois filhos e puder escolher, é certo que ao menos um deles será adotivo. E criarei com o mesmo amor, dedicação e cuidados que o suposto "filho de sangue". Na verdade, sangue só existe um. Vermelho. Como olhos existem para ver igualmente e mãos para sentirem igualmente. Diferente é pensar diferente.