terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Anar é...


Anar é não dar bola para a tristeza que bate a porta, ser mais feliz do que um dia cinza e chuvoso pode sugerir.

Anar é contar histórias simples, mas que provoquem risos, é dançar conforme a música e saber que elas não são tão complicadas quanto pensamos.

Anar é abraçar, agarrar, ir e vir, driblar o tempo sem refletir muito sobre o que nos deixa deste ou daquele modo. Anar é viver a vida de cada dia e ponto.


Anar pode não exigir um talento nato com as palavras, mas quem disse que isso é preciso? Se anar dia após dia nos faz felizes e enche nossa alma de pingos de luz, já é o bastante.

Anar é como este texto. Não mais do que três linhas por parágrafo. Não mais do que algumas palavras. Mas basta que elas passem por nossos olhos para garantirem mais um dia de alegria em nossas vidas.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Quem não chorou?


Eu chorei, quem não chorou?


Chorei a perda de meu país para os ditadores do falso milagre.

Chorei a anistia, chorei a queda do Muro de Berlim.

Aliás, chorei o nazismo, chorei o Apartheid e a morte do sonho de igualdade entre os homens.

Chorei a injustiça nossa de cada dia, que consagra ladrões de terno e gravata e relega homens de bem às calçadas da indiferença.

Por isso chorei quando me senti injustiçado, mesmo que durante noventa minutos de um jogo. Ora, o que é um jogo? A vida é um jogo. Meu jogo é minha vida.

Mas chorei com dignidade, porque as lágrimas me foram concebidas com o milagre da vida. Com elas me entristeço, dou gritos de alegria, mostro minha revolta, revelo minha gratidão. Com elas vivo meu jogo diário de vitórias e derrotas.

Eu não atiro.

Armas foram feitas por homens para matar homens.

Para matar sonhos, para plantar a desigualdade, para semear a discórdia e dizimar a humanidade.

Infeliz de quem atira no companheiro de trabalho, no colega de equipe, na alegria de um gol, no adversário de campo, na euforia da vitória, no time que o acolheu.

De quem nasceu para atirar só posso lamentar o choro dissimulado que não verte lágrimas e debocha do sentimento alheio.

Porque artilheiro de verdade só sabe atirar bolas para o gol. Ele balança redes e espalha alegria para um povo sofrido, que junta cada centavo de seu mês curto para expurgar suas frustrações e se alegrar por míseros noventa minutos.

Meu artilheiro veste o branco da paz, o preto do luto no momento devido e sabe chorar na derrota. Por isso, seguirei aplaudindo até seus erros em campo, porque sei que seu esforço é fruto sua dignidade.