segunda-feira, 12 de maio de 2014

Erro e consciência


Uma das artes mais difíceis para o ser humano é perdoar. Não apenas o erro alheio, mas o sentimento de culpa que vez por outra atormenta nossa consciência por aquilo que poderíamos ter feito melhor ou simplesmente pelo que deixamos de ser.

O auto-perdão é tão ou mais importante do que o perdão às falhas dos outros, porque nos livra das amarras da culpa. É, antes, um ato de desprendimento do ego, sempre a nos cobrar perfeição no agir, sucesso nos afazeres, defesa do espaço - tangível ou não -, preservação da autenticidade e manutenção do status.

A auto-punição corrói reações psíquicas e as relações pessoais. Põe fim a amizades, desata casamentos e limita o agir. Apenas por querer preservar nossas máscaras sociais ou prestar contas de nossa pseudo-integridade, punimos inconscientemente nosso campo mental e flagelamos sutilmente nosso corpo perante o ambiente que deveria nos acolher.

Diante da impotência do não-perdoar, ora tendemos à depressão, ora atiramos contra o mundo, espelhando nos que nos cercam nossas próprias carências, construindo assim falsos pontos de apoio para levarmos nosso dia-a-dia com cacos mal-juntados de personalidade.

Não devemos ser tão rígidos com nossa integridade. A fragmentação do eu em diversas personas - o eu-pai, o eu-filho, o eu-amigo, o eu-empregado - é necessária à nossa sobrevivência em um mundo que nos cobra rapidez, desempenho e resultados.

Mas a desculpabilização como exercício diário nos faz reler nossos atos sob uma perspectiva menos dolorosa. Aos poucos, nos damos conta de nossas máscaras punitivas ou evasivas e preparamos nossas almas para uma integridade fluente que vai além das imposições e restrições auto-sugeridas.

A partir daí, a consciência tende a rumar à generosidade e, quando menos nos damos conta, já sabemos sorrir para nossos acertos e jurar amor eterno aos erros que nos fazem crescer.