sábado, 17 de setembro de 2005

Hora de agradecer


Definitivamente, não posso reclamar do que recebi de Deus nessa vida. Saúde, paz, uma família maravilhosa, amigos e 27 anos bem vividos.

Minha infância me traz recordações maravilhosas. Caminhar pelas ruas de terra descalço, jogar futebol no campinho careca de Maria Paula, em Niterói, foram alguns dos presentes que Papai do Céu me deu através de minha mãe. Uma pessoa de amor incondicional, carinho ímpar e cuidados constantes com o bem-estar dos filhos. Aliás, com o bem-estar de todos os que sempre estiveram a sua volta.

Ali, na simplicidade dos dias e noites, no contato com gente das mais variadas classes sociais, pude viver uma infância e uma adolescência plena. Que se completou já em Icaraí, mais perto da parte central de Niterói. Tive uma banda com um grupo de amigos. Ensaiávamos na sala de casa. Minha mãe soube alimentar o sonho enquanto percebeu que ele não atrapalharia minha vida. Um dia, conversou com firmeza e doçura. E me fez mudar de rumo.

Uma mudança que curiosamente me afastou fisicamente dela. Estudando para o vestibular, me mudei para o Rio, atendendo a um chamado antigo de meu pai, com quem, aliás, sempre minha mãe teve ótima relação – mesmo depois de separados.

Passei para Comunicação na UFRJ, onde vivi experiências únicas. Amigos inesquecíveis e minha primeira namorada. Primeira de verdade. O primeiro beijo, as primeiras dúvidas de um relacionamento. E como Deus foi generoso! Deu-me a chance de estar com alguém especial como Andreia. Uma namorada que me mostrou caminhos no sentido mais literal. Despertou em mim uma paixão que nem eu sabia que tinha: caminhar em trilhas e conhecer a natureza.

Um dia nos separamos. Foram três anos inesquecíveis, mas era a hora. Hoje, ela está feliz. E a cada dia que eu falo com ela me sinto ainda mais contente por vê-la tomado o melhor caminho na vida.

Dentre os muitos motivos do término, o procedimento cardíaco em abril de 2005 que me deixou numa mesa cirúrgica acordado por duas horas levando pequenos choques no coração. Não posso reclamar de nada. Pelo que os próprios médicos disseram, no teste de esteira que revelou a arritmia, tudo poderia ter terminado. Mas continuou, pela graça do Pai, que me permitiu seguir a vida. E como aprendi. Recebi o carinho de familiares de Minas, daqui, de amigos e da Andreia. Mas percebi como aquilo causava sofrimento para todos. A família é pra sempre, mas os amores vêm e vão. E, acima de tudo, merecem ser felizes. Eu sabia que um dia chegaria a minha hora de ser. E não podia prendê-la.

Terminamos em 2005, no dia do meu aniversário - 17 de dezembro. Curiosamente, dez anos antes, na mesma data, vivia um dos dias mais especiais de minha vida, curtindo o único título brasileiro do meu time do coração, o Botafogo. Foi sofrido e me doeu muito, sobretudo pelos pais e familiares dela, pessoas de um caráter e compreensão com o meu quadro clínico impressionantes.

Minha vida seguiu com Márcia, alguém de quem sempre vou levar as melhores recordações possíveis. Uma mulher experiente, 36 anos, doce e carinhosa. Aprendi muito com o senso de doação e responsabilidade da Marcinha. Nos juntamos um ano após nos conhecermos. Vivemos juntos em uma ilha na Barra, onde eu trabalhava. A Gigóia foi mais um dos muitos presentes de Deus pra esse filho que errou tanto na vida... Um lugar acolhedor pela tranqüilidade. Não entram veículos, não há violência... barulhos, só o do vento nas plantas e o dos pássaros cantando.

Fiz amigos, tive uma casa e uma companheira. Nem tudo deu certo, mas curti muito. Os vizinhos eram maravilhosos, vivíamos em comunidade – no sentido mais estreito da palavra. A ajuda mútua, os almoços comunitários... Márcia esteve em todos esses momentos. Mas as turbulências eram muitas, se somaram ao problema do coração e um dia ela se foi.

Mais uma vez, recebi o apoio da minha família. O que mais me surpreendeu foi o carinho com que a família dela me tratou. Não apenas no momento em que a Marcinha foi embora, mas durante os dois anos em que estivemos juntos. Acolheram a mim como um filho, um neto, um irmão, enfim, como sou grato a eles!

Profissionalmente não tenho nada do que reclamar. Estagiei em lugares maravilhosos como a revista Ciência Hoje e o Sportv, onde recebi minha formação verdadeiramente e aprendi a amar televisão. Nesse sentido, só tenho a agradecer a pessoas como o Marcelo Barreto, que não só me encaminhou lá dentro como entendeu quando minha saúde não permitiu minha continuidade. Barreto me apresentou ao pessoal do Globoesporte.com assim que voltei a trabalhar. Pouco depois, me mudaria pra Barra, em dezembro de 2006.

Como repórter dos Jogos Pan-Americanos, contratado pelo próprio comitê organizador, tive uma experiência única. Ao lado de uma equipe de voluntários incrível, fiz amigos e tirei lições pra vida a partir da experiência na Arena Multiuso do Rio de Janeiro.

Se aprendi a ser uma eterna criança com minha mãe, meu pai me incutiu ainda mais responsabilidade e o senso de caridade com ações como a distribuição de sopa aos moradores de rua. Também foi com ele que comecei as atividades no espiritismo, um meio de autoconhecimento e alívio para a dor nos momentos mais difíceis.

De volta ao Sportv em novembro de 2007, graças ao convite de outros dois grandes amigos, o Armando Freitas e o Luiz Franco – o Lufi -, tive a chance de retornar ao meu lar profissional. Depois fui contratado para fazer parte do Sportv News, sob a coordenação do Chafi Haddad, um dos melhores chefes que já tive na vida, pela compreensão, firmeza, serenidade e conhecimento. O Sportv foi a sexta casa da minha vida. Lá passei por momentos maravilhosos e alguns de apreensão. Foi onde a doença se manifestou de forma mais intensa.

Por falar nela, acho que é o momento de agradecer também aos profissionais que me deram apoio, como a Sônia, o Daniel, o Antônio, a Verônica e os doutores Sérgio e Marcos. Todos me ajudaram a aliviar o peso das crises e, quem diria!, em meio a isso tudo, ter morado sozinho, voltado a trabalhar e, acima de tudo, entender o que se passava com o meu corpo.

Já cheguei a crer que tudo não passava de um pesadelo, já imaginei que a batalha estava perdida, mas entre vitórias e derrotas ficou a certeza de que nada é por acaso. O aprendizado que tirei desse sofrimento me ajudou a crescer muito. É quando me volto a Deus e agradeço novamente por essa existência.

Todos me ajudaram muito a ter 27 anos da melhor vida que eu podia, tanto espiritual quanto materialmente falando. E agora, que começo a me recuperar, sinto que é o momento de agradecer. Obrigado Pai, Mãe, Ângela, Marcelo, Gabi, Bella, Juninho, Gabriel, Andreia, Márcia, Cristina, Marilene, Sérgio, Baptista, Maria Sena, Sérgio Thiesen, Greici, Luiz, Josué, Barreto, Armando, Lufi, Chafi, Mari, Serra, Isabel, Victor, Ana Paula, Néia, Dani e tantos amigos que eu fiz em casa, no trabalho e grupos espíritas que participei. Obrigado ao Diego por viabilizar o sonho de entrar na faculdade e ensinar. Obrigado, Jô, por estar me ajudando a buscar a felicidade e me fazer tão bem!

Obrigado também aos meus avós - valeu, vó, sei que a senhora está olhando por nós agora -, tios, primos e parentes emprestados, todos lá de Minas (BH, Oliveira e Carmo da Mata), minha madrinha Luci e meu padrinho Nemésio. Como foram importantes pra mim e como tenho que agradecer a Papai do Céu por eles existirem. Às inúmeras falanges espirituais que me acompanham ao longo de minha existência, em especial meu Anjo da Guarda. E, finalmente, a um amigo especial que me acompanhou nos melhores e piores momentos da minha vida. Valeu, Felipe! Você foi meu braço direito. Sou eternamente grato pela tua alegria, companheirismo e fé.

Nada é por acaso. O importante é fazer dos pequenos momentos grandes aprendizados. A eternidade se constroi na linha tênue entre o espaço palpável e o tempo intangível. Deus abençoe a todos nós. Agora e sempre.