sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Reflexos


Será que estamos preparados para sermos nós mesmos, com a alma despida dos preconceitos, medos e julgamentos? Conseguiremos caminhar pelas palavras sinceras sem nos ferirmos com espinhos ou escorregarmos na espuma da falsa brandura?


Um dia, um bom dia será simplesmente o desejo de um dia bom e não a expressão protocolar. A felicidade estará não em minha promoção, meu status ou nos elogios recebidos. Sonho com aquela manhã em que bastará olhar o sol pela janela e agradecer por cada amigo existir.

Aliás, ainda sonho fazer amigos com a pura intenção de sorrir na sua presença. De deixar o tempo passar suave como uma brisa de fim de tarde e compartilhar dos bons sentimentos sem, no entanto, esperar uma gota que não seja por pura sinceridade. Poderei dizer 'eu te amo' e ser verdadeiramente compreendido? Ou amar ainda será verbo intransitivo, exclusivo e excludente?

Se for, não verei o mesmo amor que criou os sorrisos, os olhares, o cantar de um pássaro ou a beleza da singularidade. Todo o mundo não passará de reflexos num espelho distorcido a nos aumentar o ego ou diminuir o moral.

Ainda assim, valerá a pena viver pelo simples prazer de aprender com cada pegada. Ora em desertos de solidão, ora em nuvens de esperança. De qualquer modo, sempre em passos de gratidão.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Assim sou


Por crer num mundo mais puro e honesto, vi muitas coisas ruírem. Da ruína, tenho juntado os cacos para meu aprendizado. E confesso: carrego um certo orgulho infantil de querer que olhares sejam verdadeiros, pessoas ajam conforme pensam e não se magoem com a crítica ou inflem seu ego com o elogio.

Sei que esse é um mundo distante, mas não me ensinaram a viver em outro. Por isso sofri e aprendi tanto em tão pouco tempo. Mas sorri bastante também. Inclusive quando muitos pareciam sérios demais com seus afazeres.

De uns tempos para cá, e cada vez mais, tenho seguido o caminho do coração, mas sem abrir mão de uma coisa: caráter. Quero poder olhar nos olhos dos meus amigos e perceber em suas ações a única e singela vontade de serem felizes sem que isso custe a infelicidade alheia. Então seria pedir muito que não nos escondamos em nossas vaidades, preconceitos, falsos julgamentos?

Também seria exigir demais que o amor sempre liberte em sua essência, pureza, honestidade, com o único propósito de existir pela beleza de se conjugar a cada instante? Que a boa vontade seja algo assim natural, como um abraço, um beijo ou um desejo de boa sorte? 

Se isso for muito, rogo a Deus que proteja meu caminho e me faça entender um pouco dessa vida louca.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Amor incondicional


Eu acredito no amor puro. Acredito que pessoas podem se abraçar com simples intenção de trocarem afeto e sentirem-se umas às outras. Que podem se ver com ternura sem segundas intenções.

Acredito no poder do amor sincero, maduro, digno. De um sentimento verdadeiro, ético, belo e instigante.

Enquanto eu crer nesse poder, vou viver em busca de amores. Amores errantes, sinuosos, imperfeitos e por isso mágicos. Não precisam virar rolo, namoro, noivado ou casamento. Apenas que se bastem por sua essência. Que nos engrandeçam, sublimem, façam pensar e crescer.

Eu te amo, você sabia? Ainda não aprendi a me amar como deveria, e por isso esse amor tantas vezes não transparece, outras tantas é vacilante, temeroso. Mas te tenho como irmão ou irmã, amigo ou amiga, cúmplice.

Seus problemas? Estou aí para eles sim. Pode me contar. Tenha aqui um braço amigo para ajudar a suportar o peso sobre tuas costas. Posso não saber como, mas acredito na força transcendental da união. Juntos venceremos sempre.

Seremos amigos, amantes, amores, o que Deus nos permitir. Amo viver. Esse amor nos junta para sempre, mesmo que jamais venhamos a nos conhecer definitivamente.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Erro e consciência


Uma das artes mais difíceis para o ser humano é perdoar. Não apenas o erro alheio, mas o sentimento de culpa que vez por outra atormenta nossa consciência por aquilo que poderíamos ter feito melhor ou simplesmente pelo que deixamos de ser.

O auto-perdão é tão ou mais importante do que o perdão às falhas dos outros, porque nos livra das amarras da culpa. É, antes, um ato de desprendimento do ego, sempre a nos cobrar perfeição no agir, sucesso nos afazeres, defesa do espaço - tangível ou não -, preservação da autenticidade e manutenção do status.

A auto-punição corrói reações psíquicas e as relações pessoais. Põe fim a amizades, desata casamentos e limita o agir. Apenas por querer preservar nossas máscaras sociais ou prestar contas de nossa pseudo-integridade, punimos inconscientemente nosso campo mental e flagelamos sutilmente nosso corpo perante o ambiente que deveria nos acolher.

Diante da impotência do não-perdoar, ora tendemos à depressão, ora atiramos contra o mundo, espelhando nos que nos cercam nossas próprias carências, construindo assim falsos pontos de apoio para levarmos nosso dia-a-dia com cacos mal-juntados de personalidade.

Não devemos ser tão rígidos com nossa integridade. A fragmentação do eu em diversas personas - o eu-pai, o eu-filho, o eu-amigo, o eu-empregado - é necessária à nossa sobrevivência em um mundo que nos cobra rapidez, desempenho e resultados.

Mas a desculpabilização como exercício diário nos faz reler nossos atos sob uma perspectiva menos dolorosa. Aos poucos, nos damos conta de nossas máscaras punitivas ou evasivas e preparamos nossas almas para uma integridade fluente que vai além das imposições e restrições auto-sugeridas.

A partir daí, a consciência tende a rumar à generosidade e, quando menos nos damos conta, já sabemos sorrir para nossos acertos e jurar amor eterno aos erros que nos fazem crescer.