segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Cidade maravilhosamente tricolor


Com o mesmo número de jogos que o vice-líder Cruzeiro e nove pontos à frente do time mineiro, o São Paulo chega ao último terço do campeonato brasileiro com a mão na taça. Só perde para si mesmo e ainda assim se fizer muita força. Fase maravilhosa com a bênção do Redentor, de braços abertos para o clube mais bem estrutuado e planejado do país.

É na cidade fundada por Mem de Sá que residem as maiores glórias tricolores na temporada. Primeiro, com a vitória sobre o então vice-líder Botafogo, no fim do primeiro turno. Se alguém tinha dúvidas de que o título de 2007 estava muito bem encaminhado para o tricolor, a prova dos nove foi dada ali, diante de 50 mil torcedores do rival. E quando a vantagem já estava consolidada, foi a vez de desbancar o Vasco, invicto há um ano em seu estádio e com o melhor aproveitamento em casa entre os 20 participantes do Brasileirão.

O terceiro triunfo são-paulino em terras fluminenses veio nesta quarta sem que a equipe precisasse derramar uma gota de suor. Não é difícil imaginar que a vitória cruzeirense diante do Flamengo e uma derrota para o Santos no fim-de-semana poderia derrubar a confortável vantagem de nove pontos, construída com tanto cuidado e planejamento. Os 3 a 1 rubro-negros foram o presente de natal antecipado que todo tricolor gostaria de ter recebido. Agora é ter paciência para esperar os jogos que restam.

Entra jogador, sai jogador e o São Paulo não muda a maneira de jogar. Defesa sólida e ataque cada vez mais produtivo são a certeza de que Muricy Ramalho tem o time nas mãos. O tricolor é a prova daquela máxima: técnico ganha e perde jogo. Por isso, não é exagero jogar a culpa neles quando um time vai mal, afinal, quando o trabalho é bem feito, os jogadores viram mais uma peça dentro da engrenagem da equipe. Por que então na Europa os técnicos não viram bodes-expiatórios?

É que lá eles estão submetidos a uma rigorosa e austera estrutura dentro dos clubes. São eles próprios parte da engrenagem, composta também por torcedores-sócios, diretores técnicos e jogadores com prazos de validade contratual decentes. No Brasil, falar nesse tipo de organização é cair numa utopia impensável até mesmo em terras são-paulinas. Então fica combinado que a promiscuidade beira-campo é inevitável, emblemática e educativa, como que a dar a medida da desorganização de nossa administração esportiva. Os técnicos recebem para arrumarem times e não dores-de-cabeça para dirigentes amadores de fala fácil. Pagam o pato pelos insucessos de um futebol efêmero.

Chega a soar irônico que uma das cidades com o futebol mais carente de organização da série A consagre o clube mais estruturado do país. Em um lugar onde a regularidade tricolor soa irritantemente sem-graça, fica o exemplo para que os cariocas recuperem a glória perdida em algum lugar do passado e que hoje passa à frente de suas janelas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nem precisa dizer que eu concordo com tudo, né? Onde é que eu assino?

E a "glória perdida" realmente ficou no tempo em que, no futebol, valia mais um time de craques em campo que uma boa estrutura administrativa fora dele.

Fato é que os clubes cariocas não se tocaram que os tempos são outros, que fenômenos, galinhos, dinamites, folhas-secas e reis viraram lenda e que, hoje, futebol é feito de outras estrelas, como planejamento, estrutura e organização.

Se os cariocas soubessem aproveitar o produto que têm - torcida + tradição - para alavancar suas receitas, por exemplo, os tempos de glória não estariam apenas na memória de seus torcedores.