quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Como pode um peixe vivo...

O cruzamento de Jorge Luiz é perfeito. Romário se estica, mas perde para o tempo. Fosse bola, estaria sorrindo de orelha a orelha. Como é Peixe, mergulha no vazio e só encontra a rede.

Romário sonhou com gols. Deram-lhe oito. Pediu uma partida para a história. Por sete vezes a rede balançou em apenas 45 minutos. Suplicou emoção. Disputa de pênaltis. Mas que destino é esse que entrelaça o Peixe na ilusão do quase? Que oferta aquilo que um jogo tem de melhor para o artilheiro, exceto para um sonhador agonizante?


Ninguém deu bola para ele. Bola nos pés do meio-campista, cadê Romário? Bola para o lateral, onde está Ele? Os deuses olham, mas até para eles é difícil encontrar o gênio. Definitivamente, 11 não é a bola da vez. Estatura?

Estigma.

Em noventa minutos tingidos de preto e branco, Romário não tem seu sonho revelado. Ao fim do jogo, suas pernas se transfiguram em cristal frágil, a acusar 23 anos de serviço prestado às redes. Desaba no gramado. "Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só,
mas sonho que se sonha junto é realidade."

Cansados da romaria angustiante, seus companheiros de equipe não sonharam com o milésimo. Se pudessem, todos reservariam uma baliza só para que ele realizasse sua fantasia e, finalmente, deixasse todos trabalharem. Mas a grandeza do Peixe não permite a nau cruzmaltina seguir rumo solo. Por hora, o Maracanã será sempre palco do onze. Só depois, dos outros dez coadjuvantes.

Sem forças, Romário vê seu time e seu sonho serem penalizados. O Peixe olha fixo e abatido para as redes. E, como apraz ao destino de sua espécie, não esboça reação.

11 de abril de 2007. No dia da estrela solitária Romário, foi outra que brilhou. Na verdade, uma constelação de 11 homens com brio de general e sorte de gloriosos. O Botafogo segue em busca do sonho do bi. Ao Peixe, resta descansar em sua rede de ilusões e aguardar a próxima janela do destino se abrir.

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Abaixo, você confere como foi Botafogo 4 x 4 Vasco no Maracanã, pelas semifinais da Taça Rio pela Globo com a narração de Galvão Bueno e comentários de Sérgio Noronha.