domingo, 3 de outubro de 2004

Um sonho ao alcance













Diria o pessimista que sonhar com uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada no Brasil é perda de tempo. Realizar ambos os eventos em um intervalo de dois anos, então, seria possibilidade quase nula até para o mais fantasioso otimista. Mas com base em fatos, e boas justificativas, o Brasil se vê, hoje, com boas chances de receber a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

O caderno de encargos para a realização da Copa já foi entregue à Fifa. O país segue no pleito como candidato único. Consistente, o projeto brasileiro conta com as garantias governamentais firmadas pelo presidente Lula, além de estar voltado para a captação de recursos financeiros do setor privado – diferentemente do projeto do Pan, que foi quase todo bancado pelos cofres públicos.

No dia 30 de outubro, a Fifa confirma ou não o Brasil como sede da Copa-2014. As chances de ouvir o “sim” da entidade são do tamanho do sonho de receber novamente, depois da Copa de 50, o evento maior do futebol. Enquanto a Copa parece uma conquista mais palpável, o objetivo de sediar uma Olimpíada está um pouco mais distante. Ainda assim, a ambição do Comitê Olímpico Brasileiro é realista e, sobretudo, realizável.

Há um longo caminho a ser percorrido até a data em que o COI anunciará a cidade-sede das Olimpíadas de 2016, em outubro de 2009. Sediar um evento olímpico requer estrutura e planejamento muito mais consistentes que a organização de um Pan-Americano.

A postulação do Rio de Janeiro à sede olímpica surge em um momento favorável. O sucesso do Pan, e o ganho em infra-estrutura esportiva proporcionado pelo evento, credenciam a cidade como forte candidata a receber os Jogos Olímpicos em 2016. Os governos federal, estadual e municipal também já deram garantias e apoio à candidatura do Rio. Sem contar esses fatores positivos a favor da cidade, o próprio COI já admitiu o desejo em levar uma Olimpíada até a América do Sul.

Para isso, a entidade afirma que a América do Sul precisa “atrair” os Jogos. Cada vez mais consolidada como uma cidade global, especializada em receber grandes eventos, o Rio de Janeiro tem tudo para concretizar essa atração.

A história, ainda, faz questão de contradizer quem não acredita na possibilidade de o Brasil sediar dois megaeventos em um curto espaço de tempo – 2014 e 2016. Em 1970, o México recebeu a Copa do Mundo, sendo que, dois anos antes, havia recebido também os Jogos Olímpicos.

Mas o Brasil pode trilhar o mesmo caminho percorrido pelos Estados Unidos na década de 90. Em 1994, os norte-americanos sediaram a Copa e, dois anos mais tarde, a cidade de Atlanta foi sede da Olimpíada. Em 1987, os Estados Unidos haviam organizado os Jogos Pan-Americanos, na cidade de Indianápolis. Após sete e nove anos, respectivamente, o país recebeu a Copa de 94 e as Olimpíadas-96. Coincidentemente, essas são as mesmas distâncias de tempo que separam o Pan do Rio de Janeiro, realizado este ano, da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Não dá para comparar as condições financeiras e estruturais de Estados Unidos e Brasil. No entanto, até 2014, o país tem tempo suficiente para traçar planejamentos sólidos e menos dependentes do dinheiro público para receber dois megaeventos esportivos. Ocasião e história conspiram a favor do Brasil. Portanto, daqui pra frente, sonhar alto faz parte das regras do jogo.

[Só como base de comparação: www.chicago2016.org, este é o site oficial da candidatura de Chicago, que, ao lado do Rio de Janeiro, já desponta como favorita para sediar as Olimpíadas 2016. Em uma rápida passagem pelo site, dá pra ver que a cidade tem pouquíssimas instalações prontas. Quase tudo não passa de projeções. E o projeto, a princípio, é bem parecido com o modelo aplicado no Rio para o Pan. A briga promete ser boa entre as duas cidades.]

2 comentários:

Rafa Barros disse...

Ganhando ou perdendo, o importante é insistir na candidatura. O mesmo México venceu a eleição para a Copa de 1986 depois que a Colômbia abriu mão da candidatura em cima da hora. O fato é que os membros da Fifa enxergaram o México muito mais como um país entusiasta do evento (já abrigado em 1970, apesar de um terremoto que assolou a cidade do México nas vésperas), capaz de empreender todos os esforços possíveis para realizar esse tipo de competição.

O mesmo se deu com Londres, em 1948. Pela sua excelência esportiva e contribuição para o desenvolvimento do Movimento Olímpico, além da questão política favorável, foi tida pelo COI como única capaz de abrigar os Jogos Olímpicos do pós-guerra. O mesmo ocorreu com o Brasil em relação à Copa de 1950, país distante do cenário geográfico de caos e com uma cultura futebolística fantástica.

O importante, em todos esses casos, é que, mesmo sem condições técnicas aparentes, as cidades estavam maduras do ponto de vista cultural. Os habitantes, impregnados do ideal olímpico e dos valores universais a ele associado, deram um importante sinal verde de que estavam dispostos de corpo e alma para receber o evento, e Isso conta mais do que parece.

Quando escolheram Atlanta, em 1996, a parte comercial pesou. Entretanto, Sydney 2000 mostrou uma vontade ímpar dos australianos em se associar ao empreendimento olímpico, associando a modernidade do projeto aos anseios de um novo século. Atenas, por sua excelência histórica e cultural, também atropelou os problemas de infra-estrutura de transportes e instalações esportivas sabidos por todos.

O Pan foi um teste para nossa capacidade de organização, mas, sobretudo, para o amadurecimento de nossa cultura esportiva. Falar de voleibol, basquetebol, tênis e atletismo por aqui ainda é lidar com esportes amadores. O comportamento de nossa torcida em alguns eventos, como ginástica, mostra isso.

A cultura olímpica é um importante item que precisamos desenvolver. Sem ela, não há dinheiro, projeto ou organização que dobre os companheiros de Jacques Rogge. O mesmo se pode dizer com relação ao futebol, esse sim, prontíssimo na cultura esportiva dos brasileiros. Por isso, acredito que a copa do mundo seja nossa sim, mas daí a sediar os Jogos Olímpicos, vai uma certa distância...

Breiller Pires disse...

Realmente, nesse quesito, da cultura olímpica, a gente ainda tá devendo. Sinal de que precisamos receber mais eventos de grande porte, como o Mundial de Judô e por aí vai.

Ainda há um tempo razoável até a escolha da sede de 2016 para que essa cultura olímpica seja aperfeiçoada e que os esportes amadores - pelo menos aqui no Brasil - se tornem cada vez mais difundidos.

Com esforços nesse sentido, acho que dá para o Rio de Janeiro pelo menos figurar entre as cidades finalistas na disputa.