terça-feira, 11 de setembro de 2007

Por onde partem os corações


Tudo deveria estar bem, afinal fora uma decisão madura, consciente, segura.

Mas nem sempre as coisas funcionam na prática como se pensa. Ele continua muito, mas muito angustiado por tudo o que vem acontecendo. Não agüenta mais a escuridão, a clausura que se instalou de fora para dentro e de dentro para fora em sua nova casa.

Não agüenta ter de pensar que há um ano curtia sua esposa, com quem tinha uma casinha linda, com quintal para cuidar, comida para fazer, compras do mês, tanta coisa dessas simples, que passavam batidas mas que agora ele vê como fazem falta... Por isso, basta pensar um segundo. Basta olhar uma foto que seja de celular, ali, pequenininha, para as lágrimas caírem dos seus olhos ao perceber que deixou escapar por seus dedos um momento tão especial da sua vida.

Assim, nem forças encontra para manter um segundo relacionamento. Achou que tivesse tomado uma decisão segura de dar chance a alguém que o amasse, mesmo que ele próprio não correspondesse. E lá foi uma menina nova, coitada, pagar o pato dessa incapacidade dele de pensar em outra coisa que não tudo o que lhe escapou pelos dois rios que desceram e ainda descem dos seus olhos para desaguar na lagoa de um passado recente.

Não tem coragem de pensar como seria voltar. Não consegue sequer passar perto daquela ilha. Longe dali, sua vida se automatiza, ele pouco a pouco vira escravo de remédios novamente, sente sono demais, sai de menos, apenas faz canalizar energia para o trabalho, sua válvula desregulada de escape. E quantos não querem um trabalho... Mas ele não quer só trabalho. Não sabe se basta para ser feliz.
Está corroído porque ainda ama alguém que o ama mas não tem coragem de dizer a si própria que pode, deve e quer tomar uma decisão definitiva.

Ele faria tudo para ter de volta o sorriso sincero no rosto, a alegria de viver, fosse brigando daqui, discutindo dali, mas amando. E ele não sabe o que é amar desde quando ela virou as costas para ele e para a casinha dos dois. E se foi.


No fundo ele sabe que nem sempre as coisas correm como se quer.
Por isso, se limita a tocar a vida, mesmo sem ser tocado por ela. Segue um bom trabalhador, mas um ser humano ferido. Não foi só a casa, não foi só a companheira, não foi só a família. Foi um menino-homem de 23 anos que, do dia para a noite, descobriu que não podia mais jogar tênis, ir do Flamengo ao Leblon de bicicleta, jogar futebol aos domingos, correr no aterro, curtir a praia.

Tudo passou a ser doloroso desde 2004. Uma dor que não passa. No máximo, se alivia. Mesmo a esposa, que lhe jurou fidelidade, zelo e compaixão,
um dia ela se cansou. Como a antiga namorada se cansara. Como ele próprio vem se cansando. Afinal, por mais cativante, por mais amoroso e bacana que tente ser com o mundo, há um momento em que conviver diariamente com esses problemas se torna um fardo muito pesado a todos. Assim, vai deixando aos outros pegadas na areia de que ele não quer reagir diante das ondas da vida. Mas alguém faz idéia do esforço que é um simples caminhar na praia num dia de sol?

É sentir falta de ar, enjôo, tontura. Depois, ir ao médico para descobrir que apenas a pressão está um pouco alta. Mas, vá lá, deve ser ansiedade. Então, tome remédio para ansiedade, tome remédio para depressão. E vem o sono. E vai a vida. Para onde vai a vida? Não sabe.

De uns tempos pra cá, só sabe caminhar olhando para o chão e desviando dos obstáculos. Rogando a Deus proteção para que uma luz apareça, para que acorde desse pesadelo que começou em março de 2004, em sua primeira crise séria, e não sabe que dia vai terminar.

Por isso, ainda assim agradece a Deus por cada dia em que pode se levantar e celebrar a vitória da vida. E segue o rumo que seu coração descompassado lhe ordena.

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