sábado, 25 de outubro de 2008

Precisa-se


Havia um muro intransponível de palavras que ele erguia meticulosamente. Ali sobravam pontos, vírgulas e reticências que transbordavam para o nada. Perdiam-se sem significado que não o de belas palavras ao vento.


Ela queria mais. Palavras deviam tocar, seduzir, mexer com o coração de alguma forma. Procurava a ação, a química, quem sabe com boa dose de generosidade tão somente o olhar penetrante, a transformar sentimento em sensação, sensação em emoção... E daí para paixão seria um pequeno grande salto. 

Mas não havia sequer sensação. Diante das palavras que a ela sobravam, restava a ele o silêncio e a ação. Por onde começar a agir, se perguntava? Como se mover diante da paixão desperta que sequer encontra voz no peito alheio? 

Minguou. E fez adormecer um jardim lindo que brotava a exalar perfumes nunca antes experimentados. A vida que voltava, a luz que se acendia, a música que tocava. Nada disso precisava de motivo, sequer de existência. Bastava a força do amor que ele sentia. Deixou de bastar.

Curioso que tantos procurem amar e outros tantos recebam de presente o amor não-correspondido. Aí a magia das relações. Não fosse assim, o mundo inteiro se resumiria a um exército de robôs a dizer eu-te-amos, entregar uns aos outros flores de plástico, fazer de perfumes alfazemas passageiras, de luz feixe que se apaga e música apenas um punhado de sons. 

Ao ouvir não, ele se entristeceu. Em seguida, pediu a seu coração que se apacientasse. Nada como o tempo para ensinar os melhores caminhos, revelar os grandes amores e guardar as melhores experiências. Mesmo assim, ele a seguiu amando porque ainda não sabe como dizer não ao que tem de mais precioso: a luz de sua alma.

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