sábado, 15 de novembro de 2008

O príncipe plebeu


Príncipe encantado num cavalo branco. Tudo com o que ela sonhou durante anos. Mas o que a encantou nessa história?


O príncipe é o início de tudo. Princípio, começo. De certo modo, também a continuidade de uma linha de pureza. O príncipe é filho da realeza, não sofreu mácula nem misturou seu sangue - ou sua alma - com sentimentos plebeus.

Caminha com segurança, impõe respeito e beleza. Montado num cavalo branco, igualmente belo e puro, ganha em agilidade e destreza. Desafia o tempo cavalgando por campos de incertezas, mas sabe que, herdeiro da coroa e, a bordo da melhor montaria, chegará são e salvo ao coração da donzela.

Que se alimenta do retorno do príncipe. Ou do sonho de conhecê-lo pela primeira vez. Na verdade, reconhecê-lo, como se já fossem preparados um para o outro, como se antes mesmo de a vida e as circunstâncias interporem seus destinos, fatalmente se encontrasem na razão mútua de existirem. A donzela não caminha senão por sonhos doces e searas límpidas. Apenas cobra que, no fim, o príncipe confirme na beleza de sua face e na alvez de seu cavalo o caminho tenro e suave que ela sempre projetou.

A grande questão não é o príncipe nem o cavalo, mas o quão "encantados" eles são, justo porque encanto é primo de feitiço. Um príncipe encantado está inevitavalmente fora de seu estado natural. Só existe em aparência até que algo ou alguém o desencante. E se for desencantado perde a graça, desanda o enredo, decepciona a pobre da donzela, que se desmancha em lágrimas. Ela nem desconfia, mas no fundo o príncipe encantado é um jogo de espelhos que reflete sua beleza e projeta seus vazios.

E como evitar o círculo vicioso? Se ela se fecha, perde contato com um universo igualmente lindo, porém mais aventureiro e perigoso. Se abre as portas do coração à realidade e abandona a idéia do príncipe, pode antecipar o sofrimento e, quem sabe, até descobrir não um príncipe, mas vários homens generosos, educados, como que meios-príncipes. Mas vai inevitavelmente sofrer. Se dará conta de que precisa completar o quebra-cabeças, juntar as peças. De repente a união é uma soma de complementos. Ele tem o que falta em mim e eu tenho o que falta nele. Nada principesco, não? 

Sem viver por ilusões e encantos, ela não deixará de cair do cavalo muitas vezes. Mas, quanto menos se cobrar o príncipe, mais força terá para tomar as rédeas do cavalo. Que, vá lá, pode nem ser tão branco, forte e veloz. Mas certamente domável. E sempre que se levantar e olhar para as cicatrizes em seu corpo, toda vez que sentir seu coração doer um pouco, terá a certeza de que aprendeu um pouco mais sobre o amor. Não se enredará tão facilmente em sonhos ingênuos ou expectativas eternas, por mais belos e tentadores que pareçam. Mesmo sem saber, estará alguns passos mais próxima da felicidade, afinal, nossa razão mais nobre de existir é tão em carne e osso quanto o sorriso ingênuo de um bebê.

2 comentários:

Priscila Figueiredo disse...

Dispensável dizer que o texto está ótimo, porque sua capacidade de escrever é inquestionável.
Ainda assim, devo dizer que esse texto foi "mais palavras" do que de costume. Confuso?
Análise crítica, bem racional, justa talvez, mas foi só isso. Às palavras, faltou densidade. São palavras e ponto.

De qualquer forma, é um ótimo texto...e essa também é apenas a MINHA opinião, não quer dizer muita coisa.

Priscila Figueiredo disse...

tem post novo lá no blog...