quarta-feira, 28 de maio de 2008

Referendo Interno

Sim, eu voto pelo desarmamento.

Desarmem-se as consciências dos preconceitos sem sentido, as famílias do falso moralismo, os conceitos engessados que se perderam no tempo, a sociedade dos pensamentos ocultos, as ofensas desumanas que não cabem dentro de cada um.

Eu voto pelo desarmamento da velha política, dos esquemas sujos que envergonham o país. Desarmem a corrupção e seus autores que nos enganam, matando nossos sonhos e assassinando ideais de um país mais justo.

Meu voto é pelo desarmamento das ruas e seus fuzis barulhentos que disparam ódio, filhos da pressa, irmãos do stress, netos de um despotismo nada esclarecido.

Desarmem-se as bandeiras que sangram de ira, as línguas que destilam inveja, os corações que pulsam mágoa. Desarmem quem insiste em abrir as veias de nossa nação, os que se fartam da falsa riqueza e da pretensa nobreza. Atear fogo no lixo da sociedade? Atirar pedras nos que já cambaleiam?

Voto pelo desarmamento dos casais. Deponham os revólveres do ciúme, as pistolas da vingança, as carabinas do rancor. Sejam suas munições beijos; os tiros, afagos; a arma, o perdão. Calibre? O amor e suas balas que penetram sem perfurar.

Desarme-se a continuidade das cruzadas, basta de novos gladiadores, chega de fogueiras e caça às bruxas. Desarmem as fantasias de super-heróis, os bandidos que só são bandidos e os mocinhos que só são mocinhos.

Meu voto é pelo desarmamento do medo, da paralisia que impregna as cidades, da desconfiança perante o desconhecido. Quantas vezes não fabricamos armas e as entregamos de bandeja nas mãos do algoz, ainda que sejam eles nós mesmos...

Eu voto sim para a franqueza, não para a hipocrisia; sim pelos direitos que sabemos impor, não pelos deveres que aceitamos adquirir.

Meu voto é duplo, jamais nulo. Sim e não. Nascimento e morte. Respeito e reverência às naturezas. A minha, a tua, a dele, a nossa, a vossa, a deles.

Ah, se me fosse lícito o voto multicor... cheio de opções pra escolher algumas, pleno de flores para abastecer minha roleta russa. E poderia distribuir tiros de bom dia, como vai, precisa de ajuda?

Sim, te ajudaria. Não, não cobraria. Apenas faria atirar pro alto rojões de felicidade sempre que a sentisse perfurar nossas almas enquanto te ofereceria deliciosas bombas de chocolate pra agradar teu dia. E se meu peito explodisse de raiva ou ruísse de tristeza, fecharia os olhos
e contaria até dez, cem, mil. O quanto fosse preciso pra me desarmar e seguir de alma lavada.

Bom seria crescer e ver bolas de tênis não mais reféns de pés escaldados pelo asfalto da metrópole. E as armas voltando a ser lápis, cadernos, livros e corações desarmados; bocas sorridentes e olhares sinceros engatilhados tão somente pra disparar felicidade aos quatro
ventos...

Ainda não podemos votar por isso. Esse referendo passa ao largo de nossa pretensa genialidade.

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