domingo, 18 de maio de 2008

Cantigas de ninar I

Versos que encantam pela sonoridade, por adormecerem nossos corpos ainda na primeira idade, mas que entram e saem por nossos ouvidos como as brisas que assopram nosso dia a dia. Por onde andam nossas cantigas de ninar?

Pouco ou raramente temos a chance na vida de refletir sobre aquele punhado de palavras ditas por nossos pais, tios ou avós. E perceber sua sabedoria ímpar, ora imersa em códigos que passam inocentes por nossos sentidos, ora bem ali em nossa frente, porém guardada num passado que não acessamos mais.

Talvez por nos ocuparamos com tantos pequenos porquês de nosso mundo sério de gente grande, cantigas virem poeira, como as que cercam os livros de infância que ano após ano jogamos fora em nossas arrumações domésticas.

Uma pena que tão cedo esses legados despretensiosos tenham sido substituídos por fórmulas e teoremas nas salas de aula da vida, omitindo-nos a contribuição de nossa cultura e de quem mais deseja o nosso bem-estar.

Hoje acordei com uma dessas músicas na cabeça. Muitos devem lembrar-se dela.

"Se essa rua, se essa rua fosse minha... eu mandava, eu mandava ladrilhar... Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante... só pra ver, só pra ver meu bem passar. Nessa rua, nessa rua tem um bosque... que se chama, que se chama solidão... Dentro dele, dentro dele mora um anjo... que roubou, que roubou meu coração. Se eu roubei, se eu roubei teu coração... tu roubaste, tu roubaste o meu também... Se eu roubei, se eu roubei teu coração... foi porque, só porque te quero bem".

Quanta coisa singela e ao mesmo tempo necessária... quantas previsões... Nas ruas que são nossas teríamos aprendido sobre limites, atalhos, responsabilidades e o cultivar para cativar. No bosque dos anjos ladrões, saberíamos que inveja, ciúme e insegurança andam lado a lado. Que possuir não é ter verdadeiramente. E, finalmente, que estar com não basta para duas almas serem irmãs e libertas.

Ainda assim, rumamos por estradas tortas, enladrilhadas de cacos mal-juntados de experiências. Não importa o quanto erramos, mas em quantas dessas vezes o fazemos com vontade de acertar.

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