quinta-feira, 7 de junho de 2007

Renato, o Destino e o Brasil

Corpo fechado, gol benzido, nada passa por Fernando Henrique. O que se esconde em cada um dos 90 minutos de agonia tricolor, de um time que pouco ataca e se arrisca na iminência de morte por detrás da linha média?

Abril despedaçado. Retirado subitamente do Vasco de Romário, Eurico Miranda e São Januário, o gaúcho mais carioca do país troca o suntuoso projeto dos 1.000 gols pela modesta ambição de voltar à casa. Acolhido generosamente pela torcida, lá estava mais um personagem do vergonhoso rebaixamento triplo em 96, 97 e 98. Jogador e aprendiz de técnico na ocasião, Renato deixara as Laranjeiras com uma dívida impagável.

Um dia, precisaria voltar. Tinha de prestar contas com o destino. Obrigava-lhe o futebol que a moral desnuda vestisse o fardo de três cores. Um clube que via o presente ruir junto com os vitrais de sua sede a cada novo vexame. Perdia o Fluminense que clamava por Renato.

De repente, lá está o Portaluppi. E onde está o tricolor cambaleante do primeiro semestre, incapaz sequer de passar às semifinais de turno no campeonato local? Aquele Fluminense pálido e minúsculo parece ficar num passado que nenhum torcedor deseja se lembrar. Empate com gols aqui, vitória magra acolá, segue o tricolor com o regulamento debaixo do braço.

Quando acordam, lá está o Flu. Algum time arrebatador? Não. Falível, frágil mesmo. Mas é para ser 2007 o ano da Copa do Brasil. Ou alguém ousa dizer, por exemplo, que esse time é melhor do que o vice-campeão de 2005? Aquele não era para ser, não estava escrito. Não tinha encanto.

Esse não joga. Arrasta-se animado senão por um destino moribundo a clamar Renato. Maior do que o presidente Horcades, maior do que o patrocinador extravagante, maior que qualquer campeonato vencido, lamentado ou expurgado. Maior do que Ivos, Paulos ou Joéis. Maior que Albertos, Dias ou as 17 contratações da diretoria.

De repente, Santa Catarina. Santo destino! Lá estavam Fluminense, Figueirense, Renato e a dívida histórica. Lá no Rio Grande, em 92, com um gol de pênalti inexistente, o Fluminense deixava escapar seu primeiro título da Copa do Brasil. Talvez por isso – e pela impossibilidade de uma revanche contra o Inter, que disputava a Libertadores – quis o destino que o título tricolor viesse exatamente do sul.

Em Florianópolis, nada passa por Roger, Thiago Silva e o Destino. Nada rompe a linha de zaga da história, que escreve, a cada segundo de resistência, uma declaração de amor a Renato. Com as mãos no rosto, o gaúcho chora o apito final. Santo reconhecimento do tempo! Agora sim, ele pode deixar a cabeça cair sobre o travesseiro e dizer: paguei minha dívida com o futebol.

Para acordar no dia seguinte e ver a imensa torcida tricolor novamente grata por sua existência.

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