terça-feira, 2 de novembro de 2004

Vendo asterisco 87 - único dono


Talvez pela obviedade anunciada, o pentacampeonato brasileiro do São Paulo está rendendo menos do que a discussão da exclusividade desses cinco títulos. A razão é simples: um dos canecos nacionais levantados pelo Flamengo não teve a chancela da CBF. Portanto, oficialmente, o tricolor do Morumbi pode se auto-proclamar único pentacampeão da história.

Pior do que ver os são-paulinos não enxergarem o óbvio (o Fla foi o legítimo campeão nacional de 87, já que venceu o campeonato disputado entre as melhores equipes do país), é perceber o desespero dos flamenguistas desfiando um rosário de argumentos em prol de suas cinco conquistas. Soa como uma briga infantil para saber quem tem o melhor brinquedo.

Sport e Guarani venceram um dos módulos daquele campeonato, organizado parte pela CBF, parte pelo Clube dos 13. Depois de 5 rodadas disputadas da Copa União - o torneio dos times de elite -, a entidade máxima do futebol brasileiro decidiu arbitrariamente mudar as regras do jogo e determinar que os finalistas enfrentassem os dois primeiros do "campeonato dos pobres" organizado por ela. E quem disse que os clubes concordaram? Simplesmente tocaram o campeonato organizado por eles próprios e proclamaram, em consenso, o Flamengo campeão de 1987. Insatisfeita, a CBF outorgou o Sport campeão e deu-lhe o direito de disputar a Taça Libertadores do ano seguinte.

Curioso que esse assunto foi sepultado pela própria entidade. Embora não reconhecendo o título rubro-negro, ela permitiu que o torneio de 1988 fosse também organizado pelos grandes clubes, inclusive com o mesmo nome: Copa União. E para qualquer um que acompanhou ou disputou aquele campeonato - inclusive adversários viscerais do Fla como Eurico Miranda, presidente do Vasco - o título foi incontestável. Uma passada rápida na súmula do jogo decisivo não deixa dúvidas: se enfrentaram duas das maiores equipes do futebol brasileiro na ocasião. De um lado Zico, Leandro, Jorginho, Bebeto, Andrade, Zinho e Renato Gaúcho. Do outro, jogadores como Taffarel e Paulo Roberto. Um espetáculo para 91.034 pagantes. É gente demais para ser enganada junta e de corpo presente.

Do mesmo modo, o Uruguai se proclama tetracampeão mundial, já que venceu as Olimpíadas de 24 e 28, quando ainda não existia Copa do Mundo. Argumento semelhante invoca o Fluminense, que reivindica o título de Campeão Brasileiro de 1970 e o Palmeiras, que ganhou um torneio internacional em 1951, em uma época que não existia Mundial Interclubes. As reivindicações são legítimas em boa parte dos casos. Se as equipes foram popularmente aclamadas como tais na época, não reconhecê-las assim é um ato de, no mínimo, descaso histórico. Surpreende é ver a mesma imprensa que cobriu os acontecimentos da época jogar querosene em fogo de palha. Pra que se esforçar tanto para ressucitar argumentos quando os fatos falam por si?

Talvez o que mais incomode os flamenguistas seja ver o título de 87 sempre pontuado por um asterisco, a apontar algo por esclarecer naquela conquista. Em um assunto polêmico e indigesto que jamais se esgotará em poucos parágrafos ou um punhado de minutos, os rubro-negros precisam ter a maturidade de se calar na certeza de que os fatos jogam a favor. É a chave para sepultar esse tipo de discussão que não deveria ir além das portas dos botequins.

Nenhum comentário: