terça-feira, 8 de julho de 2008

Joões de barro


As balas que mataram o pequeno João Roberto estilhaçam em nossa cidadania. Onde estão os que deveriam nos proteger? Aliás, onde estava alguém para parar o carro que matou outro João, o Hélio, há um ano atrás? Diante das balas e dos carros que não param, paramos nós.

Por que balas matam? Alguém ainda se lembra que, em 2005, tivemos a chance de pôr um basta nesse falso moralismo de que cidadãos de bem precisam andar armados? Bastava um dedo. E não era no gatilho. Mas as armas ganharam de goleada, quase 65% dos votos. E seguimos podendo matar por legítima defesa e morrer por ilegítima ignorância.

Se optamos por dar armas a quem deveria desarmar, é hora de refletir. Onde começam as armas nossas de cada dia?
Da mesma sociedade que dispara ódio, pressa e intolerância? De bandeiras que sangram ira, línguas que destilam inveja e corações que pulsam mágoa?

Quando essa sociedade vai deixar de passar indiferente pelos que clamam honestamente sua atenção? Ah, mas isso é problema do Estado... Que Estado? Na democracia, o estado somos nós. Se ele é falho, falhamos nós que o escolhemos ou não cobramos dele o que nos é de direito. Revolta silenciosa não basta. É preciso - e legítimo - agir.

Será que nossos bandidos não começam nas fantasias infantis de super-heróis, quando aprendemos (?) que bandidos só são bandidos e mocinhos só são mocinhos? Crescemos e, em vez da liberdade, somos apresentados a um cárcere diário. Vivemos sob o império do medo, e aí a paralisia já nos torna desconfiantes e defensivos perante o desconhecido. Deixamos de ser altruístas, generosos, comunitários. Aliás, algum de nós já deu hoje um simples bom dia que seja?

Não devemos perder a esperança nem a dignidade. Sobretudo a sensibilidade. Ver um país que chamamos de nosso
mais humano não pode ser utopia. Nele, armas voltam a ser lápis, cadernos, livros e corações desarmados; bocas sorridentes e olhares sinceros estão engatilhados tão somente pra disparar felicidade aos quatro ventos. Em nome de Joões, Daniéis e Isabellas, que não merecem ter a sorte selada numa roleta-russa qualquer.

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