quinta-feira, 5 de abril de 2007

Os vira-latas e o gênio da 11

Existe uma teoria bastante interessante sobre a supremacia brasileira no futebol mundial. Ela dá conta de que só somos os donos da bola porque perdemos a final mais ganha de todas as Copas.

De fato, o Mundial de 50 foi esculpido sob medida para o país-sede. Enchemos os estádios, goleamos os adversários, até saímos na frente dos uruguaios na final. Mas dizem que não estávamos preparados para sair aclamados como vencedores.

Humilhada pelo ego inflado brasileiro, a Celeste Olímpica buscou uma virada improvável que silenciou 200 mil vozes no Maracanã. Não que os uruguaios tivessem feito uma exibição de gala naquele 16 de julho de 1950, mas o desdém que sofreram antes da partida os transformou subitamente em guerreiros. Encaravam cada dividida com a volúpia de um faminto diante do prato de comida. Assim protagonizaram a maior tragédia do esporte nacional.

Oito anos depois, caminhávamos para a Suécia em busca do título perdido, e o sábio Nélson Rodrigues diagnosticava, com precisão: “...somos, em geral, franzinos, mirrados, fraquinhos, de uma pobreza de músculos lastimável. (...) fisicamente falando, uma verdadeira miséria. Moles, bambos, murchos, tristes - uma lástima! Pálpebras caídas, beiços caídos, braços caídos, um caimento generalizado que faz de nós um ser desengonçado, bisonho, indolente, com ar de quem repete, desenxabido e encolhido, a frase pulha que se tornou popular: Me deixa”

Pois foi assim que trataram o Botafogo no domingo e o Gama na quarta. Que eram simples coadjuvantes do milésimo gol de Romário, tudo bem. O problema é não ter sido sequer levantada a possibilidade de essas equipes evitarem a fatalidade posta. Não só conseguiram isso, como roubaram o papel principal de vitoriosos.

Logo após a conquista do primeiro Mundial pelo Brasil, em 1958, o mesmo Nelson Rodrigues decretava o fim do 'complexo de vira-lata':

"Já ninguém mais tem vergonha da sua condição nacional. E as moças na rua, as datilógrafas, as comerciárias, as colegiais, andam pelas calçadas com um charme de Joana d’Arc. O povo já não se julga mais um vira-latas. (...) A partir do título mundial, começamos a achar que a nossa tristeza é uma piada fracassada. Afirmava-se também que éramos feios. Mentira! (...) Na pior das hipóteses, somos uns ex-buchos."

Como diria aquele comercial, ser o patinho feio não tem preço. Calar um estádio, desmentir a unanimidade burra é feito que nenhum troféu paga. Ou há coisa melhor do que correr livre pela imensidão das vozes constrangidas e dizer de peito aberto: eu já sabia - ainda que nós mesmos lá no fundo duvidassemos de nossa capacidade?

O Vasco também é vítima da grandeza de Romário. O elenco inteiro cruzmaltino não chega aos pés da imponência do milésimo gol. Aliás, poderiam juntar todos os gols dos outros jogadores que não chegariam à marca de 500. Hoje não seria exagero dizer que um Romário não vale meio Vasco.

Aí está o divã cruzmaltino: se joga em função de Romário, o time vira um falso Golias, pronto a despertar a ira dos ultrajados Davis. Se cai na real e não dá bola para o Baixinho, deixa evidente suas limitações técnicas e se transforma em presa fácil.

De qualquer modo, é bom os comandados de Renato abrirem o olho. Romário está a um capítulo de dar as costas para o Vasco e aposentar de vez a camisa 11, deixando milhões de corações órfãos de uma nau sem rumo.

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Abaixo, os melhores momentos de Vasco 1 x 2 Gama/DF, no Maracanã, pela segunda fase da Copa do Brasil 2007. As imagens são do canal a cabo Sportv e a narração de Milton Leite, com comentários de Paulo César Vasconcelos.


Agora, o que aconteceu de melhor em Botafogo 2 x 0 Vasco, pela quarta rodada da Taça Rio 2007. As imagens são do canal de TV a cabo Sportv, com narração de Roby Porto e os comentários de Alex Escobar.

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