sexta-feira, 4 de maio de 2007

Peixes fora d'água


Enquanto os organizadores do Pan-americano comemoram o sucesso de vendas para as provas de natação, são justamente as estrelas do espetáculo que têm motivo para reclamar. Ao fim das provas válidas pelo Troféu Maria Lenk de natação, as vozes dos classificados para o maior evento das Américas são uníssonas ao dividir a alegria da vaga com a decepção de não poder ver seus familiares nas arquibancadas.

A história contada é sempre a mesma: pais, esposas, maridos e amigos tentam o dia todo, viram a madrugada em busca de entradas mas, infelizmente, não conseguem. Todos os ingressos já estão esgotados.

Nada de muito alarmante se as entradas tivessem, de fato, sido compradas. Que foram vendidas todos já sabem, mas há uma contradição virtual que as vendas pela Internet mascaram: boa parte delas não foi parar nas mãos de compradores reais.

São os próprios atletas que denunciam, num tom que beira a ingenuidade: ficaram nas mãos dos cambistas. Resumindo, haverá ingresso para quem resolver molhar a mão dos atravessadores. Os que tentarem o caminho da legalidade ficarão a ver navios. Melhor, não verão é nada.

Curioso ouvir dos classificados, candidatos a heróis das piscinas do Pan, a mesma história: ainda têm esperança de que seus parentes vejam as provas, pois haverá bilhetes nas mãos dos cambistas. Não é mentira, amigos. Este que vos fala ouviu de, pelo menos, três deles. Isso no calor da conquista, logo após saírem da piscina.

O que o comitê organizador dos jogos deve achar disso? É verdade que não podem coibir a ação de cambistas por completo, afinal até nas Copas do Mundo e Olimpíadas eles fazem a festa. Tampouco são capazes de criar vagas que não vão existir no Complexo da Natação, em Jacarepaguá. O que podem - e devem - é garantir aos pais e familiares próximos dos atletas lugar cativo nas tribunas vips, espaços reservados aos presidentes de federações e confederações, além de personalidades influentes no esporte e na política.

Porque vai pegar muito mal para a imagem da organização ouvir da boca dos próprios atletas que eles não puderam comemorar a vitória com seus parentes in loco, enquanto os vendedores de última hora se deliciam na farra da agiotagem e vão dormir com o bolso cheio de dinheiro em uma festa que, definitivamente, não foi preparada por eles nem para eles.

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