sexta-feira, 4 de maio de 2007

Nana, neném...

A música mais sinistra que ouvi em minha existência perfurou meus orifícios auriculares pouco depois de nascer. "Nana, neném / Que a Cuca vem pegar / Papai foi pra roça e mamãe foi trabalhar".

Ora bolas! Quem é Cuca? Por que esta criatura vem pegar o pobre do neném indefeso? E o que fazer sob o gesto hipnótico e cínico da mamãe quando o pai e a mãe se foram (aliás, se a mãe se foi, quem é este vulto que fala comigo?)? Sem estrutura física nem arcabouço psicológico adequado para me defender, só me restava dormir.

Nunca soube quem era Cuca. Sempre
achei que fosse um monstro pronto a me devorar ao abrir os olhos. Por isso, encarava as escadas de olhos fechados, desbravando os ambientes na base da expertise tátil. Isso até, vinte e tantos anos depois, ele cair de pára-quedas no meu time como treinador. Pesquisei daqui e dali para descobrir que meu novo guru tinha um incômodo estigma: era um perdedor nato.

Na verdade, ao me deparar com o Cuca que me apresentaram, cheguei até a nutrir certa empatia por ele. Descobri que se tratava de um sujeito normal, simpático, só que um pouco cheio de nóias para o meu gosto.

Quando os microfones se aproximavam dele, fazia caras e bocas, como se lhe estivessem apresentando metralhadoras prontas a fuzilá-lo. Mas que decepção! Meu algoz infantil tremia diante de adversários inofensivos... Precisaria ele de um divã?

Pois puseram um urubu monstruoso para meu pobre comandante abater!

Então, lá foi Cuca, terror do passado e candidato a herói do presente para sua missão quixotesca: botar fogo num gigante urubu falastrão. Exército listrado a postos, véspera da batalha decisiva, começa o bravo comandante a falar: olha... bom... você, aí (apontando o indicador com a mão direita, enquanto coça a nuca com a mão esquerda franzindo a testa) Zé, você acompanha o Léo. Alessandro, não deixa o Juan jogar. Lúcio, faz o de sempre e... que vença o melhor... bom, que sejamos nós os melhores... Vamos tentar, combinado?

A fisionomia dos comandados é tensa. Todos se entreolham eivados de desconfiança e sobem as escadas que dão para a arena. Hora de decidir! E nada sai como o esperado...

O urubu falastrão se agiganta e não pára de falar. Dá dois vôos rasantes e mortais. O exército listrado se entreolha novamente e não sabe o que fazer.
Sob os olhares de Cuca, sem papai nem mamãe para socorrer, é matar ou morrer. O que fazer? Chorar e nanar, que a Cuca não é de nada, e urubu que é bom, ninguém sabe matar.

3 comentários:

Unknown disse...

hehehe
gostei.
falta cuca nesse cuca..
bjs!

A Diretoria disse...

nao achei culpa dele... muito legal o texto, mas peço licença para discordar. o cuca é o melhor que podemos ter. abraço!

Rafa Barros disse...

Ele teve 7 dias para treinar uma situação previsível: o joel lançar mão de 4 atacantes. Não preparou o time para isso. Ao contrário, treinou pênaltis exaustivamente. Aconteceu igualzinho ao segundo tempo do primeiro jogo. Nas entrevistas, revelou insegurança e complexo de perseguição, como se os jornalistas tivessem em suas perguntas armadilhas para ele se desvencilhar. Enfim, se limitou a fazer coletivos e, o mais importante de tudo, não conseguiu passar tenacidade e atitude para os jogadores. Eles entraram em campo dispersos. A entrevista do Lúcio Flávio no intervalo é a de um jogador disperso. Não foi só uma questão de elenco, mas de o técnico não ter sabido anular uma opção óbvia do adversário, ao contrário, anulando seu próprio meia-esquerda, transformando-o em um lateral improvisado que não só não produziu como proporcionou diversos contra-ataques. Faltou coragem ao comandante e aos comandados. Para ser campeão é preciso algo mais do que ter a melhor campanha.