quinta-feira, 3 de maio de 2007

Tapar o sol com o sombrero


Acabo de assistir a Diários de Motocicleta. Para quem não viu até hoje (caso deste que vos fala - o filme é de 2004!), o filme de Walter Salles narra a aventura de Ernesto "Che" Guevara pelas estradas e povoados da Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela e Peru. Isso antes de fazer a revolução em Cuba, diga-se de passagem.

Um dos grandes momentos da história se dá quando Che faz um discurso de improviso. Diz que a América é uma só, do estreito de Magalhães (sul da Argentina) ao México.

Lembrei-me do regulamento da Libertadores da América, que segrega as equipes mexicanas. Caso uma delas chegue à final contra times de outros países, rezam as letras tortas da Conmebol que devem jogar a decisão fora de casa. A Confederação Sul-Americana alega que os mexicanos são convidados - e nisso tem razão -, proibindo, inclusive, que um mexicano garanta vaga no Mundial de Clubes da Fifa caso vença o torneio.

Apesar de o nome sugerir a integração das Américas, o torneio foi feito apenas para os sul-americanos. Acontece que, não é de hoje, nossos hermanos do norte estão isolados no futebol do continente. Jogam um futebol redondo demais para disputarem com as babas da América Central e do Norte. A solução tem sido o improviso político, a despeito da aberração geográfica. Há 15 anos disputam regularmente as competições entre seleções organizadas para países daqui. Mais do que isso: invariavelmente chegam às finais.

A última copa Sul-Americana foi vencida pelo Pachuca, do México. Pela primeira vez um time mexicano melou a festa dos anfitriões do Cone Sul. E ameaçam repetir o estrago. Esse ano, todas as equipes deles inscritas na Libertadores avançaram à segunda fase, feito que nem brasileiros nem argentinos conseguiram. Será que não é hora de acabar com a hipocrisia e chamar de vez os falsos penetras para a festa?

A Austrália cansou de bater nos irmãos mais fracos da Oceania e pediu desfiliação da confederação de lá. Com o aval da Fifa e uma boa dose de bom-senso se juntaram às seleções da Ásia. Desde o ano passado, disputam as eliminatórias para a Copa contra equipes asiáticas, o mesmo valendo para os torneios interclubes. Nada mais justo.

Como a Fifa lava as mãos para a questão, o jeito seria esperar a boa vontade mexicana. Só que isso significaria jogarem fora a vaga mais fácil para a Copa, já que disputam a chance de ir ao mundial com gigantes do futebol como Trinidad & Tobago, Jamaica, Costa Rica e Estados Unidos. Por aqui, teriam de medir forças com Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai. Aí o buraco no mapa seria, literalmente, mais embaixo.

Vamos ver, então, até quando o México sustentará o papel da amante latino-americana, sempre disposta a apimentar os torneios daqui. Tudo isso sabendo que, no fim das contas, vai pegar o saco e o sombrero e rumar para o norte, de onde verá hermanos menos competentes ganharem as vagas que lhe são de direito - mas não de fato.

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