quarta-feira, 28 de março de 2007

O destino é de papel

É provável que o Maracanã não veja mais uma exibição como aquela de Waldirgly Bezerra Lima. Consagrado Valdir pela simplicidade de nosso léxico e destruído pelo imediatismo de nossa cultura, o atacante ainda não consegue realizar o solo executado em três cores diante de um perplexo estádio alvinegro.

Há pouco menos de um ano, naquele mesmo palco, Valdir vira um sonho se transformar em papel picado. A falta desleal, quase ingênua, o rebaixara à categoria dos humanos que não sabem errar. O cartão vermelho sacado impiedosamente pelo árbitro consumou o inferno astral de Valdir.

Maior do Mundo pelo simbolismo, o estádio Jornalista Mário Filho não merecia aquele espírito pobre na grande final entre Vasco e Flamengo. Como o time da distinta colônia portuguesa também não poderia tolerar tal insanidade - ainda mais numa partida contra o maior rival -, Valdir saiu de cena. Demitido, vagou durante seis meses por uma consciência atordoada, aguardando pacientemente que o destino lhe ofertasse outro papel.



Nessa quarta, ele teve de decidir. Acossado pelo zagueiro botafoguense, e diante do goleiro que crescia a cada décimo de segundo, o agora atacante do Madureira resolveu arriscar. Raspou a bola sutilmente, esperando que, ao tocá-la por cima do adversário, pudesse também encobrir o passado. Um instante mais tarde, corria contra o vento para abraçar o destino e celebrar uma dádiva concedida a poucos: a chance de reescrever, no mesmo solo do fracasso, a vitória incontestável sobre o destino.


O próprio Valdir sabe melhor do que ninguém: dificilmente jogará como ontem. É o que menos importa. O presente desse cearense agora está embrulhado em papel reluzente - talvez frágil. Mas o que mesmo é firme no esporte jogado sobre esse solo intempestivo forrado de grama?
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Abaixo, os melhores momentos de Botafogo 2 x 2 Madureira, pela primeira rodada do Grupo A da Taça Guanabara de 2007. As imagens são do canal a cabo Sportv e a narração de Roby Porto, com reportagem de Kiko Menezes.

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