quarta-feira, 28 de março de 2007

O dia em que O Mestre (quase) falhou

Pelo jeito quiseram os deuses do futebol ajudar novamente os quatro cariocas em uma mesma rodada, mas se esqueceram de um detalhe: havia um confronto direto entre dois deles.

Após constatar que o Botafogo estava vencendo uma equipe do Rio por imprudência dos terráquios, o Mestre tratou de arrumar as coisas para virar o jogo.
Botou na cabeça do cauteloso técnico alvinegro que seria preciso sacar o lateral-esquerdo no intervalo, pois o atleta estava pendurado e outro cartão seria fatal. Foi a senha pra agir sobre o reserva da posição que, contundido, saiu minutos depois sem ver sequer a cor da redonda. Aberta a avenida naquele setor ordenou o Mestre: ataquem pela direita e a Justiça Divina será cumprida!
Então, inspirou a prancheta mágica do velho Natalino, que tratou de fazer a manobra tática. Mas como perdia gols aquele ataque! E como deixava a desejar a defesa!

Eis que o mestre constatou: só havia uma maneira de resolver tudo e era por meio da bola parada, sem adversário que não um solitário goleiro amedrontado por nunca não ter sofrido gols como profissional. O meio-campo rubro-negro cumpriu na Terra o
desígnio divino. Mas o empate não servia e seria preciso o gol da virada. Prevendo a incompetência dos súditos, o Homem interveio diretamente: num encontrão despretensioso pela linha de fundo a bola passou debaixo das pernas do goleiro e bateu na do outro lateral alvinegro antes de beijar as redes. Depois veio mais um, lá pela direita, pra confirmar que o caminho era mesmo por ali.

Terminada a rodada, Heleno, Didi e Garrincha perceberam a "besteira" que o Mestre havia feito e foram cobrar-lhe explicações. Ele, com a tranqüilidade e sabedoria que lhe são peculiares sentenciou: fiz bem. Ajudei a todos os cariocas.

Didi, elegantemente, ponderou:
- Mas como, Mestre? O Botafogo também é carioca. E estou preocupado com o jogo do Fluminense daqui a pouco, vai que dá errado também... Aí é que o futebol do Rio volta pro brejo.

Com voz imponente, mas generosa, o Mestre esclareceu:

- Não houve erro. O Fluminense vencerá e não precisarei mais me preocupar com ele, como tenho feito nas últimas rodadas. Deixará de ser carioca pra libertar as Américas.

Sem entender a resposta, Garrincha insistiu com o Mestre,
que, desta vez, foi enfático:

- Eterna criança, quantos séculos serão precisos para você entender que o Botafogo não é um time carioca? Trata-se de uma solitária estrela eternamente à procura de espaço, prova concreta da teoria de Einstein: sequer o tempo absoluto existe pra ele. É uma das poucas a qual concedo livre trânsito pelos buracos negros e nebulosas, que cai e sobe ao sabor dos ventos, mais reconhecida pela sua história e reverenciada em outras cidades e países do que no próprio bairro que leva seu nome. Não te recordas, Pássaro?

Cabisbaixos, os três guardiões alvinegros foram assistir ao jogo do Fluminense pra confirmar o que o Mestre havia dito. Lá pelas tantas, o elegante Heleno se levanta aos brados:
- O Mestre não percebe o que está fazendo! A vitória do Fluminense o leva às Américas mas sela um cruel destino à simpática equipe catarinense. E ainda por cima alvinegra! Coitado de Santa Catarina, já teve o duplo infortúnio de ver o Criciúma rebaixado pras séries B e C. Isso sem contar o Joinville!

Antes que completasse, interveio o Mestre:

- Paciência, alguém tem de perder para que haja um vitorioso. Se esqueceram da parábola da Figueira que secou? E agradeça porque hoje os santos não estão de bom humor. E pergunte ao seu amigo aí do lado como o sete é um número poderoso.

Bastou pra que Mestre e discípulos se entendessem, enquanto assistiam
à fúria cega de quem deveria acalmar a estrela em momentos conturbados
como esse. Mas há coisas que só acontecem mesmo ao Botafogo...

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