quinta-feira, 1 de março de 2007

Sofrimento e sabedoria


O Botafogo é um time quase-grande e sua torcida deve se orgulhar disso.

Exceto pelo surto de grandiosidade de meados da década de 90, o alvinegro perdia em campo e fora dele, sofria sem títulos e via sua torcida diminuir ano após ano. Por isso, caminhava a passos largos para ser um ex-time grande, relegado às páginas amareladas da história.

Pois em meia década à frente do clube, Bebeto de Freitas transformou uma instituição que não ganhava quase nada em uma que quase ganha tudo. Cuca fez o mesmo em um ano e meio. O Botafogo era caricatura de time grande. Hoje, é clube vencedor.

Mas ainda pensa adolescente e paga por isso. Acaba de deixar uma primeira infância mimada, cheia de craques e títulos e uma pré-adolescência conturbada, em que ficou por quase 40 anos órfão de sua história gloriosa. De repente, vitórias e títulos voltam e ele se descobre quase pronto para adentrar a fase adulta, repleto de traumas, alegrias e incertezas. Falta pouco para ser gente grande, mas falta.

Prova disso é o destempero alvinegro após a derrota na Taça Guanabara para o Flamengo. Prova disso é a frase exaustivamente repetida a cada bola na trave, a cada campeonato perdido no último minuto, no último detalhe. Ou o complexo de perseguição que acomete o clube contra o aqui e o além, exaustivamente relembrado no "há coisas que só acontecem ao Botafogo".

Mais do que infantil, é paradoxal. De um lado, o time que perde um turno de campeonato em 10 minutos, o que chora a suposta perseguição da arbitragem, o que lamenta sua história de infortúnios. De outro, o clube do estádio novinho em folha, e por falar em folha, com a folha salarial absolutamente em dia. Com centro de treinamento, torcida cada vez maior - fruto da boa fase dos anos 90 - e mais presente aos campos. O que o Botafogo quer mais? Vitórias? Não faltam. Títulos? Campeão de pelo menos um torneio em 1995, 1996, 1997, 1998, 2006 e 2007. Vice em 1999, 2002 e 2008.

Ah, mas vice não é título... Pois bem. Será que os alvinegros já pararam pra pensar que concorrem na mesma cidade quatro equipes tão grandes quanto ele? Que lugares do mundo podem se dar ao luxo de tanto clube de expressão por metro quadrado? Buenos Aires? Londres? Mais alguma?

Mas adolescência é isso. O permanente confronto interno entre a criança que não quer morrer e o adulto que deseja ser ouvido. Enquanto não passar por seu divã existencial, o clube da estrela solitária vagará pelos campos da fragilidade (in)consciente, a influenciar dribles, chutes, cabeçadas, declarações e comportamento de dirigentes, técnicos, jogadores e torcedores. Até lá, não precisam se ressentir do choro, afinal, quantos de nós não têm de derramar lágrimas para crescer.

Só que, para ser grande como seus pares, o alvinegro vai precisar aprender a lição: sentir a dor sem lamentar é sofrer com sabedoria.

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